Monday, April 15, 2013

Revisitar “O Advogado do Diabo”


Como cinéfila incurável, já havia visionado o Filme “O Advogado do Diabo” pelo menos duas vezes. Vi-o da perspectiva cinéfila, pelo excelente desempenho do fabuloso Al Pacino. Na altura, pesava ter entendido as profundas metáforas (às vezes mais diretas do que metáforas!), mas só agora, muitos anos depois a revisita-lo, é que o percebi profundamente.
As pessoas nem sempre se identificam com as personagens, pois os filmes são muitas vezes hiperbolizados.
Mas é simples, como o Diabo diz, ou Satanás que é um título mais elegante “Eu venci nitidamente o século XX, não se nota?”. Sim, nota-se, e o século XXI também esta a ser ganho por ele.
Agora, os humanos aprenderam a ser mais subtis. As guerras dão muito trabalho, demoram muito.
A guerra agora é psicológica e social. É manipuladora. É ganhar as massas pela vaidade. Como diz o Diabo também, “A vaidade é o meu pecado preferido”, e é sempre através dela que ele obtém o que quer.
Um advogado íntegro, justo, transforma-se rapidamente num tubarão de poder. Muitos de nós, humanos, vemos o filme como filme e pensamos que nunca chegaremos lá, mas infelizmente eu vejo humanos a chegar la todos os dias.
Se não, vejam. O Que o Keanu Reeves faz é simplesmente seguir-se pela sede de uma boa casa, bons fatos, bons escritórios e ganhar sempre, sempre que possível e sempre mais (ganhar casos, ganhar dinheiro, etc.). Posto assim não parece muito grave, pois parece se o que toda a gente quer. Depois, é só abandonar a nossa personalidade de base, as pessoas que se ama e deixar que a vaidade entre o reto do caminho.
É um pequeno passo, apesar de parecer grande.
E o próprio diabo diz-lhe “Mas tua amas a tua esposa…então vai, vai estar com ela…”. Mas mesmo assim o Keanu não vai.
Rapidamente o poder e o ego enchem-no e, como se se tratasse de uma panela de pressão, o ego lá dentro não quer saber de nada mais do que se passa cá fora. Uma pessoa centrada e calma, facilmente começa a aceitar entrar em conflitos, em confrontos, porque acha que os pode ganhar, que os quer ganhar e isso passa a defini-lo. Começa a instalar-se a agressividade (no caso do Keanu é apenas verbal, mas não deixa de ser grave).
Muito simplesmente os restantes passos fluem: uma vida cheia de dinheiro não se pode perder. Mais vale deixar os princípios para trás, a família, a esposa e os sonhos antigos que, no fundo, já não interessam porque já temos tudo o que preenche a panela de pressão.
A panela já está cheia de ego, de poder, de dinheiro e acima de tudo de vaidade. Vaidade fica perto do reconhecimento, mas é mais acima. Vaidade é achar-se o melhor, sem a menor dúvida. Na panela já não cabe auto-crítica, não cabe reflexão, não cabe amor, não cabe dúvida, porque a panela já está preenchida com ganância, dinheiro, vaidade e poder. O que dantes se considerava errado, agora é possível, pois quando se tem algum poder, tudo é manipulável, tudo é obtido (seja subornar alguém, não devolver o que não é nosso, passar à frente numa fila , etc.).
Enfim, tudo ganhou outra perspetiva. Só quando o Keanu perde quem ama (ou amava), atinge. Mas para muitas pessoas nem isso é suficiente, porque quando a panela está cheia…também não há espaço para repensar, reformular, reorganizar, mudar, voltar atrás, ter coragem de…qualquer coisa. Porque a panela já está cheia…logo, não há espaço…percebem, né?
E este é o nosso século XXI. O da vaidade. O dos gourmets, o dos carros que custam mais que casas, a febre do dinheiro, uns bons sapatos, um bom fato, vender a alma ao diabo por um salário astronómico.
E é o tempo do tudo ou nada. Ouça muitas vezes as pessoas dizerem que querem o melhor ou nada. Se a geração anterior tivesse pensado assim, muitos de nós tínhamos crescido sem nada.
Quem não tem dinheiro, deseja-o tão profundamente que é capaz de (preencham o que espaço…), quem já o tem agarra-se de tal forma que é capaz de (preencham o espaço…). E algures no meio disso, o Keanu perdeu-se a ele próprio…
Esta será a nova guerra psicológica. E afinal é tão fácil por os seres humanos nesta situação. É mais fácil do que o que pensamos.
Serei uma idealista? Talvez. Mesmo com a minha panela cheia de dinheiro e vaidade, chegou a um ponto que fui capaz de parar para reavaliar a panela e esvaziá-la e voltar a enchê-la. Será que me vai acontecer a mim? Não sei. Pelo menos, ainda tenho algum espaço na minha panela de pressão para a auto-crítica.
E a sua panela de pressão? Como está?