Wednesday, October 17, 2007

Chegar aos 30

Já lá vai em Maio a última vez que escrevi algo. Realmente, a minha percepção de tempo tem andado muito alterada. Há uns anos atrás parecia que nada passava, tudo custava, a vida não fluía.
Desejava conquistar o mundo, e acabava sem nada ou sem grande coisa. Há dois anos atrás parei de desejar tudo , de repente, tudo começou andar muito depressa.
Será que tem que ver com chegar aos trinta?
O meu sonho de ser escritora, ou melhor de ser contadora das histórias que me saiam da cabeça tão naturalmente, parece que acabou. Talvez por isso escreva menos. Talvez esteja curada da minha hipergrafia.

Se estou curada, resta saber se a cura me agrada mais do que a doença...
Afinal, tenho o direito de ter uma doença que gosto, não?
Tenho saudades dos meus antigos ataques de escrita, o não conseguir parar de escrever, as ideias a jorrar, a mente a ferver, a ansiedade da leitura de outrem...

Terão os quase trinta me roubado a doença? Será que o meu inconsciente curouo-me sem que o meu consiente soubesse?
A verdade é que se a oportunidade não surgiu, então não devia mesmo ser por aí. Não era suposto eu escrever nada para outros lerem.
De vez em quando ainda me dá esta vontade de escrever, mas neste momento do tempo, o universo criou os blogs que servem perfeitamente para dar vazão aos meus breves e raros casos agudos de hipergrafia.

Entretanto, produzo dezenas de textos todos os meses no âmbito científico. Relatórios disto e daquilo, memo's, reflexões, cartas, etc.

Obtenho o mesmo prazer do pressionar destas teclas. Por isso, talvez no fundo o que mais saudade me dá é de já não ter tantas histórias a jorrar, e quando, ocasionalmente uma começa aos saltos e me faz arregalar os olhos, contento-me em saber que o bichinho ainda lá está...e medito, em semi-lotus, em silêncio.

2 comments:

Anonymous said...

Essa história de que só é, verdadeiramente, um escritor (ou escritora) alguém que não para de escrever, está mal contada... anda por aí muita gente que escreve e fala e pouco diz. Todos os momentos da vida são válidos e este não é excepção. Estou certo de que o mundo ainda há-de ter novas tuas... além disso, só há que comunicar quando nos apetece, não é? Vai meditando em lotus e ouve o que o universo te diz. Pode ser que te confidencie algo...se achares que vale a pena, podes contar-nos, a nós, seres mais imediatistas. É que tu és diferente. Raciocinas bem a três níveis: profundo e sentimental, terreno e lógico e esperitual e etéreo. É raro. Acho que é por isso que escrevo aqui estas linhas e não em outro lado qualquer.

Lw1Z - AkA Luiz Afonso said...

A doença está lá, você pode tê-la curada, mas não está imune.

A fera (ou bichinho) não precisa de muito para acordar. Como o anônimo dissera, todos escrevem, mas parece que você tem o dom de organizar melhor as idéias em letras. Então a criatura só necessita de um estímulo para fazer seus movimentos coordenados e não dispersos como todos o podem fazer.