Sunday, December 06, 2015

O mito da paixão em ‘idade avançada’, digamos...


Quando alguém me conta que uma relação acabou porque alguém conheceu outra pessoa, lamento dizer que, de certa forma, hoje em dia, sinto um certo alívio.

Claro que os termos utilizados pelas pessoas são muitas vezes outros, não tão educados como estes, mas é verdade é simples: nós não podemos ser outra pessoa que não a que somos. E se gostamos desta pessoa que somos (e do outro), por muito (muito!) que nos custe, deixamos a outra pessoa seguir o seu caminho. 

No final, penso eu, a pessoa vai ser feliz com outra pessoa. Parto do princípio que ponderou tudo na sua decisão e eu não posso ser a Maria quando sou a Francisca. Sou fundamental e existencialmente diferente.
Sortudos os que têm fins destes. Sortudos, dentro dos tipos de fins, claro.

O pior fim é não saber bem o porquê do fim. O pior fim é o fim pela diferença de valores, de filosofia de vida. O pior fim é ser trocado por coisas e não por pessoas. Stuff. Things. Coisas. Não interessa quais. Todas. Todas as outras coisas que não são, portanto, pessoas. Dinheiro, ambição, drogas, carros, poder, estatuto, países, empregos, casas, partilhas, heranças, etc., etc., etc.

Por mais que as pessoas digam, na sua sabedoria “Fulano, ‘empregos’ há muitos, mas alguém que partilhe uma vida contigo e te aceite como tu és, não é fácil encontrar!!! Pensa bem”, as filosofias não entram facilmente na mente das pessoas (agora basta substituir a palavra empregos por qualquer outra que não seja o nome de uma pessoa, e funcionará sempre!). 

As coisas preenchem as pessoas que não se conseguem preencher por outras pessoas ou pela vida em si. 

Por outro lado, não ajuda nada a este processo dos fins, o mito que nos foi vendido (digo “nos”, mas o leitor pode não ter este mito e se é esse o caso, parabéns!) de que apaixonarmo-nos aos 30 ou aos 40 é diferente. 
É “diferente”, diz o povo. “Já não é a mesma coisa…”, dizem as pessoas, retorcendo o canto dos lábios e acrescentando muitas vezes expressões do tipo “já é mais calmo, já não há tanta emoção…somos maduros”, mas sempre com aquele tom paternalista do Settling, do ter de assentar, “as motivações são outras, já temos outra vida, queremos outras coisas”, “já não se sente aquele fogo…”, dizem os mais velhos. 

Pois, não sei que vida é que eles viveram...

Amigos, é tudo treta. Apaixonei-me depois dos trinta, mais forte e mais rápido do que sempre, no resto da minha vida. 
Mais presente, mais profundo, mais meditativo (e tantric), mais vivido, mais consciente de todas as emoções que estava a sentir, quando já nem estava a contar muito com elas. 
Apaixonei-me. Borboletas no estômago, vontade de dar presentes, fazer surpresas, agradar o outro, fazer tudo de diferente, mudar a nossa vida para o encaixar. 
Mudar o que vemos, mudar os planos, fazer outros planos. 

Porque fazia sentido. Trocar mensagens apaixonadas e sofrer todos os dias que não se está na presença do outro. Ter saudades e tentar não ser lamechas e chato como um adolescente louco de paixão. Não sei muito bem o que é estar apaixonado na adolescência. 
Aquilo não era paixão. A língua portuguesa não tem bem palavra…aquilo era infatuation. Não podia ser paixão porque não estávamos por inteiro. Não sabíamos quem éramos, o que queríamos, o que íamos ser.

Apaixonarmo-nos aos 30 ou aos 40 é simplesmente delicioso. É estar pleno e consciente de tudo o que sentimos. É abrir o jogo todo ao outro, sem medos. Porque já não os temos.
 Temos medo de perder, claro, mas o maior medo é de não o ganhar. Não ganhar o outro. Não absorvê-lo, não respeitá-lo como ser integralmente que um ser humano de 30, 40 ou 50 já é. É respeitá-lo e ele a nós, honrando-o com a honestidade total. 

É sermos verdadeiramente nós e aceitarmos verdadeiramente o outro, com toda a sua personalidade, as suas características boas e menos boas, as que se coadunam connosco e as que não, mas mesmo assim, ficar. Abrir o jogo. 

É despirmo-nos de tudo e tentar tudo.

Ver as pessoas a partir porque são incompatíveis, porque discutem todos os dias, porque não se entendem ou porque se apaixonaram por outra pessoa, é fácil. 

Ver as pessoas partirem porque nos puseram numa balança entre coisas e nós, é…tramado (para não dizer outra coisa). 

