Friday, November 13, 2015

Saudopatia?

Tenho saudades. Não sou saudosista. Talvez tenha saudades de uma forma um pouco patológica.

Saudopatia?

Cá estou. Num café. Sozinha. Banal. Olho em volta e faz sentido que eu esteja na companhia do meu bichinho (o computador), pois estou só. 

Mas parece que todos os outros também estão. Grupos de 3, 4 5 pessoas e casais. Todos com telemóvel ou tablet na mão. 

Visão já habitual para todos, não é?

Todos olhamos. E todos concluímos algo acerca desta visão. 

Mas depois olhem para os rostos. E fiquem a olhar uns segundos.

De vez em quando, um breve sorriso. Mas maioritariamente seriedade. 

Tenho saudade de ver um casal apaixonado.

Tenho saudade de ver um casal, à minha frente, a olhar-se nos olhos, de tal forma que nada mais existe (toda a gente sabe como é...) e mesmo eu, uma estranha do outro lado da mesa, consigo captar aquela energia à distância.

Mais do que tudo, tenho saudade de ver um grupo de amigos a "escacar-se" a rir numa mesa de café.

A criar memórias. A gravar emoções.

Tenho saudade de ir a uma discoteca, dançar, curtir, sem ver "cenas" de embriaguez ou má educação, ou a ambulância.

Tenho saudade da educação, da elegância, da reverência, da diplomacia, do carisma. Em todas as situações da vida.

Tenho saudade da palavra convite. Da palavra encontro.

Tenho uma certa saudade do mistério. Não do mau mistério, aquele que algumas pessoas definem como "não posso dizer isto ao outro por causa do que ele vai pensar", mas do mistério intencional, ao mesmo tempo inocente, da consciência plena que o outro é muito mais do que o que eu sei ou até imagino. Da subtileza que eu própria estou sempre a conhecer-me e a surpreender-me mais um pouco (felizmente)!

Tenho saudade de um tempo sem SEXUALIZADORES. Adoro destruir tabus do sexo (sou psicóloga e esse assunto é-me comum...) mas destruir tabus e falar de sexo, não é a mesma coisa do que sexualizar tudo.

Os sexualizadores vêem sexo em tudo, sexualizam um olhar, um café, uma palavra.  

Tenho saudade da subtileza frontal, mas assertiva. 

Tenho saudade dos tempos dos preconceitos abertos.

Estúpido, não é? Agora os preconceitos existem todos, mas toda a gente se mascara. Toda a gente finge ser equalitário. Todos julgam todos.
Fazem análises interpretativas complexas do que significa aquele post no facebook, o que é que a pessoa queria dizer quando disse isto ou aquilo ou quanto pôs a mão na testa naquele momento!!??? Tudo significa algo...na mente de cada um, interpretações selvagens, impregnadas de idiossincrasia.

Tenho saudade daqueles seres que escreviam cartas de amor. Ainda existem?


Sou saudopata?

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