Tuesday, January 24, 2012

Angola e Portugal: Uma aprendizagem para a vida

O meu tempo em Angola terminará no dia 30 de Janeiro. Aterrei em Luanda pela primeira vez no dia 22 de Setembro de 2008 e saí de Angola no dia 22 de Dezembro. Quase 3 anos e meio de aventuras.
 
Desde que lá cheguei conheci centenas de pessoas, visitei 9 das 18 províncias de Angola, conheci a Namíbia (Capital=Windhoek), fiz um safari (Etosha National Park), visitei Moçambique (Maputo e Bilene), pus o pé em África do Sul (Joanesburgo).
 
Tive oportunidade de trabalhar no Lubango e em Benguela. Em termos profissionais, estou descansada pois dei o meu máximo e o meu melhor por Angola. Pelos alunos, pelos colegas, pelas instituições, pelos amigos. Dei-me ao máximo, como, aliás, já é me hábito. 
Mas dei-me até à exaustão, por estar longe do meu país.
 
Com Angola reforcei o meu sentido de simplicidade. Lembro-me de um reitor de uma universidade, que mal me conhecia, me dizer: “Sabes porque é que tens sucesso, Patrícia? Porque és simples.” Ficou-me na mente até hoje. Viver a vida simples.
 
Com Angola reforcei essa ideia de que devemos viver em Simplicidade. Infelizmente, muitas das pessoas que eu vi viverem no máximo da sua simplicidade, não o faziam por opção. Mas serviu para eu perceber a coragem que as pessoas têm para viver a vida. E não vida, enfrentar, lutar, debater-se nem outras narrativas do tipo, digo, viver. No meio do nada, entre a terra vazia e o fim do mundo, sorrisos apareciam iluminados na berma da estrada, fazendo fogueiras, acompanhando cabras ou simplesmente caminhando a pé por quilómetros. Viver sem luz, sem telemóvel, sem rede no telemóvel, sem cozinha, sem banheira, sem…enfim, uma série de coisas.
 
Com Angola aprendi que eu própria já era tolerante e muito adaptativa. Foi difícil ajustar-me á distância da minha família e amigos, mas não foi difícil dar aulas, trabalhar, ver a motivação dos alunos no ensino superior em Angola, saber entrosar-me na cultura, aceitando-a, querendo melhorá-la, mas sem insultar ou me sentir revoltada. Em África, em geral, pelo menos do que eu conheço, entristece-me as desigualdades sociais. 
Entristece-me alguém ter milhões e não ajudar o que só tem uns trocos.
Com Angola aprendi o lema mais importante dos angolanos: estamos juntos. Ouvi essa expressão quase todos os dias que vivi em Angola! Portugal tem de fazer renascer esse lema no seio do povo português.
 
Em Portugal, sinto o amor a casa. Sou internacional, sou do mundo, posso ir para qualquer sítio e serei boa e capaz, competente e lutadora, divertida e exploradora, mas só serei feliz em Portugal. Pela primeira vez na vida compreendo profundamente o significado da expressão “There’s no place like home”. Profundamente. Não há companhia como a da nossa mãe, não há melhor alegria do que partilhar uma mesa em família (Acho engraçado como é que existem pessoas que quere ter uma família, casar e ter filhos, e não suportam conviver com a própria família!). Nada melhor que o sofá da nossa casa. Nada melhor do que conduzir o nosso carro, estrada aberta, sem medos, tendo certeza que a igualdade e justiça estará lá, para mim ou para qualquer outro, independentemente do dinheiro que tem, do estatuto que tem ou dos títulos que tem.
 
Tinha planeado muito mais projectos em Angola. Muitos mais anos e algumas mais aventuras. Contudo, o universo quis que fosse de outra forma.
 
Em Angola fiz coisas que muitos seres humanos no planeta não farão: brinquei com Macacos, vi elefantes, vi girafas, vi elefantes, vi rinocerontes e dezenas de outros animais exóticos. Atravessei sítios onde não havia estrada. Atravessei estradas com minas de ambos os lados. Acampei no breu mais escuro do mundo, sem ver almas nenhumas. Dormi em praias desertas, com um céu inigualável. As minhas memorias são tantas que perderia meses da minha vida a escrever este texto…
 
E agora abro espaço para mais memórias. Encerro o capítulo de Angola. Penso que irei lá de novo antes de morrer. Quem sabe, nos últimos três anos vivi em Angola e fiz férias em Portugal, quem sabe a situação não se inverte?
Uma das grandes aprendizagens dos seres humanos, na minha opinião, é saber aceitar os fins. O fim de qualquer coisa. Quando julgamos o FIM de algo como BOM, ficamos felizes. Mas outro fim, que avaliamos como MAU, torna-nos infelizes, revoltados, doentes. E, como eu dizia num texto anterior neste blog, o “mal” do mundo está na dicotomizaçao.
 