E eu já fui posta em muitas balanças, e até acho que eu própria ajudei a colocar-me lá, o que é realmente difícil. Mas esperamos sempre que as pessoas vençam.

Depois vem a cura. O Luto. É mais fácil, de alguma forma, porque já sabemos como sofrer. Já podemos ir para dentro do nosso sofrimento e experimentá-lo, para aprender, para sentir, da forma mais alerta e de olhos abertos possível, sem querer minorá-lo!, para ultrapassar. 

Já aprendemos a reconhecer quando temos de parar para não sofrer mais. Seguir o seu caminho, ainda com a paixão cá dentro, para ser vivida solitariamente, porque entretanto as “coisas” tomaram o nosso lugar. 

De uma outra perspectiva, também dói mais. Tudo bem, já não ficamos tanto tempo inocentemente na balança, mas dói muito. Dói tão intensamente como o nível de paixão vivida (e não consoante o tempo de duração da relação, ou da idade que temos, como às vezes nos tentam convencer).

E quando nestas balanças, ainda há quem tente. Ainda há quem espere pacientemente ou lute incessantemente para tomar o seu lugar na balança. Mas, na minha opinião, não vale a pena. 

Existe um tempo em que podemos passar nós a pesar mais e, portanto, naturalmente as “coisas” saem da balança. 
Mas quando a coisa está naquele lugar e mesmo que aquele lugar passe a ser nosso, mesmo que o conquistemos, seremos sempre substitutos, os segundos, os que vieram tirar ao outro o direito a “coisa” que o outro tanto desejava. 

Seremos sempre os maus. Nunca seremos suficientes. E não pode ser. Porque a única forma é ser a própria pessoa, a trilhar o seu próprio caminho e a colocar  o que achar melhor na sua balança, até perceber que as pessoas não podem ser colocadas em balanças em troca de coisas! 
Não podemos ser nós a conquistar esse lugar. Tem de ser o outro a tirar as coisas da balança porque quer. Tem sempre de ser uma escolha consciente do outro. Nunca pode ser um golpe de estado. 

Mais tarde, viremos a saber (talvez!) que o outro conseguiu tirar a “coisa” do lugar e pôr lá outra pessoa. Podemos ficar tristes porque não fomos nós ou podemos optar por ficar profundamente felizes, porque o outro conseguiu pôr um ser humano no lugar da coisa.

Por isso, apaixonem-se sempre. Em qualquer idade. Se estiverem numa relação e perderem a pessoa para outra pessoa, regozijem-se com a ideia que o outro - que nós amamos tanto- será feliz com um outro ser humano. 

Nós também encontraremos o nosso caminho. Mas nunca se deixem ser colocados num prato da balança, numa guerra impossível de ganhar com outra “coisa”: é uma luta perdida à partida.

Sunday, November 29, 2015

Life-Changing events

Hoje perfaz 10 anos que um evento mudou a minha vida: um Life-Changing event, como dizem os psicólogos.  O que pensaram? Que era algo positivo ou negativo? 
Sabem, não importa. É “bommau”, “positivonegativo”, é uma palavra só. 

Mudou-me e 10 anos depois, num dia gelado de inverno com sol quente, acordo só na minha cama e é isso que me vem à mente. Dez anos depois está cá gravado e recordo-o, primeiro acidentalmente depois, intencionalmente. Saboreei-o o negativo e positivo, absorvo e reintegro-o em mim. 

E espero muitos mais. 

Porque não tenho medo de perder a vida -no sentido de encontrar a morte-, mas tenho medo de PERDER a vida- no sentido de não encontrar vida na vida. 

E, por tudo isto, sou muito mais pessoa do que pensava um dia vir a ser.

Friday, November 13, 2015

Saudopatia?

Tenho saudades. Não sou saudosista. Talvez tenha saudades de uma forma um pouco patológica.

Saudopatia?

Cá estou. Num café. Sozinha. Banal. Olho em volta e faz sentido que eu esteja na companhia do meu bichinho (o computador), pois estou só. 

Mas parece que todos os outros também estão. Grupos de 3, 4 5 pessoas e casais. Todos com telemóvel ou tablet na mão. 

Visão já habitual para todos, não é?

Todos olhamos. E todos concluímos algo acerca desta visão. 

Mas depois olhem para os rostos. E fiquem a olhar uns segundos.

De vez em quando, um breve sorriso. Mas maioritariamente seriedade. 

Tenho saudade de ver um casal apaixonado.

Tenho saudade de ver um casal, à minha frente, a olhar-se nos olhos, de tal forma que nada mais existe (toda a gente sabe como é...) e mesmo eu, uma estranha do outro lado da mesa, consigo captar aquela energia à distância.

