Wednesday, March 16, 2011

O saber dar

Há alguns dias estava a preparar alguns conteúdos científicos para as minhas aulas. Um dos conteúdos era uma teoria, da qual não consegui descobrir quem é o autor original.

É uma teoria dos saberes, que está ligada com o estudo da competência.

Refere-se a três saberes essenciais: o saber-saber (conhecimento), o saber-estar ou saber-ser (as competências interpessoais ,sociais, etc.) e o saber-fazer (saber técnico).

Depois disto, e face a outras situações da minha vida, pus-me a pensar no saber-dar.

Nestes anos de experiência da minha modesta vidinha, sempre acreditei que as pessoas têm a capacidade de aprender todos os saberes. Todos os saberes que quiserem, se realmente quiserem. Às vezes, nós temos de saber esperar que os outros desenvolvam essas competências. E eu esperei. E espero ainda.

Mas há pessoas que não sabem dar. Eu também aprendi a dar com outras pessoas. Aprendi a sentir o prazer enorme de dar algo a alguém. Algo físico, como uma prenda, algo imaterial como um elogio ou um contacto ou um favor.

Devia ter uns dezoito ou dezanove anos quando alguém me deu algo e eu disse que não podia aceitar. E alguém me disse que eu não podia dizer isso, porque o prazer de dar era destruído por comentários desses.

Nos últimos anos, felizmente, pude dar muito. A vida trouxe-me alguma estabilidade financeira e fiz surpresas a várias pessoas. Comecei a ter grande prazer nisso.

Algumas surpresas que fiz, por exemplo, à minha mãe, trouxeram-me emoções que nunca havia sentido. Um calor no coração, uma lágrima escondida, um prazer de a ver feliz, um contentamento inexplicável por ver a expressão dos “apanhados” estampada na cara dela!

O saber dar envolve o saber-ajudar, o saber-estar lá para os outros, o saber-dar atenção ao outro.

Não vos vou dizer que dou sempre desinteressadamente, aliás, nunca dou desinteressadamente. Espero que, um dia, alguém tenha amabilidade de me devolver a sensação de felicidade de receber e, que, ao mesmo tempo, eu possa dar a essa pessoa a sensação enorme do prazer de dar.

Quando falamos de coisas materiais, há também as regras de etiqueta em sociedade. Nem sempre me revejo nelas. Mas, acho eu, diz a etiqueta que se alguém nos oferece algo, devemos oferecer algo de volta, se não logo, então numa próxima oportunidade. Mas já fiquei muitas vezes sem receber nada.

Perdoem-me se isto soa mal, pode parecer interesseiro ou materialista, mas não é. Já dei prendas de 1 euro e recebi emails que valiam 1000 euros, só pelas palavras que me tocaram.

Talvez cada um aprenda a dar na hora certa. Ou talvez seja uma das tarefas desta vida resolver este assunto. Como sabem, o Karma diz que toda a acção tem uma reacção e se a intenção da acção é positiva, a reacção será positiva. E este é mais um motivo para dar.

E com isto não digo que quem não sabe dar é egoísta ou que o faz por maldade. Não chegaria a tanto. Como diz o budismo, é a ignorância que está na raiz de todos os males.

Acreditem, se aprenderem a dar, nunca mais vão querer parar. O vosso coração encher-se-á de alegria e de positividade sem limites…

Mais um dia da Mulher...


Mais um dia da Mulher. Mais um dia em que faço um esforço por nem sequer sair da casa, para não me enfurecer. Não pensem que isto é só um texto literário e que digo estas coisas para ênfase…não. Não vou mesmo sair de casa.
O pior de tudo é que acordei com uma mensagem daquelas lamechas sobre ser mulher. Provinda de uma mulher!!! E estas mensagens eternizam ainda mais os estereótipos de género.
Claro que poucas pessoas me compreendem. Apenas os verdadeiros cientistas. A ciência (nomeadamente a psicologia social) que as medidas de discriminação positiva têm de ser limitadas no tempo.
A criação de um dia especial para festejar algo, a criação de quotas para uma determinada minoria de uma país, ou até uma atenção especial para com determinado problema numa escola ou numa empresa, podem ser medidas de sucesso, mas tem de ter um fim anunciado. Até porque isso contribuiu ainda mais para o seu objectivo.
O Dia da Mulher, 08 de Março, pode ter sido uma ideia engraçada. Pessoalmente, preocupa-me todos os tipos de discriminação, mas a que eu vivo é menos preocupante do que a discriminação que leva ao tráfico, à violência, ao lenocínio e a muitas outras situações horrendas. Há um mês vi uma ONG internacional a dizer que cerca de 1 milhão de mulheres em todo o mundo estão traficadas para fins sexuais…
A discriminação de que eu sou alvo no dia-a-dia é soft, é discreta, é mascarada, muitas vezes é inocente, subtil…mas está lá! E chateia-me na mesma. E custa muito demonstrar às pessoas que está lá!
Como é possível fazer tanto alarido porque um ser tem um pénis e outro uma vagina? Como? Porquê? Eu gostava de retornar do tempo, àquele primeiro momento, há milhões de anos, quando o homem primitivo e a mulher primitiva perceberam que eram diferentes. E a seguir, gostava de saber o que os fez crer que o homem de alguma forma era superior à mulher?
A sério, dispam-se de todas as ideias que têm e imaginem esse momento.
Voltando ao Dia da Mulher, hoje. Já esta a hora de acabar, mas agora ninguém tem coragem de o fazer. Como existe o dia do Pai e o dia da mãe, podia perfeitamente existir o dia dos Direitos Humanos, por exemplo. Ou então O dia dos direitos da Mulher e o dia dos Direitos do Homem, que mais tarde se fundiria num dia só…
Mas os inocentes dirigentes que criaram o dia Internacional da Mulher não imaginavam que ele viria criar ainda mais discriminação. Este é o dia da discriminação do homem. É o dia em que se retorce tudo e se faz, de uma forma especial, tudo AQUILO que deveria ser BANAL ao longo dos restantes 364 dias do ano. E ouvem-se aberrações…“Hoje, és mais linda porque é dia da Mulher”, “Hoje, amor, vou-te ajudar porque é dia da mulher”…etc…