Tuesday, April 14, 2020

Amor em tempos de Covid-19: Finalmente, vamos ler o Manual de Instruções? - POr Patricia Araujo (Publicado Sapo24)

Amor em tempos de Covid-19: Finalmente, vamos ler o Manual de Instruções? (Publicado In Sapo 24)

Patricia Araujo, PhD. 
CEO da Método Positivo Consultoria
Consultora Employer Branding, Organizational Happiness 😊& Internal Marketing
Professora Universitária no IPAM, ULP-Univ. Lusófona do Porto & ISMAT-Instituto Sup. Manuel Teixeira Gomes
Instrutora de Meditação, Yoga & Mindfulness
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#Metodopositivoconsult

Há cerca de uma década, em África, estive em quarentena cerca de 4 a 5 dias, com febre, diarreias e vómitos, e até hoje não sei que ‘bicho me mordeu’. Os resultados mostravam-se inconclusivos para a malária e os anti-corpos da febre tifoide atacavam a toda a força. Lembro-me do médico, meu amigo dizer: “Esqueça, dificilmente vamos descobrir o que é isto. Vamos esperar pacientemente e ver a evolução”. Isolados, sozinhos, do outro lado do planeta, sem família por perto, omitimos a todos o que se estava a passar. E passou. Não deixei de amar África, partilhei essa quarentena com um grande amor da minha vida e ela tornou-nos mais próximos.
“Amor em tempos de cólera”, de Gabriel Garcia Marquez (colombiano), conta a história do amor entre Florentino e Fermina, que passaram mais de 50 anos quase sem contacto. Na sétima arte, imortalizado pelo espanhol Javier Bardem (nascido em Las Palmas, de Gran Canaria) e pela belíssima romana-Italiana Giovanna Mezzogiorno. Dois países hoje assolados pelo nosso sétimo coronavirus. Dois dos países, línguas e culturas que adoro profundamente.
Na obra, reflexões comparativas entre a doença que é o amor e a devastadora pandemia daquele momento histórico - a cólera - emergem discreta e elegantemente. Fernanda Montenegro (idónea actriz brasileira, conhecida por certo de todos os portugueses), assume o papel de Mãe de Florentino (Bardem). Numa cena entre mãe e filho, Florentino, chega a casa, com o que parecem os sintomas da cólera, gemendo, vomitando e com febre:
Mãe: - É cólera, meu filho!
Florentino: - Não, mãe. Eu entreguei-lhe a minha carta…. agora tenho de esperar resposta.
Mãe: - Então filho, goza bem essa dor, tira vantagem dela agora! Enquanto és jovem. E sofre, meu filho, sofre tudo o que puderes, porque estas coisas não duram a tua vida toda.
E a vida toda, é bem curta, como sabemos. Como psicóloga (especializada em MBCT- Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness) e como professora de Mindfulness, estas sábias palavras maternais indiciam o que muitos sabemos e que a ciência confirma: mergulhar e aceitar a dor é a melhor forma de a ultrapassar e integrá-la no nosso ser. A dor é útil, é funcional e adaptativa. ‘A Dor é inevitável, o sofrimento é opcional’ (Buddha). A dor emocional que vivemos nos relacionamentos amorosos pode ser só dor e não se transformar em sofrimento, desde que dominemos a nossa narrativa.
Nestes dias, surgem estatísticas de divórcios, mais intensificados na China, mas que, estimo que surjam um pouco por todo o mundo e em diversos contextos, já que o comportamento humano tende a ter padrões.
Contudo, mais uma vez (e como sempre), esquece-se o resto: Quantas relações começaram neste tempo? Como se começa o amor em tempos de Covid-19? Quantas relações se estão a firmar mais fortes estes dias? Quantas memórias emocionais positivas estarão a ser criadas entre casais ou outros relacionamentos com figuras relevantes? Alguém tem essa estatística? Quantos relacionamentos em isolamento (num mesmo espaço ou à distância) estão a consolidar-se, enquanto lemos este artigo? Quantas abordagens criativas podemos agora conceber com tudo isto? Será “longe da vista, perto do coração” ou “longe da vista, longe do Coração”?

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