Mais do que tudo, tenho saudade de ver um grupo de amigos a "escacar-se" a rir numa mesa de café.

A criar memórias. A gravar emoções.

Tenho saudade de ir a uma discoteca, dançar, curtir, sem ver "cenas" de embriaguez ou má educação, ou a ambulância.

Tenho saudade da educação, da elegância, da reverência, da diplomacia, do carisma. Em todas as situações da vida.

Tenho saudade da palavra convite. Da palavra encontro.

Tenho uma certa saudade do mistério. Não do mau mistério, aquele que algumas pessoas definem como "não posso dizer isto ao outro por causa do que ele vai pensar", mas do mistério intencional, ao mesmo tempo inocente, da consciência plena que o outro é muito mais do que o que eu sei ou até imagino. Da subtileza que eu própria estou sempre a conhecer-me e a surpreender-me mais um pouco (felizmente)!

Tenho saudade de um tempo sem SEXUALIZADORES. Adoro destruir tabus do sexo (sou psicóloga e esse assunto é-me comum...) mas destruir tabus e falar de sexo, não é a mesma coisa do que sexualizar tudo.

Os sexualizadores vêem sexo em tudo, sexualizam um olhar, um café, uma palavra.  

Tenho saudade da subtileza frontal, mas assertiva. 

Tenho saudade dos tempos dos preconceitos abertos.

Estúpido, não é? Agora os preconceitos existem todos, mas toda a gente se mascara. Toda a gente finge ser equalitário. Todos julgam todos.
Fazem análises interpretativas complexas do que significa aquele post no facebook, o que é que a pessoa queria dizer quando disse isto ou aquilo ou quanto pôs a mão na testa naquele momento!!??? Tudo significa algo...na mente de cada um, interpretações selvagens, impregnadas de idiossincrasia.

Tenho saudade daqueles seres que escreviam cartas de amor. Ainda existem?


Sou saudopata?

Thursday, September 10, 2015

Porque é que uns vão pela autoestrada e outros pela vereda? [da vida? etc...]

Muita coisa que se passa na minha vida (e na minha mente) que neste momento, não pode ser descrita factualmente. Para isso serve essa Belíssima figura de estilo chamada Metáfora.

Depois de uma caminhada até lá baixo ao Rio e ao Mar (que abençoada sou, geograficamente!), cheguei com esta metáfora na cabeça.

Uns seguem pela autoestrada outros por veredas.

Às vezes, no início, não sabemos bem que caminho estamos a seguir. Só mais tarde nos apercebemos. Também, nem sempre foi estratégico e intencional, como diz o povo, "a vida levou-me por aqui...".

Quando nos apercebemos em que caminho estamos, podemos sempre mudar.

Os autoestradistas, optam pela autoestrada. 

Querem chegar rápido lá (sendo que o lá pode ter mil e um significados e isso, agora, é para os leitores pensarem..., porque cada coisa que eu diga aqui terá múltiplos significados...)
Não importa o que se pague.
Não importa a velocidade a que se vá.
Não importa o carro ou quem transportamos.
Só importa chegar lá. Primeiro que todos os outros. Ou, pelo menos, primeiro do que alguns outros.
Já daí provém a expressão "cortar caminho".

Não vêem nada a não ser uma imagem fugaz. Não saem do carro porque o importante é o destino.

Não falam com ninguém, não se conectam, cortam laços com quem tiver de ser...porque "tempo é dinheiro" e não há tempo a perder.

Os autoestradistas ULTRAPASSAM toda a gente que tiverem de ultrapassar. Sem pensar muito. Porque tem de ser.

Chegam primeiro. Obtêm resultados, nem que não estejam exatamente certos ou fiáveis.

Ganharão prémios. Chegarão a elevados postos. 

Nunca pensaram em ser veredistas. Se pensaram, rapidamente mudaram, porque dá muito trabalho.

Os veredistas, seguem pelas veredas.

As cangostas, as ruelas. Seguem devagar, observam a viagem. Quando chegarem chegaram. Podem acelerar mais ou menos, mas mesmo que queiram a estrada não permite loucas velocidades.
Cumprimentam o SR. José da tasca que nem conhecem e a D. Maria, sentada à frente do seu terreno a vender nabiças e hortaliça.
Respiram o ar.
Às vezes param e pensam: "se calhar devia ter ido pela autoestrada". E reflectem e ponderam.

A vereda também significa um caminho difícil. Ficam com dores no músculo da perna por conduzir, mas vão devagar. Os olhos doem, à medida que as horas passam a conduzir, mas memórias estão criadas. Cravadas na alma para sempre.

