Friday, August 13, 2010

Viagem ao Lubango


Nos dias 6, 7 e 8 de Agosto fomos visitar a terra que nos acolheu por quase dois anos.

Foi triste verificar que o caminho Lubango-Benguela está pior que dantes. São 329 km apenas, que demoramos cerca de 5h30 a percorrer. Tem apenas cerca de 54 km de Picada, mas as chuvas tornaram-na pior do que estava dantes (Acho que os piores danos estão no caminho de Cacula até Chongoroi). As aguas tem uma força brutal, no inicio nem acreditava que só agua e chuva fizessem tantos buracos e abatimentos, mas parece ser verdade…

Chegados ao Lubango, também fiquei triste. Tinha expectativas que nos quase 09 meses que lá não estive, as condições tivessem melhorado. Ainda por cima com o CAN-Campeonato Africano de Futebol, esperava eu, que houvessem novas estradas e menos lixo. Mas não. O Lubango está mais ou menos estagnado nesse aspecto. Cresceram hotéis, lojas na rua, o shopping Millenium tem mais oferta e o aeroporto, mas alguns buracos e alguns cantos de lixo estão iguais.

Na foto que publico em baixo, estou no Hotel Serra da Chela, de 4 estrelas. Impecável. Agora o Lubango já tem um sitio agradável onde passar uma tarde, na piscina e em excelente ambiente.

A estrada para o aeroporto está também melhor, mas temo que as chuvas possam destrui-la facilmente, já que a obra é frágil, quer de materiais quer de recursos humanos…

No fim…as pessoas! Os meus alunos, ou melhor, ex-alunos…que nó na garganta! Que carinho e que recepção! Abracei diversos alunos e fiquei triste por terem perdido a oportunidade de continuar os estudos de ensino superior! E que dedicados eram…

Espero que o novo ministério do ensino superior, ciência e tecnologia, reconheça que tem ali potenciais quadros médios e superiores muito importantes para Angola, e acima de tudo, além dos conhecimentos técnico-científicos tem ali potenciais colaboradores motivados e dedicados, carinhosos e empáticos…Um abraço a todos e todas!

Depois, as noites foram passadas no novo CASINO OLYMPIA- Porquê? Porque o meu grande amigo Nuno, marido da minha grande amiga Jacy, trabalha lá, porque é o melhor local para estar no Lubango, porque eu fiz o processo de recrutamento e selecção, e a consultoria para abertura e cartaz cultural bem como a selecção do responsável cultural (o NUNO!) e, finalmente, porque o meu maridão actuou lá. Ainda não foi desta, que tive coragem para pegar no microfone…não.

O Hermínio é o equivalente a um “encantador de serpentes” quanto toca a harmónica aqui no Lubango. O som da harmónica enche-nos o peito, é inevitável…

Por ultimo, temos de vos falar deste Duo encantador. O Duo Nova Vaga. Como podem ver na foto, dois músicos maduros, que executam brilhantemente música variada (desde originais, Beatles, fados, música tradicional Angola, e musica comercial diversa!) com uma guitarra e um SERROTE! Sim, um serrote. Não há como explicar esta arte de sacar as notas certas de um serrote com uma régua de plástico! E que som hipnotizante! Parabéns Duo Nova Vaga!

E pronto, passeio muito cansativo para apenas 3 dias. Não se repetirá em tão pouco tempo, mas voltarei ao Lubango em breve, a terra das pessoas sorridentes e afáveis…

 



 


 


 

 




 

 

A Praia da EQUIMINA

A praia da Equimina

     Já por duas vezes fomos à praia da Equimina. A cerca de 115 km da cidade Benguela, e depois de passar a vila do Dombe Grande (onde acaba a estrada em asfalto) temos de percorrer uma ligeira picada de talvez 50 km.
     Da primeira visita, fomos apenas dois e ficamos pouco tempo. Caminhamos uns quilómetros pela praia quase deserta. Curiosamente vimos pela primeira vez um misto de Kimbo/musseque ao pé do mar. Uns meninos brincavam nus feitos croquetes e outros tentavam pescar com uma espécie de rede, arrastando a rede pela agua. A meio da praia surge um lago de agua doce ou salobra e um oásis. Juro que pensava mesmo que os oásis eram coisa rara.
    Da segunda vez fomos com amigos para um churrasco à portuguesa, como “manda a lei”. Ficamos perto dos angolanos que ali vivem em condições aparentemente fracas. São pescadores e vivem essencialmente de peixe seco que vendem em Luanda (descobri depois a falar com um “amigo”…).
    A Palavra “amigo” é altamente utilizada cá, com um cadência e um sotaque impossíveis de descrever em palavras. Sinto-me como um Vasco da Gama a tentar escrever uma carta ao rei de Portugal contando os frutos dos descobrimentos! Diz-se “migo”, com um som musicado e afectivo.
     Os meninos brincaram à bola com um dos filhos dos nossos amigos. Dêmos-lhes uns petiscos. As mulheres arranjavam os peixes em bacias (alguns com 50 cm de comprimento ou mais) e com os filhos às costas. Os homens depois carregam os peixes, abertos ao meio da transversal e já salgados para pôr a secar, dentro de grandes bacias quadradas e ainda demoravam um pouco a voltar. O tal meu “migo” veio perguntar se lhe podíamos dar alguma da nossa comida (estávamos a fazer churrasco!), e comentou “Amiga, eu peço, mais vale pedir que roubar, né?”.
  
