O Homem Lagarto ou "Que tal sexo reptiliano?" : um excerto de um livro work-in-progress
"Em momentos, ficamos frente a frente.Tudo estava simplesmente claro: ele era um príncipe. A aventura sexual tinha acabado e eu não me importava. Já chegava.
Podia não ser muito, mas tinha sido suficiente. Ele aproxima-se para me beijar. Respiro fundo. Penso ‘caramba, cá estou, vai começar tudo de novo, um novo amor, a entrega, a emoção, vai ser tão bom…vai ser tudo tão…’ e, de repente, sou beijada fortemente, com língua e avanços e recuos sôfregos, que nem sei como explicar, sou invadida por beijos estranhos que começam a dar-me uma repulsa profunda que vem do mais fundo de mim.
Não há palavras, só me aparece uma expressão enquanto ele me beija: ele era um homem-lagarto. Não fui capaz de ser direta. Não quero ser de novo a Cinderela, mas o beijo é algo fundamental, então o primeiro beijo, nem se fala. Disfarcei como pude e fui para casa com um nó no estômago.
Um montão de sms’s surgiram no dia seguinte. Lindas, maravilhosas…mas vindas do homem-lagarto. Como era possível? Tanta expectativa depositada? A culpa era só minha, claro.
Aquela língua a deambular, nervosa, os lábios que não paravam quietos por dois segundos, os encontrões de queixo, de maças do rosto estranhas e desarticulados, um terramoto facial…
Ele parecia fazer todos aqueles movimentos com prazer, com uma enorme emoção. Semicerrando os olhos e deixando-se levar por ondas absurdas de paixão. Por esta altura, já visualizava crocodilos, iguanas...mas principalmente camaleões, com a sua língua comprida a comer insectos, certo? E ocupava o tempo com pensamentos de cultura geral: "Que mais répteis existem?" [e mais uma lambidela], "Meu Deus, a minha cultura reptiliana é realmente fraca, mas serve para esquecer que estou aqui!" [cobras? línguas de cobras? línguas, línguas, línguas...tenho de pensar noutra coisa...]
Pensei, pensei. Pensei. Juro que pensei. O correto e maduro seria sentar-me com ele, abrir o jogo, que éramos incompatíveis e sei lá mais o quê.
Se calhar há mulheres que adoram este tipo de beijos balbuciantes, camaleónicos, reptilianos, mas não eu. Arrepiava-me só em pensar em línguas.
Tinha de arrumar o assunto com alguma honestidade mas não queria estar com ele de novo. Todo aquele ser, personalidade, gestos era altamente incompatível com aqueles beijos.
No
final mostrou-se bastante fácil. Escrevi uma sms “X, vou ser sincera. Desculpa fazer isto por sms, mas não estou
pronta para entrar num relacionamento, ainda por cima com um ex-namorado de uma
conhecida. Parece-me que ainda existem pontas soltas e prefiro não entrar em triângulos. Além disso, ainda não me sinto pronta. Mesmo. Lamento. Espero que compreendas”.
A
partir daí, fui alvo de um certo ghosting
(termo da moda). Ele desapareceu completamente do mapa. De quando em vez eu
procurava-o no facebook, etc., mas ele evaporou. Neste caso facilitou-me
bastante as coisas porque decididamente répteis não são os animais de estimação
ideais para mim."
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