Nunca chegam primeiro. Saem do carro para cheirar a terra e o verde. O importante é a viagem.

Sofrem, porque sabem que o autoestradistas chegarão sempre primeiro. E na sociedade atual (fast, de rankings, de ratings) serão sempre eles os primeiros.

Os veredistas podem ter pensado em ser autoestradistas. A ambição existe em todos, mas a consciência talvez não. O veredista deita-se na cama cheio de memórias visuais, sensoriais, auditivas. 
O corpo dorido do caminho. Serão um pouco masoquistas?Talvez. 

Chegaram em último. A consciência leve. Um pouco triste mas leve. Não ultrapassaram ninguém. 

Cumprimentaram toda a gente. Deram-se ao trabalho de pedir licença a cada pastor que conduzia as ovelhas pelo meio da estrada. Conectaram-se com todos pelo seu caminho.

Envolveram-se, choraram, sofreram, mas chegaram.

De que valerá? Não sei.

E vocês...o que são?





Tuesday, June 02, 2015

Tese e Viagens? - Uma reflexão pós-Noruega

Cheguei há dias da Noruega. As viagens "entranham-se-me"...

Nessa viagem conheci vários aficionados de viagens. A um deles perguntei se não correriamos o risco de nos tornarmos "viajodependentes". Respondeu-me que sim, sem hesitar muito.

Conheci americanos do North Dakota, Puerto riquenhos, franceses, holandeses, brasileiros, portugueses...e...acho que é só. Ficar num hostel tem destas coisas.

Foi a primeira vez que viajei sozinha de avião, a primeira vez que saio da Europa em 3 anos, a primeira vez que dormi num aeroporto sozinha, a primeira vez que dormi num hostel (dormitório de 8 pessoas!).

É tão bom continuar  a ter "primeiras vezes". Já pensaram? Devíamos ter uma primeira vez todos os dias. E se calhar temos, pequeninas, grandes, aqui e ali, mas nem sempre lhes damos valor.

Nas viagens, há sempre a primeira vez de algo. É impossível não haver.

Estas pessoas que eu conheci não partilhavam todos a mesma filosofia de viagens, digamos. Talvez exista um pouco o preconceito de Mochileiro/a, que corre o mundo. Alguns assim o eram. Outros eram doutorados, professores...até um polícia holandês! Andava o ano todo a fazer banco de horas (a lei laboral holandesa é um sonho, pelo que percebi!) e depois tirava 2 ou 3 meses para viajar. Sem reservas, sem planos: só comprar o voo e "vamo' lá!".

Esta viagem à Noruega, no âmbito  do meu doutoramento, foi inesperada. Com os cortes de custos e meus "azares", estava a ver que nada ia rolar. Felizmente foi possível.

Oslo é uma cidade agradável, diplomática e educada. Foi a sensação que me ficou. Não há nada de muito extraordinário, nenhum ex-libris, nada de tirar muito o fôlego. No entanto, tem 30 museus.

No último dia, fui ao tão desejado (por mim) Vigeland Park.

E aqui assim, pude estar, observar e sentir a arte. Na rua, nas emoções das estátuas. Afectos eternizados estranhamente.

Depois começaram a jorrar reflexões. Nunca vi estátuas tão afectivas, de partilha humana, de pais e filhos, de crianças a brincar. A cultura norueguesa estava aqui espelhada. Talvez até a nórdica em
geral, e isso deve reflectir a cultura de trabalho e direitos, o apoio na maternidade e paternidade...

Além disso, os velhos têm também direito. São representadas duas velhas, o corpo a mudar, num ar reflexivo. O Monolito (ler mais aqui) tem 121 figuras humanas e à sua volta então, surge o ciclo da vida...

Vejam vocês próprios e , num exercício comparativo, pensem nas estátuas portuguesas...



















E mais algumas, pelo centro de Oslo, que não pertencem ao escultor Gustav Vigeland, mas merecem reflexão...
(Câmara municipal de Oslo, frente ao mar)



Mas Oslo merece outras olhadelas. O relógio na câmara municipal é lindíssimo e vale a pena dar uma olhada às restantes fotos!










Quando regressei, estava a conversar com um amigo e, sem querer, fiz um exercício de resumi-lo em duas palavras. Quase automaticamente, ele devolve e diz :

"Patrícia: tese e viagens" 

E parece que é isso que eu sou, no momento. É o que me resume. O doutoramento é um processo longo, de maturação e que nos muda, nos faz evoluir, nos consome, nos corrói ao mesmo tempo.

