Monday, May 14, 2012

As barbaridades que eu ouço sobre a crise…


Com certeza, eu sou uma pessoa atípica. Com certeza devo ter muito melhor memória do que milhões de pessoas.
Esta é uma das alturas mais belas, mais ricas de todos os tempos e de repente, toda a gente só fala em crise.
Não sei desde quando é que todo o cidadão comum se tornou economista de café. Há 20 ou 30 anos, ninguém dava palpites sobre a gestão financeira ou medidas de desenvolvimento de um país. As pessoas davam ideias, comentavam as medidas e iam às suas vidas. No momento de votar, votavam. Depois envolviam-se na medida do possível, no quotidiano politico-economico.
Hoje em dia, todos os dias, notícias complexas sobre economia, politica e finanças são simplificadas para o cidadão comum que, não percebendo patavina, dá palpites. Atenção, eu também não percebo patavina, mas ao menos não acho que percebo.
A crise é muito antigo e plenamente previsível há mais de 20 anos. A europa chegou ao seu auge. Sim, enfrentamos agora a ausência de crescimento…mas, GENTE, é para isso que toda a gente andou a trabalhar estes anos todos. Vão todos a correr para os países em desenvolvimento…eu também já fui e foi uma ótima experiencia. Mas isso não é a solução para a Europa.
Quando eu era catraia ouvi muitas vezes a seguinte frase dos mais velhos “Em tempos, comprávamos um bocadinho de carne para dar sabor à sopa, não tínhamos dinheiro para nada, e alterávamos a roupa dos mais velhos, costurando roupa para os maisnovos”.
Sim, definitivamente estes tempos catuais são uma desgraça!!! Todos temos roupa e da boa, todos compram coisas todos os dias, e é uma crise desgraçada. Em tempos muitas pessoas não tinham televisão, há menos de 40 anos! E agora, quase ninguém tem televisão…têm plasmas, LCD, e LED…é uma tristeza.
Em tempos perdíamos contactos com amigos…e morríamos sem nunca mais saber o que era feito deles. De veze em quando via nos olhos dos mais velhos, a tristeza de perder um grande amigo. Nestes tempos horrorosos em que vivemos, encontro amigos a toda a hora, na net, n o facebook e falo com eles, e mantenho amigos anos e anos, mesmo do outro lado do planeta. É muito triste. Como bem todos os dias, e não passo fome, compro barato, acessível e bom.
AS doenças diminuíram e o controle de qualidade aumentou drasticamente em 40 anos. Que chatice, este país, é uma merda. E dantes demorávamos 7 horas para ir de férias a algum sítio, e agora excelentes autoestradas, infelizmente pagas claro, levam-nos a todo o lado. É mesmo uma merda de país...sem  dúvida, gente!
Há menos de 30 anos, as pessoas morriam sem saber porquê. Morriam aos 40 e aos 50 anos e so alguns tinham a sorte de passar essa barreira. Agora, a evolução do nosso país permite-nos viver, em média, até aos 80 anos. É uma desgraça, sim senhor. Realmente, para muitos, mais valia viverem só até aos 40 ou 50, uma vez que andam sempre a querer voltar aos velhos tempos.
Mas é assim: nos velhos tempos, as pessoas amavam-se, casavam, tinham filhos, formavam família, sem saber o que ia passar-se amanha. Sem acumular dinheiro obsessivamente, sem saber da carreira, e às vezes sem saber onde viver. Muitos dos nossos pais e avós viveram grande parte das suas vidas em casas da família, e não compraram casa.
Eu sou uma pessoa muito atípica, mesmo. Eu acho que não há melhores tempos do que estes. Quando eu era pequena, comecei a pedir coisas de marca à minha mãe. Claro que economicamente, não podia, mas o argumento certo é: qual é a necessidade dessa marca? É uma necessidade ou um desejo? Hoje em dia, sou coach e formadora e, quer nas formações de comportamento do consumidor, quer em consultas individuais de poupança, é das primeiras coisas que abordo: É necessidade ou desejo?
Todos os dias, nas lojas, nas ruas, ouço pessoas a dizerem: “Preciso mesmo do novo ipod”, “Preciso mesmo de umas calças vermelhas”, “preciso mesmo daqueles sapatos”…PRECISO??? Vocês esqueceram o significado dessa palavra? Vocês precisam de um fato Massimo Duti? PRECISAM de queijo marca XPTO? Precisam de …etc.etc.???? PRECISAM?
Quando eu era pequena, fui educada assim. “Enquanto se come não se vê televisão. Antes de saires da mesa, pedes licença e depois é que vais ver TV”. Os adultos davam o exemplo. Hoje, toda a gente vive com a tv ligada, “Para companhia”, dizem alguns. Não suportam o silêncio…o que me preocupa bastante.
Sadomasoquistas ou bombas de agressividade? Ouvem as notícias para em seguida desatar a insultar alguém ou alguma coisa, já repararam? Até no café, com a TV ligada, observo isto. As pessoas veêm TV para descarregar em alguém as suas frustrações. É fácil.
Dantes não havia nada para fazer. Fazia-se filhos, como diz o povo, às vezes, em tom de brincadeira. Agora, ao fim de semana, é impossível. Todos os shoppings estão cheios. E ainda se podia pensar que não compram nada. Mas na semana passada, estive no shopping a contar quantas pessoas saiam de saco na mão. Só contei 21 com saco e 2 sem saco nenhum! Sim, as pessoas compram coisas! É esta crise horrível que os manipula e os leva a comprar…mas como, se não tem dinheiro? Não sei…
Durante muitos anos, não soube o que eram férias. A família ia para a praia e dava umas voltas num raio de uns quilómetros e pronto. Agora, toda a gente vai de férias, e faz créditos, etc….é o raio da crise que se instalou.
Instalou-se nas vossas cabeças distorcidas, com ajuda da comunicação social. O comportamento das pessoas é que está em crise. Severamente em crise. Ninguém pratica a aceitação, o contentamento, a celebração do que têm e do que são e do que conseguiram na vida. Querem mais e mais, e como já tiveram talvez, um pouco mais, não aceitam menos.
Eu tenho orgulho no meu país. Tudo o que conseguimos nos últimos 30 anos é fabuloso. Paisagens, Politicas sociais, económicas, qualidade de vida, etc. Já para não falar em temros tecnológicos e reconhecimento mundial. Onde estão os portugueses aventureiros descobridores? Como eu li aqui há tempos, numa piada da internet, Os portugueses que aqui estão não são descendentes dos portugueses descobridores que se lançaram ao mundo. São descendentes dos medrosos que cá ficaram. Mas eu tenho orgulhos dos portugueses que todos os dias lutam, e ficam aqui, não arredam pé, e estão gratos pela sua vida. Tenho orgulhos dos portugueses que passam por mim na rua e me cumprimentam sem saber quem eu sou. E num BOM DIA, nasce uma sorriso de sabedoria e luta que me ilumina o dia. E quando se pergunta “Como vai”, a alegre resposta, “Vai-se andando, é a vidinha”.