Sunday, October 19, 2014

Algures em Ferrarias, Concelho de Penela, a mente vagueia até à expressão “Cedências”

Chegada à casa rural que escolhi para o meu retiro de uma semana, o silêncio impera.
Um cão ladra bem lá ao fundo, alternando apenas com os sons das badaladas da igreja, algures cá perto. Cheguei hoje. Só sei onde estou porque o GPS me disse, de resto, não faço a mínima ideia o que anda pelos arredores.
De caminho para cá espreitei o castelo de Penela, na sua altitude magistral e, PENELA, nas ruas ruas íngremes. Com muita pena não encontrei um cafezito ou uma esplanada onde me sentar e apreciar a vista majestosa lá de cima.
Pela primeira vez, faço férias a sós. AS atitudes das pessoas à minha volta acerca desta decisão foram muito diversas… “UI, sozinha…que perigo!”, “Ui, uma mulher sozinha…que estranho…”, “Ai é? Vais sozinha, fazes MUITO bem!”, “Vais sozinha? OK.”. Enfim, desde o pólo do MEDO até ao pólo de uma certa admiração por eu ir sozinha de férias.
Eu própria cá estou a ultrapassar talvez um dos últimos mitos/preconceitos que estava um pouco entranho, talvez da infância, talvez da educação de outros tempos/culturas. “Uma mulher pouco ou nada faz sozinha….”. Seria grave, mas não incorrecto, acrescentar o que muitas pessoas (verbal ou mentalmente) acrescentam a esta frase “é melhor ir com um homem”, ou “a mulher precisa de um homem”.
Quem me conhece  sabe perfeitamente que eu não suporto a noção de discriminação e desigualdades de género. Arrepia-me, irrita-me, mexe-me com o mais profundo das estranhas, e já me fez afastar-me de amizades e levantar-me de mesas e sair.
Detesto ser encaixada dentro de caixas quadradas, limites que me colocam. A minha mente é ilimitada. O meu corpo tem limites: as rugas instalam-se e ele já não faz sempre o que nos queremos. De resto, colocarem-me dentro de caixas e de limites…não, obrigado.
Mas, indo para além do género e do sexo, independentemente de eu andar para aqui dentro do meu “fato de carne” com pénis ou vagina, sou um ser humano, e para muitas pessoas, ir a algum sítio sozinho continua a ser problemático. E até confuso.
Continuo a questionar-me sobre isto (até porque já escrevi textos anteriores sobre assuntos semelhantes) e a resposta é sempre, aquele velho cliché que parece custar a interiorizar: se eu não gostar da minha companhia, quem gostará?
No meio destes pensamentos, lembrei-me de uma expressão muito frequente quando se conversa de relações humanas em geral e relações amorosas em particular. Cedências.
Cedências.
Odeio a palavra cedências. E odeio o que ela representar para quem a diz. “Ah...numa relação tem de se fazer cedências” . Passada a revolta inicial, dura pouco, ocorre-me uma citação que li em tempos, não sei bem de quem, que dizia que uma relação (seja de que tipo, mas apliquemos aqui às amorosas), uma relação nunca deverá retirar nada à pessoa. Vem simplesmente acrescentar, sem interromper, sem perturbar, vem natural e fluidamente melhorar a vida da pessoa.
É este o meu conceito de relação. Claro que há entendimentos, acordos, negociações (e, nas minhas tertúlias sobre estes temas, há também quem não goste desta palavra, negociações, por achar que ela é fria, mas a negociação conjugal é das coisas mais saborosas que já experimentei…), mas NUNCA cedências.
Só o mero facto de eu Ceder, significa perder algo, e perdas nunca são esquecidas. Eu posso chegar a um acordo sobre algo, mas se eu sentir aquilo como uma perda, como uma cedência, nunca mais a relação será a mesma.
Nas minhas relações, eu já tomei decisões que poderiam, aos olhos dos olhos, ser cedências. Mas aos meus olhos, não foram. Às vezes, a brincar, costumo dizer que tive problemas amoroso-geográficos: já me mudei para 350 km e numa outra vez para 8000 km de distância, um pouco porque a minha cara-metade (da altura), queria muito fazê-lo. Nunca foram cedências. Foi negociado, acordo, e foram experiências maravilhosas. Deixei-me levar pelo que a vida me oferecia.
E isso faz-me lembrar uma fantástica frase do filósofo Agostinho da Silva que alguém me referiu recentemente e que se calhar, já a citei em outras alturas. É algo do tipo: “não faço planos para a vida para não estragar os planos que a vida pode ter para mim”.
Que alguém da geração anterior à minha ou duas gerações para trás, me diga que uma relação só pode ser feliz se houver cedências, eu até entendo. Respiro fundo e calo-me, por respeito. Que alguém que tenha agora entre 25 a 35 anos me diga algo, fico preocupada. Num mundo cada vez mais global (e não vamos discutir estas implicações), não faz muito sentido o “Settling”. Saddling ?
Não consigo arranjar palavras para traduzir isto do “Settling”. “Don´t saddle for less”. Não te acomodes com pouco?! Será a melhor tradução? Não te deixes ficar…não te acomodes. É difícil traduzir.
E, portanto, quero tudo o que quero, e “mai nada”. Posso ter, posso não ter, posso conseguir posso não conseguir, não é essa a questão. A questão é que posso querer. Tenho o direito de querer atingir tudo o que eu quiser.  Tenho o direito, se não o dever, de o visionar,  de lutar por isso. Se ninguém pensasse assim, o mundo seria ainda rural, e não existia nada do que hoje criamos.
Criar, melhorar, mudar, crescer, implica sentir-se no direito pleno que querer, de visionar um futuro. E com isto, não digo que faço planos para a vida, porque cada vez os faço menos. OU melhor, cada vez os meus planos são menos materiais e estruturados, e mais orientados por sensações e intuições.  Demorei muito tempo a conseguir afastar-me do racional excessivo que planeava tudo e, logo, gerava expectativas por tudo. Agora, regem-me as sensações. Quero sentir as sensações de amor, de paixão, de liberdade. Sejam ou não reais para os outros ou aos olhos dos outros. As sensações são só minhas e ninguém tem o direito de as julgar.
Por fim, numa conversa antiga com amigos, uma pessoa comentou que determinada pessoa estava a ser usado, que não estava feliz, que estava em X ou Y situação, que estava a ser isto e aquilo, e estava cego, porque não via o que se estava a passar, porque estava a ser manipulado, porque não era a pessoa que dantes era….O que outros interpretam é sempre uma gota no oceano e não chega nem aos pés do que quem está na pele da sua vida, sente. Como psicóloga, depois de anos de treino especifico, sabemos identificar situações em que uma observação externa pode ser útil. Mas acima de tudo sabemos analisar narrativas. E duas pessoas diferentes, me situações exactamente iguais, têm narrativas completamente diferentes. E isso remete para o que a pessoa sente, como sente, que sensações experimentar. E só isso importa. Os dois pontos de vista sobre uma mesma situação, podem ser diametralmente opostos e determinar a nossa sensação de felicidade ou infelicidade total. Cedências…ou …acordos. Se a narrativa é a das cedências, ela remete para perdas. Se a narrativa é dos acordos, dos encontros, ela remete para ganhos mútuos.