As viagens fazem tudo isso, mas talvez se entranhem até se tornar vício. Voltaremos a ser nómadas? O nomadismo seria a forma ideal de vida humana?

Gosto de viajar, mas adoro chegar, costumo dizer.

O problema é que, depois de chegar, sentir o lar, estar com família e amigos, o bichinho volta e precisamos de mais uma dose. Para onde vou agora? E se não for a lado nenhum? (sintomas de abstinência...)

Saturday, March 21, 2015

Tarde em Zamora, o rio Douro no coração...

Viajar. Viajar de Gps. Viajar a só. Há algo terrivelmente agradável em viajar sozinho (não querendo com isto dizer que não aprecio companhia, mas que os dois são azeite e água: essenciais, perfeitos e maravilhosos para a vida!)

Esta tarde fui a Zamora. Por momentos estive intimamente ligada à Tuga e ao Porto, já que ali estava, nas margens do RIO DOURO.

Mais uma cidadezinha simpática, com vistas lindas (tirando o dia nublado e frio que estava).

No Entanto, no centro, perto da catedral, não encontrei nem um café!

Acabei por ir a um mini-shopping onde vi gasolina a 1,17! Maravilha pensei...mas não deu. Tudo fechado (os espanhóis e os seus horários, este estaminé de gasosa abre as 18h e fecha às 21h!!???) e o pagamento com cartão foi recusado (eu e as minhas "malassuertes")!

Para terminar una TAPA, que ja não comia há uns dias: Tortilla!

Depois, há sempre aquelas observações curiosas. Há sempre algo de humano, humaninzante e que podemos aprender e reflectir.

Desta vez foi assim...Mesmo à saída, um casamento na catedral. AGORA, vejam com atenção a foto do carro dos noivos e do que os seus "padrinhos" estão a fazer ao carro!!! Vocês é que têm de descobrir...acham boa ideia???

Deixo as fotos...

                                               






                                                        






Thursday, March 19, 2015

E quando o "Tau" passa...e quando pensamos que tudo já vai correr bem...


Hoje acordei com o "TAU".

Expressão curiosa, que partilho com a minha mãe e talvez com meio mundo.

Cientificamente poder´´a ser descrito como um dia marcada com algum humor deprimido misturado com irritabilidade. Enfim. A ciência vive em mim.
Mas agora não interessa ciência.

No meio da Tese, das dores de parir uma teoria, de um certo prazer no processo de abdução, geração de uma teoria, com misto de fundamento cientifico e criatividade, estava com o tau.

Não adianta "bater mais na criança". Precisava de uma terapia de algo.

Fui pelas ruas. Só de olhar para cima, para as cúpulas de Salamanca, já estava melhor. Ainda assim, fui até "casa" (meu quartito modesto de hotel, que não deve ter mais de 6 m2 ) , deixei os ecrãs e agarrei num livrito do Paulo Coelho. Sempre fui muito avessa a ele, mas agora, no meio de leituras cientificas pesadas, andava a saber bem.

Meia hora depois, estava cheia de vontade de voltar para a tese.

Sai de casa a olhar pelas ruas. Salamanca está sempre em obras, em recuperaçao. reparo nisto todos os dias, todos os dias os senhores com andaimes saem de um sítio e vão para o outro!

Então, pensei ..."Bem, esta tudo bem! A força voltou. Se estes karmas ou simples azares acontecem, têm um motivo...e já não deve vir mais nenhum...agora é que..."

E Pimba.

E quando o "Tau" passa...e quando pensamos que tudo já vai correr bem...

Um naco de metal no meio da rua, junto à parede, rasga o meu anoraque novo!

# senhores, espanhois param e veem indignados!!! "Puesque, corre una foto! Envia al ayuntamiento! !!!" Simpáticos, indignados por aquele pedaço de metal a sair da "parede" (Depois coloco a foto porque o senhor Porteiro da universidade é que tirou foto!).

Podia ter-me magoado bastante.

Para já é só.

Enfim, o Tau passa. Outros Taus aparecem....


E...uns minutos cá estão. As fotos da Prova:


Tuesday, March 17, 2015

Escrever, escrever. Salamanca à minha espera...

Sinto as letras a bailarem cá dentro do cérebro. Começam a juntar-se, as palavras dançam, as ideias fluem. É tão fácil. É tão natural. Às vezes parece a coisa mais natural que faço nesta vida. Pode parecer cliché, mas parece que nasci para isto. E depois a dança continua e começa a intensificar-se, as frases, os parágrafos, as reflexões, querem nascer a todo o custo. As contrações começam.

