Friday, May 27, 2016

Someone to look up to...

Há dias em que temos um insight. Lemos um email. Olhamos para o ceú. E sem motivo aparente aparece aquela conclusão na mente. Imediata. Quase dura e fria. E fico com uma expressão facial de quem apanhou um estalo da vida.

É costume ouvir dizer “posso não saber o que quero, mas sei o que não quero”.

Todas as filosofias nos dizem para não fazer isso. O Coaching, o Yoga, o Zen, e milhões de outras abordagens nos dizem: não formulem na negativa. 

Não continuemos a dizer o que não queremos. Ao dizer “não” a algo, estamos, de qualquer forma, a depositar toda a nossa energia nessa coisa que não queremos.

Formulemos devidamente o que queremos.

Ao longo dos anos tenho vindo a fazer isso. Sei exata e claramente o que quero (hoje, pelo menos, amanhã não sei…).

Hoje no meio do trânsito da VCI (Porto) vinha a pensar nisso. Naquela adrenalina do entupimento das 18h30. Uma adrenalina produtiva e sempre elucidativa. O trânsito relaxa-me. Olho o céu. Sinto o vento. Observo o que as pessoas fazem dentro dos seus carritos. Penso na vida. Penso no que o meu cérebro se poe a pensar. Engraçado este cérebro tão capaz de pensar sobre só próprio (o tema mais interessante de todos…)

Ao formular o que quero, sei o que não quero. E comecei a pensar nas pessoas à minha volta. Todas elas estão a passar por tudo o que eu não quero. Mergulharam em trabalho. Verbalizam constantemente que não têm tempo para isto ou para aquilo. Têm um aspecto exausto. Muitas excessivamente medicadas. Queriam fazer aquilo que gostam, mas não conseguem. Ganham dinheiro, mas nunca chega. 

Quem tem um trabalho que lhes traz realização, tem relações horríveis, tóxicas, desgastantes (mesmo que nas redes sociais pareçam imensamente felizes). 

Quem tem relações felizes, está assoberbado de trabalho ou de stress e de outras coisas.

Então comecei a pensar em toda a gente à minha volta e pensei: 'Podia anexar ao que eu QUERO… um exemplo. Um modelo. Não um ídolo ou um famoso qualquer…não. Alguém real. À minha volta. Uma pessoa. Um casal. Uma família...'

Alguém com os valores da VIDA.

Alguém que coloque as pessoas em primeiro. Alguém que ame a vida e se reja por um código ético quase-impecável (tudo é subjetivo, claro…).

Alguém que viva por VIVER e não por sobreviver, ou por dinheiro, ou por trabalho, ou por prestígio ou que viva em função de outros. Alguém que pare, pense, respire e decida o que quer para o seu amanhã. Apartando-se de todas as influências e pressões sociais, dentro do possível. Um/a pensador/a independente.

Alguém que todos os dias respire fundo e observe os pássaros e as árvores no trânsito mesmo que daqui a uns minutos nos esperem momentos difíceis e cheios de ansiedade.

Alguém que saiba que a vida é hoje. Alguém que saiba amar e ser amado, e respeite e seja respeitado e se ria a dois todos os dias. E que saiba que uma discussão é sempre fútil, vazia e que terminará em breve com um beijo. 

Alguém que se entregue de corpo e alma a outro e saiba perfeitamente que o resto do mundo não interessa.

Alguém que viva consciente que morreremos daqui a uns minutos. MINUTOS.

Alguém que saiba o riso é a única moeda. Alguém que trabalhe por prazer absoluto. E que viva por prazer absoluto. Alguém que dê o seu melhor, sem competir. OU que saiba competir com carinho.

Alguém que saiba largar o que não é preciso. PRECISO. Let go.

Alguém que saiba que a vida NÃO é seria e, que não! o tempo não vale dinheiro, e que há tempo para tudo, e que se trata tudo de uma breve viagem que só PODE ser divertida e cheia de sentimentos e memórias. Alguém que perceba que as memórias são o maior tesouro.

E não existia ninguém. Não tenho o modelo. “Someone to look up to”. Que eu admire e queira ser igual. Claro que admiro esta ou aquela pessoa por um determinado motivo, mas quando vejo o todo, a Big Picture da vida dessa pessoa...

Voltei a pensar e a repensar. Encontrei pessoas que admiro por isto ou por aquilo, mas que numa ou noutra área da vida, estão retalhados, destroçados, destruídos e agarram-se a uma coisa qualquer para se segurar. 

Não existia uma. Todos aqueles em quem eu admirava por um determinada característica, temia por eles por outras. A febre, o sucesso, o peso do trabalho, o vício da negatividade constante, o padrão repetitivo do pensamento do passado ou, no oposto, o padrão de viver em corridas para o futuro, a dor ficar ser preferida à dor de começar de novo, o apego excessivo ao dinheiro. Cada coisa que referi, uma pessoa.

Sou um ser cheio de defeitos. Sei o que não quero. E sei o que quero. Só não sei de alguém que o tenha atingido para que eu o/a/os/as pudesse admirar. Tenho saudades de admirar alguém. Tenho saudades de querer ser como alguém. Daquela idolatria adolescente.


Daquelas fase de recortar imagens de revistas ou colar posters na parede, lembram-se? (só algumas gerações se lembrarão…). De admirar um ser humano e querer atingir algo igual. 

Um equilíbrio. O único modelo que tenho é uma ideia do meu eu no futuro a dizer-me que é possível construir aquela realidade. Talvez tenha construído, mentalmente, um modelo de vida utópico. Talvez…espero que não.