Do Alto do Castelo de Penela



Do alto do castelo, a vista é sem dúvida maravilhosa. Dei por mim a pensar como é que algum dia os humanos deixaram estas terras e trocaram pelas cidades apertadas. Foi um sentimento difícil de exprimir por palavras. As fotos não fazem jus…realmente só cheirando o ar daqui de cima…





Tuesday, October 07, 2014

Os cafés de beira rio/mar no inverno...

Juro, adoro a chegada do Inverno...bem, na realidade é outono...mas está a entrar pelo ambiente invernal adentro.
Mas acima de tudo adoro este país: Portugal. Quero conhecer o mundo todo e até viver um bocadinho em cada pedacinho de terra deste planeta, mas ...ai, Portugal, Portugal. De manhã ouvi chuva, levantei-me e o sol levantou-se comigo, uma brisa de vento forte à beira mar, mas um sol a queimar um pouco no meu terraço. À hora do lanche o som da chuva no silêncio de fim de tarde.
Vesti agora mesmo a minha primeira gola alta da estação. 
Sei que pode parecer estúpido, mas é tão bom finalmente sentir o pescoço aconchegadinho! Quase tão bom como a primeira vez que nos despimos para vestir um bikini.

Cheguei para tomar um cafe de fim da tarde, antes de ir para o curso de Espanhol! O café estava deserto...nem 1 carro no estacionamento, nem viva alma. A música acalmou (as batidas de verão deram lugar a um chill-out agradável...será propositado ou acidental? ). O cafézinho quente aquece-me as goelas.
Ainda para mais, consegui fazer uma surpresa a alguém hoje. Surpreender mesmo. Como costumo dizer, tirar o tapete na positiva. Por a pessoa de queixo no chão com algo que não esperava de todo. A vida é imprevísivel e eu faço questão de o ser  também.
De alguma forma, cada vez mais me apaixono pelo imprevisibilidade da vida...o que será do amanhã? Sol ou chuva? Bom ou mau? Estarei bem disposta ou mal? Acontecer-me-ão coisas maravilhosas ou profundamente tristes?
Nesta riqueza profunda da vida, há dias que conseguimos ver com clareza que é a imprevisibilidade (que tanto tememos, por vezes) que nos dá mais brilho como seres humanos...