As contrações literárias, mentais são, basicamente, para mim, aquele momento em que a mente lateja, aperta, grita em silêncio, as palavras querem furar a barreira e sair para o mundo.
No entanto, a vida não me mostrou caminhos nos quais eu conseguisse fazer disso profissão e isso, é a coisa que mais me entristece nesta vida...
Adiante...

Chegar a Salamanca acalma-me profundamente.

Encontrei uma Salamanca muito ativa, pelas 12 horas, o que é estranho para mim, pois costumo chegar a Espanhas nas horas mortas dos Espanhóis.


Estacionar foi bem complicado (alguma parecença havia de ter com Portugal!)

Depois de horas de viagem, do corpo cansado, do trapézio dorido, da anca maçada, do rosto suado, chega esta estranha paz de estar longe. Saudades há, mas este estar longe parece fazer a respiração mais leve. Tudo se torna leve, desta perspectiva.

Conduzir é outro dos meus grandes prazeres, nomeadamente em estradas espanholas. Gratuitas. Amplas. Sinalizadas. Um buraquito ocasional perdoa-se. 





Chego de novo à mesma opção de alojamento, diferente quarto. A Pensión Salamanca merece o devido elogio: um sítio calmo, simpático, até com um cariz familiar. Limpo, cheiroso e cheio de pequeninas atenções, sem, no entanto, passar do essencial,
Desta vez, o meu quartito tem terraza privada (abdicando de outras coisas)!


A Aqui está a modesta vista da minha terraza...




Uma curiosidade! Lá em baixo o senhor ASPIRA A RUA.

Sim, Salamanca é constantemente aspirada!!!

Vamos lá ver se esta nova fase não é marcada por nenhuma desventura (o mês passado roubaram-me a carteira o que representou grandes chatices e dores de cabeça quer em Espanha, quer em Portugal posteriormente!)

Salamanca espera-me...

Monday, March 09, 2015

"The Fall" e a falácia do dia internacional de mulher


Eu compreendo que poucos partilhem das minhas reflexões e fortes sentimentos face ao dia da mulher.
Como pessoa que trabalhou diretamente com igualdade de género, acreditem, quem trabalha no ramo, também detesta este dia. O que começou por ser uma medida de discriminação positiva (como tantas outras, as famosas quotas, etc...) na promoção da igualdade de género, transforma-se basicamente numa palhaçada mediática, quase a chegar aos niveis de marketing do Dia de S.Valentim...

Uma das minhas sérias preferidas de todos os tempos, THE FALL, tem esta cena deliciosa que, quem levar "para casa" para reflectir, vai retirar muita coisa.


Apesar da aparente igualdade, basta olhar para as eestatísticaspara confirmar diferenças salariais cada vez mais graves (eu sei que parece estranho, a mim também me pareceu!), o acesso a cargos de topo e muitos outros dados.

Vivemos num mundo cada vez mais marcado por ilusões e a igualdade de género não é excepção. Continuamos a achar que já existe igualdade, mas ela não existe.

E, por amor de deus ou do universo, não venham com aquele e estupidecido energumene argumento..."ah, os homens e as mulheres são diferentes, logo nunca haverá igualdade!!!"...

Bem, é uma fúria cá dentro de mim, que até fervo. Homens e mulheres serão sempre biologicamente diferentes, como causasianos, negros e asiáticos ou qualquer outra diferença biológica.

É importante é perceber que as mulheres continuam fechadas em quadrados impostos pela sociedade,e as que saem deles, das duas uma, ou são heroínas ou são marginais, conforme o campo que abordamos.

Na vida sexual em particular (tema de que trata a cena acima), as mulheres continuam a sofrer enormes preconceitos. Gigantes. E só não vê, quem não quer ver...

Portanto, não me peçam para festejar o facto de eu ser mulher um dia por ano. Festejo todos os dias. POr isso, a Unica solução é transformar este dia maravilho em dia Internacional da Igualdade e que os homens festejem em conjunto com as mulheres, como seres humanos que somos. Ambos. Iguais Seres Humanos. Pessoas.

Sunday, February 22, 2015

A tragédia de S.Valentim – Roubo en Segovia...

(Texto escrito no Dia de S. VAlentim, mas, por variados motivos, só publicado agora...)

A tragédia de S.Valentim – Roubo en Segovia?

O meu s. Valentim 2015 foi uma tragédia desde o momento em que acordei. Só vou publicar este texto depois de chegar a Portugal ou seja 6 dias após o dia, para não preocupar ninguém.

Acordei de manhã e decidi dormir mais um pouco. Todos os dias havia me levantado cedo e agora apetecia-me dormir. Ouvia as empregadas a falar e arrumar. Lá pras 13h, o gerente da pension/hostal veio bater à porta a perguntar se estava “todo bien contigo, Patricia? Estas enferma?” . Sim, estava tudo bem, mas tinha uma ligeira dor de cabeça.

