Tuesday, June 02, 2015

Tese e Viagens? - Uma reflexão pós-Noruega

Cheguei há dias da Noruega. As viagens "entranham-se-me"...

Nessa viagem conheci vários aficionados de viagens. A um deles perguntei se não correriamos o risco de nos tornarmos "viajodependentes". Respondeu-me que sim, sem hesitar muito.

Conheci americanos do North Dakota, Puerto riquenhos, franceses, holandeses, brasileiros, portugueses...e...acho que é só. Ficar num hostel tem destas coisas.

Foi a primeira vez que viajei sozinha de avião, a primeira vez que saio da Europa em 3 anos, a primeira vez que dormi num aeroporto sozinha, a primeira vez que dormi num hostel (dormitório de 8 pessoas!).

É tão bom continuar  a ter "primeiras vezes". Já pensaram? Devíamos ter uma primeira vez todos os dias. E se calhar temos, pequeninas, grandes, aqui e ali, mas nem sempre lhes damos valor.

Nas viagens, há sempre a primeira vez de algo. É impossível não haver.

Estas pessoas que eu conheci não partilhavam todos a mesma filosofia de viagens, digamos. Talvez exista um pouco o preconceito de Mochileiro/a, que corre o mundo. Alguns assim o eram. Outros eram doutorados, professores...até um polícia holandês! Andava o ano todo a fazer banco de horas (a lei laboral holandesa é um sonho, pelo que percebi!) e depois tirava 2 ou 3 meses para viajar. Sem reservas, sem planos: só comprar o voo e "vamo' lá!".

Esta viagem à Noruega, no âmbito  do meu doutoramento, foi inesperada. Com os cortes de custos e meus "azares", estava a ver que nada ia rolar. Felizmente foi possível.

Oslo é uma cidade agradável, diplomática e educada. Foi a sensação que me ficou. Não há nada de muito extraordinário, nenhum ex-libris, nada de tirar muito o fôlego. No entanto, tem 30 museus.

No último dia, fui ao tão desejado (por mim) Vigeland Park.

E aqui assim, pude estar, observar e sentir a arte. Na rua, nas emoções das estátuas. Afectos eternizados estranhamente.

Depois começaram a jorrar reflexões. Nunca vi estátuas tão afectivas, de partilha humana, de pais e filhos, de crianças a brincar. A cultura norueguesa estava aqui espelhada. Talvez até a nórdica em
geral, e isso deve reflectir a cultura de trabalho e direitos, o apoio na maternidade e paternidade...

Além disso, os velhos têm também direito. São representadas duas velhas, o corpo a mudar, num ar reflexivo. O Monolito (ler mais aqui) tem 121 figuras humanas e à sua volta então, surge o ciclo da vida...

Vejam vocês próprios e , num exercício comparativo, pensem nas estátuas portuguesas...



















E mais algumas, pelo centro de Oslo, que não pertencem ao escultor Gustav Vigeland, mas merecem reflexão...
(Câmara municipal de Oslo, frente ao mar)



Mas Oslo merece outras olhadelas. O relógio na câmara municipal é lindíssimo e vale a pena dar uma olhada às restantes fotos!










Quando regressei, estava a conversar com um amigo e, sem querer, fiz um exercício de resumi-lo em duas palavras. Quase automaticamente, ele devolve e diz :

"Patrícia: tese e viagens" 

E parece que é isso que eu sou, no momento. É o que me resume. O doutoramento é um processo longo, de maturação e que nos muda, nos faz evoluir, nos consome, nos corrói ao mesmo tempo.

As viagens fazem tudo isso, mas talvez se entranhem até se tornar vício. Voltaremos a ser nómadas? O nomadismo seria a forma ideal de vida humana?

Gosto de viajar, mas adoro chegar, costumo dizer.

O problema é que, depois de chegar, sentir o lar, estar com família e amigos, o bichinho volta e precisamos de mais uma dose. Para onde vou agora? E se não for a lado nenhum? (sintomas de abstinência...)