Penso que cheguei ao ponto de aceitar os fins sem os julgar. E e como dizia o Budismo, o Yoga e tantas outras filosofias ou religiões: sabe bem. Quando passamos a aceitar a vida como ela corre, ficamos em paz, ficamos no presente, sem reviver o passado, sem obcecar pelo futuro.
Existem aproximadamente 195 países no mundo (até isso, ainda não é um conceito claro, depende do reconhecimento das instituições!), porém, aos 33 anos já visitei 13 países. 

Curiosamente, já pus os pés em cerca de 7% dos países do mundo! (Quem me conhece sabe que simpatizo com o número 7!). Ainda me falta pisar 93%. Ainda me falta viver muita vida e é uma perda de tempo fica obcecado com algum coisa nesta vida a não ser o amor, principalmente, o amor a nós próprios, o amor aos outros, o amor à paz de espírito, o amor à felicidade, o amor universal.
 
Obrigado, Angola, por estes anos da minha vida que nunca esquecerei.
Obrigado Portugal, porque sim. Talvez Portugal precise de mim. Talvez eu precise de Portugal.

Saturday, January 21, 2012

Cheguei à conclusão que sou romântica...

Cheguei a conclusão que eu sou muito mais romântica do que o que pensava. Os outros dizem-se românticos e não o são.
Quando eu penso em casar, penso em casar quando eu quiser. Não sou mesmo "Maria vai com as outras". 
Quando as pessoas se referem a casar “porque está na hora” ou a ter filhos “porque o relógio biológico esta a apitar”…sempre me arrepiei.

Agora percebo: eu quero casar e ter filhos. Aliás, no fundo eu já casei. 
Porque casar nunca foi assinar um papel. 

Casar é estar junto da pessoa “no melhor e no pior, na saúde e na doença”, “ na vida e na morte até que a morte os separe”. 

E, quando eu tive essa certeza, de que pude deixar a minha vida nas mãos daquela pessoa, aí, eu casei-me com essa pessoa.

Afinal, eu sou muito mais romântica do que os outros, porque não pus entraves. 

Acreditei na pessoa. Fui, lancei-me, confiei. Isso é que é casar, de alma e coração.
Ser romântico não é oferecer flores ou chocolates como nos mostram os filmes. 


Ser romântico, é estar lá, é ir sempre, sem por em causa o que se vai fazer, quanto se vai ganhar ou o que é que vai acontecer a seguir, porque desde se esteja com aquela pessoa, estaremos sempre bem.


Por isso é que o meu blog se chama pseudo-tudo. Porque as pessoas nem sempre são autênticas consigo próprias e com os outros. 

Se eu for autêntica comigo, eu estarei sempre bem comigo e com os outros. 

Adoro a palavra autenticidade. Custe o que custar, acho que temos que honrá-la. 

Autenticidade não é verdade, porque cada um tem a sua verdade. Ao contrário do que pensamos, que existe uma verdade objectiva para todos.

Autenticidade é interna, pode ser simplesmente não dizer, não falar nada. 

Mas quando nos sentimos autênticos, somos nos próprios. O resultado final não importa tanto como ser autêntico pelo caminho (caminho=vida).

E assim, aos 33 anos descobri que sou romântica. Que até faço surpresas às pessoas. 

Ser romântico não é dar beijinhos ou abracinhos ou sequer dizer que se é. Ser romântico pode ficar calado, estar autêntico e acreditar que o caminho, seja ele porque turbulências, picadas ou auto-estradas for, ao lado daquela pessoa, fará sempre sentido.

Tuesday, January 03, 2012

Medos, quadrados e Clean Slates

"Think out side the box" é uma expressão que tendo a usar muito na minha narrativa. Penso que, por medo, os seres humanos tentam encaixar tudo e todos em quadrados, ideias feitas, quadrados confortáveis, que explicam (ou tentam explicar) ou melhor, "enquadrar" será a expressão correcta, todas as coisas que acontece e pessoas que conhecem.

Isto acontece frequentemente na minha profissão. Ser psicóloga é estar imediatamente condenada a ser encaixada num quadrado, cheia de preconceitos e ideas preconcebidas que as pessoas trazem para as relações.

Quando algo novo ou relativamente novo acontece na nossa vida, o nosso cérebro inevitavelmente vai procurar, as vezes desesperadamente, situações ou pessoas semelhantes do passado. E a´´i, nesse momento de buscas e comparações. reside a infelicidade humana.