Se eu não tivesse sido hoteleira uns anos achava que era apenas preocupação. Na realidade sabia que eles queriam arrumar o quarto. Mas também podia ser um pouco de preocupação claro.

Saí e tinha de ir ao carro, estacionado a quase 1 kilometro porque aqui no centro de Salamanca quase não há lugares para carros e os que há são pagos.
Já havia pensado sair no fim de semana e dar uma volta, mas já passava das 13h e se calhar…não era boa ideia..

Todo o caminho para o carro fui a pensar “vou…não vou…fico por aqui…oh, vou…ou fico…”, cheguei ao carro e deu-me uma vontade enorme de ir e fui.

Depois de 175 km, passando Ávila (que já conhecia) lá cheguei. A paisagem parecia o Alentejo, temperada ao longe por uma montanha enorme cheia de neve.
Aqui estão as fotos que consegui tirar da maravilhosa Segovia, que agora ficou marcada para sempre…




Era impossível estacionar. Tive de colocar o carro num parque. Pensei, é só 1 ou 2h, dar uma caminhada e pronto.
Decidi ir ao Burger king: pensei, é rápido e pronto e aproveito para passar.
Sai do burguer king e ia para procurar um café quando vi o turismo. Entrei passeei, vi algumas coisas e saí.
Precisava de um café. Já eram 16h e ainda não tinha tomado.
Quando entro num café e me coloco na fila, vou para buscar a carteira e não a tinha. A mochila estava semi aberta de um lado.

ROUBARAM-me a CARTEIRA? Perdi a CARTEIRA?

Bem, pânico, né?

Resumindo, corri tudo, refiz os passos, e lembro-me perfeitamente de pagar no Burguer King, de guardar a carteira na mochila.

Depois do corre-corre, a perguntar a todos se viram “una cartera!”, ao menos é igual em espanhol…nada.

AS pessoas foram impecáveis. O pessoal do turismo lembraram-me do VISA e ofereceram-se para me deixarem fazer a chamada a cancelar o cartão imediatamente. Assim o fiz.
Chegou a vez de ir à Policia. Impecáveis. Prestáveis. Correctos.

Fiz a denuncia, explicando que poderia ter sido eu a deixar a mochila entreaberta…posso ter sido…e a carteira pode ter caído ao chão e alguém deve estar a entrega-la agora…talvez…

Enquanto esperava pela policia, saco do caderno e começo a fazer a lista dos cartões e suas implicações.

Então, sou uma portuguesa, sem cartão do cidadão, sem carta de condução, sem cartões bancários, quase sem dinheiro…em Espanha.

Toda a gente aconselha a trazer uma cópia de tudo. Não trouxe em papel mas tinha tudo digital e ofereci-me para mostrar à policia. AMIGOS, afinal não adianta nada. Sem originais nada feito.

Teria de ir ao meu consulado…em MADRID!

Então decido perguntar “Então com esta denuncia em como fui roubada, posso conduzir? Ir para Portugal?”
Resposta: sim, mas pode ser sancionada. Posso?
Sim, pode, responde a Policia.

E explica: nada leva a crer que eu seja eu. OU seja, como não tenho nenhuma 
identificação, eu posso não ser a Sandra Bento e logo…posso ser multada na hora. Mesmo com a explicação. Mesmo com os cartões e carta de condução digital. Não adianta.

Diz ela: tudo depende do policia que a mandar parar. Se ele for tolerante, não a multa, se não for…multa.
Muito bem.

Cá estou. Maldita Segovia. Maldito Burger King. Maldito S.Valentim.

Vou parar com os malditos...

Em vez de estar num dia romântico com o amor da minha vida, estou numa esquadra da policia, em Espanha e alguém me diz que eu posso não ser eu.
Claro, será que eu própria sei quem sou?

Bem, faço o caminho de volta, volto ao turismo, volto ao Burger king, e decidi ver todos os caixotes do lixo no percurso uma vez que, quem rouba ou encontra carteiras, tal como em Portugal (as vezes), atira-as para os caixotes, depois de tirar o dinheiro (que no meu caso eram cerca de 40 euros).
Nada.
Os espanhóis são mesmo queridos. Sinto-os a partilhar a minha dor, quando olham para mim e dizem “Lo siento…”.
E agora, Patrícia?

Agora olha…ZEN. Nada mudou, só deixei de ter uns bocados de plástico. Sim, são importantes, mas pronto.

