Thursday, February 09, 2006

Pseudo-Amor?

Aconselho vivamente o filme A DAMA DE HONOR (La demoiselle d'honneur), dirigido por Claude Chabrol, de 2004, Duração de 110 min (Género: Thriller, drama.Interpretação de Benoît Magimel (Philippe), Laura Smet (Senta), etc.)

Talvez retrate um extremo do que não estamos habituados na sociedadezita em que vivemos - o amor obcessivo, que precisa de provas (até ao ponto de matar alguém!). Por outro lado, mostra uma mulher segura, independente, obcessiva, decidida, com teorias muito próprias e filosofias de vida muito aproximadas das minhas, daí que me identifique também.

Esta obra deixa-me a pensar o que é preciso para provar que se ama - dizer? Mostrar? Oferecer prendas? Elogiar? Arquitectar uma estratégia de prova válida? É costume dizer que toda a gente tem um preço. É costume dizer que todos mataríamos pelo motivo certo? Mataríamos como prova de amor? Ou cingimos a morte a catarse de estados de fúria? Os estados de euforia e alegria por amar são visto patológicos?


"Ai, que 'tou consumida"

São os eruditos os que mais dificultam a própria linguagem e comunicação. Estou em desatino, cansada, esgotada, em burn-out e, desesperadamente em busca de uma outra qualquer erudita e esclarecedora expressão lembrei-me de uma senhora dos seus 60 anos que costumava ir à loja da minha avó e que punha as coisas de uma forma tão perfeita, "Ai, 'tou consumida". Realmente, sinto-me consumida, algo me consome e não sei o que é. Consome-me de dentro para fora, apesar de saber perfeitamente que se nota de fora e que há explicações exteriores para esta consumição interna.
Nada me satisfaz, nada me motiva. As coisas que me motivam não pagam as contas: escrever, cantar e ser cinéfila obcessiva. Alguém me dá uma pista de como fazer dinheiro com estes interesses?

Monday, February 06, 2006

Morrer

Se uma pessoa quer morrer porque acha que já não tem mais nada a fazer aqui: se tem 28 anos é um inconsciente suicida, sem tem 82 anos é sábio e sensato.

Sunday, February 05, 2006

Pseudo-estranha

Estou num dia “Odeio”. O que já é normal. Odeio, calmamente, tudo à minha volta e a única coisa que eventualmente me poderia agradar era que me deixassem odiar, sem questões abundantes de falsa condescendência do género “está tudo bem?”, blá, blá, blá."
Estou com (algumas) pessoas de quem não gosto usualmente e com (algumas) que não gosto hoje. Num sítio que não gosto, a fazer algo que não gosto, mas por imperativo sociais preciso de aqui estar. “One of those nights”.
Para conseguir escrever tive de revirar a carteira até encontrar as costas de uma folha velha e cá escrevo, “à la pate”. Não é um daqueles dias que escrevo porque não tenho mais nada que fazer, mas sim um daqueles em que escrevo porque tenho mesmo de escrever!
Não sei bem para quê.
Estou a transformar-me numa pessoa que tem mania que é estranha. Dou uma passa no cigarro e olho, de baixo para cima, por entre a franja do cabelo, enquanto largo o fumo para o mundo.
Bebo coisas estranhas tipo pisang simples, vou sozinha ver filmes de culto e fico com aquele ar desejável de intelectualóide que percebe da coisa. Faço questão de ser eu a pôr gasolina no meu carro e mais ninguém, e os senhores da bomba ficam com os olhos em bico ao ver uma gaja entrar para pagar sózinha às 4 da matina. Vou a bares sozinha ver como os outros lá vão em grupo.
Passo horas a olhar para obras do Rene Magritte.
Sou viciada em comprar em lojas asiáticas e transformar as coisas.
E nunca quis morrer tanto, ou nunca quis tanto morrer. Só quem aprecia a vida a 100, pode desejar a morte tanto, não? Não há dia que não pense nela e quem não a ame profundamente, como à vida. Penso e não a temo, espero-a.
Como se fosse o derradeiro desafio da vida - viver a morte. Como se só a morte lhe desse sentido. É, acho que estou a ficar pseudo-estranha.

O Trabalho começou.