A certa altura parece que o ser humano perdeu a capacidade de viver as coisas pela primeira vez. Não é "como se fosse" a primeira vez, é porque, SÃO mesmo as primeiras vezes.

A gastronomia é sempre um bom exemplo.

Todos já comemos arroz. De muitas formas. Quando alguém nos convida "Olha, queres provar arroz de legumes",  nós não respondemos imediatamente "Não obrigado, já provei arroz de marisco e não gostei, logo também não vou gostar de arroz de legumes". Bem, se existe alguém à face da terra que dê uma respostas destas, escreva-me.

Por vezes, sinto que, em termos de relações interpessoais tudo isto se resume numa enorme falta de respeito. Quando alguém me conhece, quero que me conheça e não que me desate a encaixar nos seus quadrados, comparando-me com X e Y.

Quando algo acontece na minha vida, que se assemelhe de alguma forma a algo que já aconteceu, tento, a todo o custo, viver esse momento como se fosse a primeira vez. Se eu não fizer isto, estou a empacotar pessoas nos quadrados que eu tenho criados, quando não tenho nenhum quadrado para a aquela pessoa!!! E Isso é uma sensação horrenda.

A outra expressão com que simpatizo muito, do inglês é o "Clean Slate".
 - an opportunity to start over without prejudice
- fresh start, tabula rasa
- chance, opportunity - a possibility due to a favorable combination of circumstances; 

-If you start something with a clean slate, then nothing bad from your past is taken into account.

Foi difícil, mas penso que finalmente consegui.
E no que respeita a mim, quem não abrir um CLEAN  SLATE para mim, não me merece...
Arrumei num cantinho os quadrados do passado, e arranjei uns quadrados vazios. Clean Slates para o futuro. A única coisa que peço é que todos tentem fazer isso. Serão mais felizes. Muito mais.

Sunday, January 01, 2012

Dukkha, os fins e os começos

Dukkha é a palavra em sânscrito que designa sofrimento. Dei por mim a pensar nisso e na vida do Buda, e no sofrimento em geral que as pessoas se permitem viver.

Este texto não visa ser científico nem ambiciona ser perfeito no que respeita aos fundamentos do Budismo, note-se. É mais uma reflexão minha, como sempre.

Das quatro nobres verdades do Budismo, a primeira diz-nos que a vida é sofrimento. Depois Buda apresentou as causas e claro, o caminho (em oito partes) para nos livrarmos desse sofrimento. Quem tiver curiosidade procure saber mais...

Os fins e os começos que acontecem nas nossas vidas são uma das grandes causas de sofrimento. Se ao ler está a pensar que um fim é mais doloroso que um principio, está enganado.

Vejamos na perspectiva da gestão de Recursos Humanos: Começar um emprego novo não é tantas vezes emocionante, recheado e medos e inseguranças, emoções fortes, novas pessoas, novas hierarquias, etc. tanto qual a perda de um emprego?

Acabar e Começar são faces da mesmo moeda. Este é um principio básico quer do budismo quer do Yoga e quando aprendemos a viver os dois momentos, os fins e os começos, aceitando as nossas emoções tal como elas são, evoluímos. O cariz que atribuímos às vivências, como negativas ou positivas, faz apenas com que dividamos o mundo em dois, sempre este mundo dicotómico, bruscamente dividido entre o bem e o mal, a luz e as trevas, o gosto e o não gosto, como se essa simplificação nos ajudasse de alguma forma a viver melhor.

É em união que conseguimos evoluir e não em dispersão ou dicotomização. Para mim já foi mais difícil (O difícil e o fácil também é uma dicotomização!!!!) e, lentamente, começo a aceitar as minhas emoções como uma feliz parte de mim, porque posso sentir. Porque não tenho anedonia, porque finalmente começo a conseguir ser a "testemunha" da minha vida, nas palavras de Buda, assistindo a tudo o que se desenrola, com a paz necessária, e com o meu interior, o meu purusha, o meu si, a parte de mim que está realmente unida ao ser universal, às raízes do universo...


O Sofrimento faz parte da vida, a sua causa é o desejo. Quando desejamos demais sofremos. Quando desejamos sofremos, quer desejemos uma coisa fantástica que nunca mais chega, ou quando desejamos que algo horrível não aconteça, também sofremos.


Só quando conseguirmos ver a vida como uma bem primordial que deve ser vivido tal como nos é oferecido, conseguiremos viver realmente. Saindo dos clichés habituais, claro, porque é muito mais profundo do que o senso comum no quotidiano nos transmite. "A cavalo dado, não se olha a dente". Viver a vida em aceitação, é a única forma de realmente aceitar o bem vida, que nos foi oferecido...