A Policia ligou para o Parking a explicar que eu havia sido roubada e não tinha cartão do parque. Salvou-me de mais uma multa. E atenção, o próprio agente ofereceu-se para ligar para o parking e explicar tudo!!!

À saída da Policia, eu parecia o Gandhi. Sabem? Aquele figurinha dele, com as mãos ao peito em Namaste e eu dizia “Gracias, muchas gracias”. E, por dentro, dizia Namaste. Também isto passará. Pensava: isto é Espanha, Patricia. É Europa. Já passaste bem pior em Moçambique, na Namibia, em Angola…

Mas era diferente. Estava só.

Na rua havia iniciativas de S.Valentim. Casais de mãos dadas. Adolescentes a angariar fundos a ver rosas vermelhas. Achoq eu devo ter dito a toda a gente no caminho que não podia contribuir porque me roubaram a carteira. Houve um senhor de uma associação que fez aquela cara engraçada de espanhol indignido “oh!...pero??? Ahora???”. Disse-lhe que se encontrasse a carteira voltava para contribuir para a associação dele.

Nestes momentos apercebo-me claramente da minha inteligência emocional, modéstia à parte. O stress está cá, e eu torno-me na sahskin, a testemunha. Parece que saio de mim e fico a ver-me. Nada me perturba muito. Inquietei-me um pouco mas depois simplesmente respirei fundo e pensei: o máximo que pode acontecer é uma carrada de multas nos próximos dias.
Andei eu aqui a poupar, a tentar fazer esticar uma bolsa minúscula para depois…
GPS, e 175 km para Salamanca.
A noite cai. Não queria conduzir à noite.
Para restante azar, chove. Pela primeira vez desde que cá estou.
Falta café.

Chego a Salamanca, voltar e voltas. Não há lugar para o carro. Será que a Gasolina chega para chegar a Portugal?

Segui todos os conselhos de viagem que dou: esconder um dinheiro noutro sitio. Levar o mínimo possível. Levar cópias de documentos. Mas hoje, hoje!, não arrumei a carteira e levei só o essencial.

E afinal…ser cidadã europeia não vale de nada…
Em Salamanca não havia lugar para o carro. Eu Já estava a mais de 1,2 km do meu hostal. Finalmente um lugar. Mesmo em frente um café com tapas.

Fabuloso: há dias havia andado à procura do conhecido restaurante vegetariano “El Grilo” e não encontrei. Agora, no meio do nada, o “Corral da Comedia” simpaticamente oferece “una caña e una tapa por 2 euros”. Estou mesmo a precisar de esticar este dinheiro para durar a semana toda!

Mágico. Esta tapa VEGETARIANA, foto abaixo, é um delicioso pão, com beringela, cebolas salteadas e queijo de cabra. Delicioso. Finalmente, quase Às 21h, o café do dia.
Restava caminhar até ao hostal com um saco às costas.
O dia havia acabado, pensei. Finalmente. Respirei Salamanca, iluminada tão bem à noite.

Mas é dia de S.Valentim.

O Hostal de repente está cheio. O fio de agua que são é minúsculo e morno quase frio. No dia em que mais precisava de um banho a escaldar. Note-se que nos outros dias tinha de tirar a mão a tempo se não queimava-me.

Para adicionar uma pitada à coisa, vejo os emails que ainda não havia visto todo o dia.
Nada de resposta do Congresso de Itália, cuja situação me preocupava. Enfim.
Ainda por cima um email da Pension onde estava a pedir para eu não USAR MAIS INCENSO no quarto, que incomoda os hospedes.

Se tudo já era mau, isto foi muito mau. Por amor de Deus. Do Universo ou de quem quer que seja. Eu conscientemente só queimei um pauzinho de incenso por dia, e acho que só descobriram porque eu deixei a caixa em cima da mesa abertamente.

No meio disto tudo, pensei milhões de coisas, mas pensava essencialmente: como é que raio eu vou conseguir trabalhar na TESE a pensar nisto? Tenho mais 1 semana pela frente aqui!!!
PORTANTO, SEM BANHO QUENTE, SEM CARTÕES, SEM CARTA DE CONDUZIR, SEM CARTÃO DO CIDADAO, SEM DINHEIRO, SEM AMOR, SEM VALENTIM, SEM INCENSO…

Enfim, aguardo. É 01h. Já acabou este S. Valentim. UFFA.

Vou relaxar e torcer para que a carteira apareça amanha (a Policia de Segovia diz que a envia aqui para a Policia de Salamanca! “Pensamiento positivo!!!”)  


Mas a história não acaba aqui...em breve o texto..."Como voltar a ser um cidadão identificado, documentado e legal em PORTUGAL! que aventura..."