Thursday, February 25, 2010

A Escrita e o Haiku

A minha escrita tem sido cada vez mais adiada mas não esquecida. cada vez que leio algo, sinto-me menos capaz de escrever. Já há tantos escritores fantasticos, que perco imediatamente a vontade. Talvez seja baixa auto-estima ou auto-conceito de escritora.

No entanto, em arrumações, encontrei dois "haiku" escritos por mim para o www.escreva.com. Para saber mais sobre Haiku, pode-se visitar esse mesmo site aqui

Pode parecer facil escrever haiku, mas não é. Tentem.

Haiku #1

Ser, no agora
viver no aqui, largar
o pré e o pós.

Haiku #2

Olha, sem pudor,
o sopro de paz que flui
por todo o Eu

Patrícia Araújo (2005)

Monday, February 22, 2010

E depois de uns meses em Portugal...

Faz três meses que estou em Portugal. As mudanças notam-se bem. Estou constipada, de cama, doente, obcecada por contas, facturas e noticias diárias. Com isto não quero criar uma dicotomia Portugal-Angola, mas antes uma dicotomia Europa – África ou calor-frio.
Sabemos, penso que já há bastante tempo, por inúmeros estudos científicos, que o clima afecta as pessoas, o seu modo de viver e de pensar. Mas acho que só vivendo alternadamente no calor e no frio é que conseguimos realmente acreditar nesse código binário. E é um excelente código através do qual podemos construir o software da nossa vida.
Já se nota pelo texto que comprei um novo portátil, um leitor de mp3 e outras tecnologias, como mudar para cozinhar em vitrocerâmica. Andei muitos meses com falta de tecnologias, agora são excessos.
O regresso para Angola não está agendado. Espero, pondero e negoceio propostas de trabalho. Se estivesse em Angola pensava “vamos ver no que dá”. Mas estou na Europa por isso desdobro-me em contactos, telefonemas e emails, explicações e fundamentações do meu CV, exercícios reflexivos profundos sobre “será que perceberam o que eu disse? Será que percebi mal? O que queriam dizer com aquela proposta?etc, etc”

Há outro fenómeno psicológico do calor. Parece que nos faz sentir super-seres. Parece que não coloco tantas vezes em causa as minhas competências. Acredito mais em mim. Talvez porque as pessoas parecem ser sempre mais concretas e verdadeiras e menos “treinadas ou dissimuladas” que os europeus. E isto não é elogio nem insulto para ninguém. È uma constatação.
Mas por outro lado, de volta à Europa, adoro conduzir nestas estradas magnificas! Conduzir o meu carro ecológico, híbrido. Não poluir com todo-o-terreno de 4000 de cilindrada! Fazer reciclagem todos os dias!
Na Europa sei o que acontece quando vou a um departamento da administração publica, tudo está organizado, e sei que não vou sair de lá com menos dinheiro na carteira. Sei que há uma fila a cumprir e um código de igualdade para todos.

Na Europa, peso os prós e contras. Em África,acredito e atiro-me de cabeça aos projectos. Na Europa é como se andasse sempre a minha procura, em África encontro-me. Por isso mais uma vez não há conclusões, preciso da ambiguidade, da ambivalência, do contraste.

Assim, Angola, Moçambique, S.Tomé e Príncipe ou Cabo Verde podem contar comigo nos próximos anos. Os países africanos com língua portuguesa mais activa. Quero aproveitar para correr esse magnifico calor, climático e humano, nos próximos 5 a 10 anos. Está decidido.