Thursday, May 05, 2011

A Morte

A Morte

Raios. É difícil começar a escrever um texto sobre a morte dos seres humanos. Há alguns meses, estava numa alegre conversa com um grupos de pessoas, que tinha acabado de conhecer havia pouco tempo. Eles tão pouco sabiam nada de mim (e talvez continuem sem saber). Depois de várias horas de conversa, a certa altura, já nem me lembro porquê, falei da morte.

Com a naturalidade com que se fala de couves, cortes de cabelo ou do último filme do Tarantino.

Quando não é, que uma das pessoas reage quase violentamente, dizendo “Como podes falar assim da morte? És tão mórbida”. Não sei quando foi que, os seres humanos, começaram a ter tanto medo da morte. Medo de envelhecer. Medo das rugas e da celulite. Medo das peles flácidas. Não sei. Mas isso assusta-me. Assusta-me que as pessoas se assustem tanto com a morte que nem sequer consigam dizer a palavra.

Mas nem sempre foi (ou é em todas as culturas!) assim. Há algum tempo atrás, as pessoas celebravam esse momento. O fim da vida. Em muitas culturas, faziam-se festas e acompanhava-se aquela pessoa nos seus últimos momentos. Não se fugia das pessoas moribundas. Não se lhe negavam os últimos momentos com os vivos. Os vivos não só têm medo da morte como têm medo de estar perto de pessoas que estão a morrer.

Alguém que fuja da morte, foge da vida. Alguém que tenha um receio forte da morte, vive a vida com muitos receios. Talvez seja palavreado de psicóloga misturado com a filosofia yóguica, mas é o que penso. E não é por não ter estado perto da morte, porque já estive. Aliás, há 100 anos ou menos, talvez estivesse mesmo morta. Se não fossem algumas técnicas da medicina actual, talvez estivesse mesmo morta.

Se no avião no qual regressei de Frankfurt (depois de estar num intercâmbio na Áustria), a “Cracking Window” (como dizia o comandante) tivesse “crakado” mesmo, eu não estava aqui (tivemos de voar bem baixo e retornar ao aeroporto de Frankfurt, debaixo de berros e pânico de todos os passageiros e vários membros da tripulação!).

E desejei morrer algumas vezes na vida. Eu compreendo se o leitor não me compreender. Desejei, do fundo de mim, que acabassem todas as preocupações e as dores de tantos tipos e desejei encontrar paz, e essa paz, parecia vir da parte. Nunca pensei suicidar-me. Mas pensei terminar. Simplesmente terminar. Não ser eu a desligar a Televisão, mas simplesmente a desejar que ela se desligasse. E, no entanto, quem me conhece minimamente, sabe que eu sou uma pessoa com grande paixão pela vida. Talvez, por isso, tenha grande paixão pela morte.

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