Poema Publicado na Antologia de Poesia denominado "QUARENTENA - Memórias de um País Confinado", por Chiado Books
Permaneci
Estes dias, fomos amor.
A
quilómetros de distância, no meio de uma pandemia
Despimos
a alma
Deitamos
as entranhas de fora, para amar.
Acreditamos
estar certo que o longe era, na realidade, perto
e que
podíamos germinar.
Apostamos.
Jogamos tudo. Por dentro das horas da noite.
Através
de plásticos brilhantes
ouvidos
atentos e corações quentes.
E achamos
que era o verdadeiro eu que estava no centro.
Mas não é
a distância que mata. Não é o vírus que tememos.
É a fuga
das palavras pesadas que magoam.
É a perda
do tino por dentro.
É o
confronto gratuito e vazio.
É o
desrespeito que poderia ter sido eterno destino.
E então…
estes
dias, estive contigo, dor.
Entrei
dentro de ti e senti-te a fundo.
Ouvi-te e
percebi o que querias dizer.
Ouço-te
plenamente. Sinto-te profundamente.
Contudo,
não entrarei nas tuas estranhas entranhas, façanhas.
O meu eu
permanece. Tu não és o EU.
Eu
tenho-te, dor. Eu não sou a dor.
Pela
primeira vez consigo te avistar sem me perder em ti.
Saboreio-te,
porque és dor de amor.
Talvez a
melhor dor de sempre para sentir.
Perdi
amor, ganhei dor, mas permaneci em mim.
Patricia Araujo, Maio 2020
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