Cada vez gosto menos do trabalho e de quem gosta dele e de quem o inventou e de quem se lembrou de o tornar comum pelo planeta fora.
Não podíamos ter ficado nas nossa quintinhas a plantar couves e batatas, e fazer os bebés e a gozar a natureza? What’s the point? Para que raio querem as pessoas o trabalho? Deve servir um propósito importante na vida que é: ter algo do que se queixar.
Sim, este é o propósito de uma grande parte das pessoas. Então, o que fazes nos teus tempos livres? "Olha, trato da casa, dos filhos, e ...ah, queixo-me do trabalho. Sento-me ali na mesa do café, umas horitas e falo mal do chefe, do antónio e do manuel, e gabo-me dos piropos que mandei durante o dia.
Sim, este tipo de actividade na qual incorro ajuda-me a lidar com as efemérides da via, a aumentar a minha auto-estima e a aguentar ter de viver os dias seguintes até à minha morte. Olha, vai começar o jogo."

Beijo

Chegaste e foste E disseste: deixamos isto para depois. O depois parecia nunca mais chegar, E quanto mais queria que tu chegasses Mais tu partias. Um beijo não se deixa para depois.
 Porque o depois pode não deixar. O beijo pode partir antes de tu sequer chegares.

Os cabritinhos das marcas

Os cabritinhos das marcas

Todos queremos ser diferentes. Irreverentes, rebeldes, demarcarmo-nos de todos os outros. Sermos originais. Para tal, fazemos das coisas mais estúpidas que nos podiam vir à cabeça, por exemplo, escrever este blog. Mas há outras formas. Não vou enumerá-las nem discuti-las, mas fora os cabritinhos da moda, os cabritinhos-sacoor e as cabritinhas-lanidor, todos nós tentamos marcar pela diferença.
Os cabritinhos das marcas acham que são diferentes por serem cabritinhos das marcas, méeee méee, eu vou no meu rebanho mas sou diferente do rebanho que vem atrás!
Eu também sou uma cabritinha, uma cabritinha dos saldos, uma fiel seguidora das baixas. Eu sou tão cabritinha dos saldos que quando olho para um símbolo % na máquina de calcular já fico com o coração aos saltos.
Depois de comprar arranco as etiquetas, para ser diferente do rebanho.
Podemos chegar a muitos extremos para sermos diferentes e originais, o problema é que nos esforçarmos e esquecemos que JÁ somos diferentes, originais e únicos! Já somos quem devíamos ser! Não precisamos correr mais atrás da originalidade, porque ela esta cá dentro! Sempre esteve.

Friday, February 03, 2006

Odeio "putos"

Anatomia do berro

As crianças são berrentas e birrentas.
Elas correm, saltam, brincam,
Aparentando felicidade,
Mas na verdade,
Tudo são gritos.
Não posso com guinchos.
Porque não são calmas? Porquê?
Os berros percorrem o ouvido,
Massajam-no brutalmente,
Até eu perder o equilíbrio!
A minha cartilagem endurece,
O cerume é violentado
E aquele som da gritaria
Entra pelo labirinto
Para ser decifrado,
Mas afinal... são só berros.
São gritos.
Martelo, bigorna e estribo
Abanam-se todos,
E sinto o meu corpo a tontear!
Tenho de me afastar!
Vou para longe.
Oh, ao longe quem diria!
Tudo parece mais belo….
Ah, os gritos, que invadem o ceú e
Se desfazem nas nuvens!
Que vozes, que sons, que timbres belos
Atingem as crianças!
Estravazam as suas pequeninas almas
E elevam-se à nuvem mais harmónica.
Correm, saltam, brincam
Os sublimes rebentos
Com estratégica distância,
Não são nada berrentos!

De volta à Paixão

De volta à paixão, como já há muitos anos não estava. Já não sabia como era, e mesmo assim lembrava-me das parecenças com o ódio. Claro que se gosta de estar apaixonado, de ser corroído como um ácido que destrói a vidita normal da gente normal que tentamos não ser todos os dias. Queremos ser diferentes e, o mais estúpido é que achamos que conseguimos. Temos a mania que conseguimos. Saímo-nos com aquelas frases estúpidas que só fica bem dizer "eu não vejo televisão, prefiro ler um bom livro", "vou hoje a um concerto de jazz", bla, bla bla. A paixão transforma-nos em seres burros, que se descartam e fogem, que se refugiam em desculpas paranóicas, que criam máscaras para agradar ao novo apaixonado. Quando apaixonados, não sabemos nunca bem quem somos na realidade, pois estamos constantemente a tentar provocar algo, a tentar agradar compulsivamente. Só num estado não patológico e cheio de taquicardias conseguimos ser autênticos. Não posso dizer que odeio a paixão, mas posso dizer que odeio o seu impacto, a sensação de burrice que me dá.