Friday, July 10, 2009

As termas da Montipa







Finalmente, mais um fim-de-semana de descanso. Se há alguns meses atrás eu constatava a diferente (e lenta) temporalidade ou noção de tempo aqui em Angola, ultimamente constato o exacto oposto. Os dias não chegam para resolver metade dos assuntos, e poucos ajudam. Realmente, aqui são necessários regras bem rígidas para que o trabalho apareça. Talvez seja o clima que faz com que quase todos funcionem numa “calma inexplicável” que por vezes roça a irresponsabilidade. Sem pormenores, só eu cá sei. Depois de uma semana de exaustão total, cheguei a um ponto de nem sequer conseguir elaborar um pensamento. Estava totalmente e mentalmente esgotada.
Foi tempo então, de planear rapidamente, uma ida às termas. Sou aquista ou termalista convicta, e ao saber da existência de uma espécie de instância termal perto Lubango, de imediato quis conhecer.
Depois de mais de duas horas de caminhos travessos através da Serra da Chela, chegamos à Bibala e seguimos depois em direcção à Montipa (que as pessoas pronunciam “Mutipa”). Dezenas de carros com suas tendas de campismo elaboradas já lá estavam. Fazia lembrar um pouco o campismo “à portuguesa”, com mesa posta para o jantar, rádio (geradores para várias coisas), tendas de grande qualidade, e até tachos a fazer o “estrugido” como manda a lei… (de relembrar que realmente eram quase todos portugueses…)
Nós estávamos numa onda de campismo o mais natural possível: arranjar lenha no local (à “catanada”), umas fêveras em “de vinha d’alho” num “tupperware”, um maduro tinto do Dão e pouco mais. Conclusão: às 19h00 lá estávamos, a comer umas fêveras na brasa no pão, só com a luz do luar (que por sinal, até ilumina bastante!).
Depois fomos espreitar a piscina. Oito da noite e tinha uma dezena de pessoas (principalmente crianças e jovens), e a água bem quente. Um sapo andava à volta da piscina.
Depois de uma noite de sono, acordámos de manhã com calor. Comprei essa tenda numa loja de produtos asiáticos por 2000 kwanza (cerca de 20 euros) e esperava que se desintegrasse, mas aguentou-se bem.
Ao pequeno-almoço, uma pequena fogueira para colocar água a aquecer para o café. Cheirar o mato. Olhar para o céu limpo. Respirar fundo e fazer umas posturas de Yoga discretamente. Ir ao WC (no mato). Comer pão com manteiga e café. Vestir o biquíni e saltar para dentro da água.
Acerca das propriedades químicas da água percebo pouco, mas não se tratavam de águas com muito enxofre: quase não tinham cheiro.
Existia muito “verdete” na piscina mas é limpa, e sabemos que há limpeza regular, pois à ida embora um “funcionário” veio cobrar 250 kwanza por carro (cerca de 2,5 euros)!
Uma espécie de hotel abandonado, as termas construídas por portugueses mesmo onde a água brota, fechadas a cadeado. A piscina com bancos em granito a toda a volta e mármore no chão.
Lá entrei e relaxei. O sol era forte mas estar na água quente não era insuportável. Deixei o corpo flutuar enquanto me dava umas lições de moral “tens de trabalhar menos, descansar mais, saber quando parar antes de cair de cansaço”. Mas, no final de tudo, o trabalho feito dá gosto de ver.
No dia anterior parti um dente (por acaso era um desvitalizado), e na hora de almoço (churrasco de chouriço criolo e barriguinhas de porco), parti a restante parte do dente. Pensei o que fazer. Os alunos tinham-me dito para ir à Namíbia quando o assunto é saúde. Quem tem o mínimo de rendimento em Angola, não trata de assuntos de saúde em Angola, mas sim na Namíbia.
Depois de almoço, mais um relax na piscina. Mas era sol de pouco dura. Entre arrumar tralha, fazer almoço, etc., já tinha passado o fim-de-semana. Não parecia durar. Tudo agora parece passar depressa demais.
Retornamos pela serra da Leba, uma vez que já fazia noite, e a estrada da serra da Chela é na realidade um caminho de cabras, bois e outros animais, que não tem luz, asfalto nem nada. Encontramos, no entanto alguns sinais de pedra portugueses, do tempo colonial.
De volta à cidade. Quase 21h00. Hora de um café antes de ir para casa (Café “Planalto, um dos melhores do Lubango”). O fim-de-semana acabava. E eu já a pensar em tudo o que tinha para fazer…