    Depois viu-nos a ler uma revista (A “Caras” ou a “Nova Gente” ou algo assim…não sei), e pediu se não lhe podíamos dar. Ficamos surpreendidos. Perguntamos se lia bem português, e ele, orgulhoso respondeu “Eu tenho a minha sétima!” (Será que tem a sétima classe? Ficamos convencidos que sim, demos-lhe a revista e elogiamos o seu português). Ele era extrovertido, já na casa dos seus 40 anos e com 1.75, um pouco mais alto do que eu. Pedi-lhe para ver o peixe e chamou-me.

     Perguntou-me “A amiga come deste peixe? ” , eu respondi que sim, que tinha comido no dia anterior no Calulu (prato da gastronomia angolana…delicioso!). Ele ficou surpreendido e saiu apressado…passado uns seguintes trouxe-me um peixe e disse-me para eu levar para fazer Calulu!!! Agradeci imenso mas ficava para a próxima, Foi nessa altura que me contou que iam de camião a Luanda vender o peixe já seco (tipo bacalhau, na seca). Um metro de altura de peixe empilhado devia render 500 dólares. Fiquei sensibilizada pela oferta.
     Mais tarde, as crianças rodavam à volta da bacia de deixe que um dos nossos amigos caçou (ele lá foi durante uma hora em caça submarina e trouxe um peixe papagaio!). Para uma ex-vegetariana é triste ver um peixe morrer aos poucos… Mas aqui, não há muito a fazer. Já encontrei bastantes produtos vegetarianos do SHOPRITE no Lobito, todos de origem sul africana e muito deliciosos! Ao menos vou tentando manter algumas refeições vegetarianas! Parabéns ao Nelson pela excelente caçada!

    O meu 'Migo disse que na próxima vez que lá fossemos ele vai dizer ou indicar ao meu amigo caçador onde pode caçar os Chocos. Os chocos são uma delícia aqui em Angola. São enormes e ficam deliciosos na brasa, nada que se pareça com os "choquinhos" que se come na minha terra...
    Uns minutos depois as crianças viram-me a tirar fotos e queriam ver na máquina digital, Já tinham algum conhecimento pois não se mostraram fascinadas. Tirei-lhes uma foto (que vêem aqui no blog). Na primeira, foi guerra! Todos s tentar caber na foto! Disse-lhes “Então, vocês não eram jogadores de futebol?  Os jogadores posam para a foto tocando ombro com ombro! Cabem todos na foto!”. Olham para mim e depois uns para os outros e repetiam “Ombro com ombro…ombro com ombro…” e lá se ajeitaram para a segunda foto. “Olha eu aqui”, “Olha eu aqui”, apontavam felizes e como que pasmados para a máquina tão pequena que mal conseguia colocar todas as cabeças a jeito de se verem nas fotos…
    Foi um dia bem passado. Fez-me reflectir na vida dos pescadores contra a vida cosmopolita e hipócrita que às vezes levamos. A certa altura, uma mãe surgiu, com um filho às costas, uma filha mais velha ao lado e um filho que as seguia. A criança vinha pasmada, absorvida pelas brincadeiras dos meninos negros e brancos, todos juntos, a jogar futebol. Tanto por alguns traços físicos, como pelo comportamento, notava-se que a criança tinha um ligeiro atraso de desenvolvimento (os "Psis" às vezes, não desligam mesmo…). Mas ali ficou, sentado, sempre a sorrir, captando as imagens, com movimentos lentos e com o que podiam ser suspiros de alguém perante algo que se seja muito, um grande chocolate ou um hambúrguer!
    Lá acabou o passeio. Aqui ficam as fotos. Talvez ainda publique mais. Para já ficam estas.