Friday, June 06, 2008

O Desfile do Ego


Há semanas aconteceu algo que julgava impossível de acontecer nos dias de hoje.
Tive de contactar uma pessoa, a quem chamarei Eng.XPTO.


Falei o que precisava com esse Eng. XPTO e tudo parecia resolvido. Ele não me tratou por Dra.xpto, eu não disse nada, claro.


Passado uns dias, o seu secretario, envia um email, afirmando que eu não devia tratar pessoas com títulos superiores por Eng., uma vez que o tal eng.xpto possuía já doutoramento e dava aulas também numa faculdade e, logo, eu deveria tratá-lo por Prof. Doutor XPTO, e não ter feito isso era uma grande falta de respeito e educação da minha parte.


Nem imagino com cara devo ter ficado. Pensava mesmo que isto eram atitudes do tempo da minha avó, em que poucos eram doutores ou engenheiros, e o título era mais importante do que tudo o resto.


Foi então que nessa semana fiquei mais atenta para o ego.
No yoga, o ego, a individualidade, é a primeira coisa que devemos perder.
Sabem aqueles dias que recebemos um enorme elogio, e parece que tudo dentro de nós sorri? Isso é o ego. E naqueles dias em que algo corre mal e somos insultados e queremos reagir e partir tudo? Isso também é o ego.
No senso comum, chamamos a alguém “grande ego” quando essa pessoa puxa de galões, acha-se o maior.


Mas esta situação ainda é mais estúpida porque ficamos sem saber se o eng xpto é um grande ego, ou se o secretario é um estúpido adorador de egos, ou se o eng. Expto é um grande ego que não se assume e usa marionetas para dourar o seu grande ego.

Passado uns dias assisti a uma perfeita cerimónia do ego. Num mundo com pessoas à fome, num país como Portugal com tantas problemáticas para resolver, e os egos lá desfilava sem contribuir em nada para um mundo melhor, só usando os seus títulos, desfilando em vestes simbólicas, como deuses num Olimpo inventado pelos homens (e talvez pelas mulheres também).

Quando é que passamos a barreira em que ser chamado por doutor ou engenheiro é mais importante do que ser chamado pelo nome próprio?
Será que ao receber esse titulo algumas pessoas sofrem um renascimento?
Renascem para o “dark sid of the force”?

Demorei dois anos a entrar para a faculdade.
Entretanto, trabalhei. Lembro-me de acontecer algo parecido com este epiosido. Corria o ano de 1996, há mais de 10 anos atrás.
Num atendimento, uma senhora com cerca de 60 anos dirigiu-se a mim. Atendi-a como sr. Fulana, e ela, em segundos de imediato me corrigiu “é Dra.fulana”.
Como uma jovem a querer entrar para a faculdade, fiquei confusa com a atitude. Alguém, culto, educado, como poderia fazer aquilo?


Logo conclui, como defesa da minha própria auto-estima, que se tratava de uma mulher que, no tempo dela, devia ser das poucas com um curso superior, e que aquilo teria então provocado o tal renascimento. Coitada.

Respeito e educação, conquistam-se. Não são adquiridos por um título qualquer. Seja esse título pai, mãe, irmã, marido, doutor ou engenheiro(a).

Hoje, possuo o título de "doutora"(licenciada). Quase o de mestre. E já frequentei o doutoramento. Não sou perfeita, por isso, peço ao universo para nunca me deixar cair nessas artimanhas do ego.

1 comment:

Oreste said...

Hello Patricia, a kis from Rome. Ciao