Monday, July 14, 2014

"O sonho dos meus amigos é ter um GTI…"


O sonho dos meus amigos é ter um GTI…

Sempre me espantei com o bloqueio de escritor. Porque nunca o senti na pele. Sou hipergrafica. O meu papel neste mundo é escrever, nunca tive grandes duvidas.
E é fácil inspirar-me com qualquer coisa.
Esta semana foi a velha pergunta “o que farias se ganhasses o euromilhões?”. Claro que não há respostas certas, mas há a interpretação cognitivo-narrativa.
A forma como moldamos a resposta, escolhemos cuidadosamente (apesar de ser nuns segundos) o que vamos passar do pensamento para a linguagem e isso reflete quem somos.
Se amamos alguém, respondemos que queremos “fugir” com essa pessoa, dar a volta a mundo, ir de férias.
Se amamos muito uma coisa, pedimos essa coisa.
A música fantástica dos Clã “O sonho dos meus amigos é ter um GTI”…diz também “e os meus amigos, riem-se de mim por ser feliz assim, sem sonhar com um gti, mas que me importa um GTI se te posso ter a ti!!!”
É tal e qual a lâmpada do Aladino.
Pedir um carro, uma casa, um negócio, são desejos perfeitamente lógicos na sociedade atual. Verdadeiros. Cumprem necessidades. Medianos, seria a primeira resposta de todo o ser humano médio. É perfeitamente correto.
Mas o primeiro impulso da resposta, remete ao que nos faz mais felizes.
Mas é fácil concluir que o que nos faz mais felizes nunca teve nada que ver com dinheiro, como todos sabemos. O facto de ganhar o Euromilhões ou muito dinheiro nunca vai comprar uma pessoa para amar. Mas pode comprar o bocadinho extra de felicidade em conjunto.
De que adianta ter milhares ou milhões de euros, se não temos amor? De que adianta ter tudo, se não se tem com quem partilhar?
Se saísse o Euromilhões, comprava um carro, uma casa, uma viagem…para andar ou goza-los sozinha? Sim, claro que o faria, mas nunca chegaria aos pés de gozá-los com outra pessoa.
E vocês? Já experimentar registar a resposta a esta pergunta ao longo da vida? Sim, vai mudando. Há a fase do “ah, deixava de trabalhar”. Depois vem a fase do “ah, não deixava de trabalhar, continuava tudo assim, mas já ficava mais a vontade…”. Depois “ir viajar pelo mundo”. “Comprava o carro x, a casa y”. Ou “dava dinheiro a família, aos amigos, faria toda a gente feliz!”. Já é um ótimo patamar! . E por fim, até chegar ao patamar macro, em que não é uma coisa, não é só para nós, é a partilha total com alguém e com todo o mundo. “faria qualquer coisa, desde que estivesses comigo”.
É um pouco na linha do desenvolvimento Moral de Kohlberg, essa ótima conceção do desenvolvimento moral, que até hoje nenhuma outra abordagem bateu…(ler mais aqui)
É ter plena consciência de que a morte chega, os bens materiais todos ficam. Deterioram-se. Não valem nada. Só as experiências, as vivências, as memórias, as emoções contam alguma coisa, quando tivermos 90 anos e já não nos conseguirmos quase mexer do sofá lá do lar (de preferência, uma daquelas residências sénior, com piscina, claro!).
Quando o “Experiencing me” já não puder experimentar muito, resta apenas o “Remembering me”. (Ler mais sobre este assunto ou ver Video aqui)

É HORA do “experiencing me”. Já.



Tuesday, July 08, 2014

O fenómeno da PRESSA PATOLÓGICA

Recebi um convite para escrever um artigo para um capítulo de um livro.
Não é o primeiro convite para escrever ao longo da minha carreira, mas este cai bem. Cai cada vez melhor na minha alma de escritora, que nem sempre tem o mercado do seu lado.
Trata-se de um artigo científico, porém, com alguma margem ensaística.
Decidi a abordar o trabalho, minha linha de investigação há vários anos, mas tão ampla, tão ampla que eu tinha de encontrar uma outra abordagem.
Poder refletir sobre o papel do trabalho, do emprego, do desemprego, da precariedade na vida humana, tem sido um privilegio, mas esta oportunidade era de ouro: tinha de acrescentar algo mais.

Já há muito que queria explorar o "nada fazer", o  dolce fare niente, o meditar (num sentido mais profundo oriental), mas o fazer nada e a sua importância neste mundo ocidental FAST.

Então, comecei a explorar as investigações de alguns autores acerda do ÓCIO e da evolução do conceito.

Obviamente, para efeitos deste blogue, nao irei por aí.

Porém, após uns dias de leituras, surgiu uma frase que me fez parar.

"Neste espaço, surge a pressa como um fenómeno típico da atualidade e como mola mestra para os avanços tecnológicos que fabricam equipamentos para se poder ganhar mais tempo (Aquino, 2007, p. 481)

A PRESSA.
E comecei a pensar em pessoas.
E tantas pessoas que andam cheias de PRESSA.
Que correm e correm de um lado para o outro, sempre com algo agendado a a seguir, sempre com o telemóvel na mão (e não é para passear pela net ou ver emails é mesmo para ligar!!!).
A PRESSA.
O fenómeno de achares que temos pressa. De que tempo é dinheiro.
Tempo não tem preço.
 Temos o mesmo tempo de vida que tínhamos...ou melhor, temos mais. Os últimos dados apresentavam uma estimativa de esperança media de vida de 78 anos para as mulheres.

E essas pessoas correm, cheias de pressa.
E começa a sempre patológico...como sempre, sempre que começa a afetar a qualidade de vida do APRESSADO PATOLÓGICO e figuras da sua vida.

Sabem? Aquele pessoa que nunca pode? Nunca está? Ou só pode quando pode, nao respeitando os limites dos outros? E que tem sempre para onde ir a seguir?
Sim, já havia uma psicopatologia infantil (a hiperatividade) que começou a ser falada em ser aplicada a adultos.

Mas isto da PRESSA como fenómeno moderno é fascinante.

E desgasta toda a gente à volta do apressado.

Quando vamos conseguir PARAR. Respirar. Apreciar. Só temos aproximadamente 680.000 horas de vida????!!! (para uma vida aproximada de 78 anos!).
Só faz sentido ter PRESSA em VIVER, se pensarmos que temos tão pouco tempo.
Mas pressa em viver com qualidade. Pressa em viver, com calma.


Conhecem algum APRESSADO PATOLÓGICO?



Para ler mais: