Thursday, November 06, 2008

Chouriço com morangos



Nesta escassez de NET em Angola, todos os momentos são preciosos...aproveito estes minutitos de net para colar alguns posts que tenho escrito em Word...Foram escritos em dias diferentes, mas isso agora não interessa nada! O que conta é mesmo a reflexão, né?!

Chouriço com morangos
A caminho de uma noite no Falcons Bar (Clube Motard) dizem-me
“quem vem ao Lubango tem de comer chouriço e morango”
Eu entendi chouriço com morangos, o que com certeza não seria mau de todo.
O chouriço era realmente bom, mas ainda não provei morangos que honrem a fama que Lubango tem…uma grande ironia para a ex-semi-vegetariana, que para já tem de comer aquilo que aparece e não aquilo que apetece…
Aqui, “tudo se come” dizem-me, depende, no entanto, das épocas. Nunca percebi grande coisa de cultivos, mas parece que os terrenos são um fenómeno para os meus ingénuos ouvidos. Quase qualquer coisa floresce e dá fruto, imensos animais se caçam e se comem e a quantidade de industrias e produtos fabricados noutros tempos é admirável.
Até agora provei alguns frutos daqui que nascem espontaneamente, os maboques, os luengos e as Nonchas.

De resto, tenho me empanturrado com feijão com óleo de palma.Penso mesmo estar viciada em oleo de palma...mesmo!

Hoje, dia 06 de Novembro, comi Peixe-burro, que estava uma delícia, temperado pela D.Martinha, a "governanta"! E aproveitei para saltear um feijão verde com algo, azeite, vinagre e farinha, numa farinheira à moda da minha futura sogra (Bjs para a Otília e Alfredo!)


A Seis de Novembro
Faz hoje 6 semanas que cheguei em Angola. A noção de tempo, como eu já tinha dito antes, é muito diferente. Talvez quando possuir a internet e a Tvcabo a minha construção da temporalidade mude, mas para já, tenho a sensação de que já estou cá há anos...
Saudades, daquelas radicais, não tenho muitas, são outros tempos, em que falo com família e amigos todas as semanas, mas fazem-me falta aquelas pequenas coisas, como um cafezinho com a mãe, uma noitada fora com os amigos de longa data, uma noite enrolada no sofá quando o vento e a chuva abanam as portadas e eu me enrolo na minha gata e ela ronrona encostada a mim (aqui fica uma foto da minha gata, agora que estou mais saudosista, dá-me para estas coisas! Esta é a Leia!)…


Faz-me falta um bom filme (Ou TV, é verdade há 1 mês e meio sem ver TV!), e uma chá verde bem quente com uma torradinha com manteiga, enquanto me agarro à minha manta favorita…
Cá em Lubango, a nossa casa é espectacular (vejam fotos em posts anteriores)! Quem me dera (e a muitos de vós) ter uma casa assim em Portugal, não? Ainda para mais temos uma governanta fantástica, a D. Martinha, que é a felicidade em pessoa, o sorriso constante, a disponibilidade total…a ironia é que agora, que podia não fazer nada, não consigo “mandar” e dá-me vontade de fazer coisas como lavar a louça, fazer chá, etc….

A Universidade
Quanto à Universidade, o trabalho tem sido duro para todos. Todos corremos contra o tempo para dar as matérias e fornecer textos de apoio, tentando adaptarmo-nos à cultura, à forma de ser académica de Angola (todos os países são ligeiramente diferentes na sua atitude académica, por opção ou por constrangimentos diversos) e ao cansaço dos estudantes, pois grande parte são trabalhadores estudantes.
Quando vim para cá, tinham-me dito que “Sá da Bandeira”, actual cidade de Lubango, tinha fama por ser a cidade do conhecimento e que, desde o tempo dos portugueses, que havia muita sede de informação – confirma-se. O Slogan da Cidade é mesmo “Cidade do Conhecimento”.
As pessoas trabalham, de dias e/ou à noite e frequentam as aulas à tarde ou à noite. Às vezes, se olharmos com atenção, vemos o cansaço num ou noutro olhar, mas não é ofensivo, como alguns professores pareciam pensar em Portugal (até de mim, que também fui algum tempo trabalhadora-estudante), é um grande elogio, a pessoa estar a fazer aquele esforço por estar ali! Por vezes um ou outro aluno, fecha os olhos, lentamente abrindo e fechando as pálpebras de cansaço. Tentamos dinamizar ao máximo as aulas, com trabalhos práticos, grupais ou individuais, mas parece soar-lhe estranhas estas práticas, todavia depois afirmam gostar muito.
Por outro lado, são pessoas com uma educação única: os estudantes do ensino superior não entravam na sala, enquanto eu (docente) não lhes desse sinal para entrar, quiseram colocar de imediato as regras “na mesa” acerca de atitudes diversas como telemóveis, bater à porta, intervalos, avaliação, etc.
Há pouco tempo decorreu o primeiro momento de avaliação (frequência) e todos pareciam altamente nervosos…

A ideia “europeia” de Angola
Existe uma ideia preconcebida de Angola, muito errada. Aqui há tudo. Pode ser caro, às vezes mais difícil de encontrar, mas há tudo. Há cafés, há restaurantes, há comida de todo o tipo, enfim…
Muitas estradas estão menos boas (o que implica andar de carrinhas todo-o-terreno) mas a estrada para o Kunene, por exemplo, parece ser uma estrada muito recente que todos dizem estar à altura de uma auto-estrada portuguesa (se calhar até melhor, porque já paguei muitas auto-estradas em Portugal, que depois tinham buracos e obras!)
Segundo alguns alunos meus também (depois de uma aula sobre preconceitos e estereótipos em Psicologia Social), existem muito mais ideias feitas sobre Angola como, por exemplo, que “é um país onde existem muitos conflitos”.
O povo quer é paz, isso é certo, e parece ser um povo pacífico. Penso que estão dispostos a tudo para não cair em guerra de novo. Raramente se ouve notícias de violência.
Agora que o mundo parece assistir a uma importante viragem (refiro-me a Obama nos US of A e a tudo o que isso/ele poderá implicar!!!), é realmente o momento de começar a erradicar muitos preconceitos em relação a muita coisa….

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