Wednesday, June 08, 2011

Hoje transformei uma tábua de passar a ferro num cabine para écharpes


Não há melhor forma de perceber o provérbio “a necessidade aguça o engenho”, do que realmente passar pela situação de ter pouco.
Já vos aconteceu uma tábua de ferro simplesmente reintegrar-se? Cair ao chão cada vez que tentam passar a ferro uma peça? Gingar como uma doida? E já vos aconteceu sentirem que pagaram por um produto que simplesmente não presta? Pois, isso é comum aqui em Angola, e talvez noutros sítios. Toda a gente vende coisas a preços exorbitantes, tentando realizar lucro com produtos péssimos.
Então, o que fazer? Por a tábua ao lixo? Não. Desmontá-la. Aproveitar cada parafuso, cada dobradiça, e a própria tábua, que um dia servirá para algo. E sabem aquele suporte de metal onde pousámos o ferro? Para que poderá servir? Como reciclá-lo? Alguns segundos depois, o insight. Um cabine para lenços.
É assim o viver todo-o-terreno. Transformar coisas noutras coisas, libertar a mente das regras que a sociedade nos incutiu, levar o desenrasque ao extremo.
Como psicóloga, tomo consciência por vezes das alterações que isto provoca nos meus engramas cerebrais, nos caminhos que vinham formatos desde há muitos anos e que começam agora a encontrar outros caminhos para chegar ao resultado. Novas formações neuronais, “Breakthroughs”.
Muitas vezes tem isso acontecido nos últimos meses que estou em Angola.
E mais uma vez, estou sem televisão. 
Desde que cheguei a Angola, em 2008, foram poucos os meses em que tive uma Televisão. Não sei o que seria de mim se não existissem filmes e música em formato electrónico. Mas agora, tudo depende de mim, sou eu que escolho. 
Não me submeto às escolhas dos produtores de TV. Claro que tenho saudade de algumas séries e filmes e tenho saudade de simplesmente não fazer escolhas e ver o que me colocam à frente. Porém, tem as suas vantagens. Já há muito que havia decidido deixar de ver noticias na TV. Por vários motivos, sendo um dos principais o facto de estar a contribuir para o aumento de audiências e, logo, estar a passar a mensagem de que assisto àquele canal porque quero. Quando o pessoal das sondagens faz estudos, parte sempre desse principio: as pessoas viram, aumentaram as audiências, logo, devem tê-lo feito porque realmente escolheram ver aquilo! Não é verdade. Assistimos a coisas só porque sim, porque a TV faz companhia, o uporque aquele canal é mais sensacionalista ou porque passa as noticias da forma mais DRAMÀTICA possível. 
Se deixarmos de o sintonizar, pode ser que eles passem a emitir as notícias positivas. E isso é algo que Angola ainda tem e espero que não perca. Quando ocasionalmente vemos um noticiário ou lemos um jornal existem muitas notícias positivas: projectos de sucesso, iniciativas com impacto positivo, pessoas que conseguiram grandes feitos, ou pessoas que conseguiram pequenos feitos…
A Europa afunda-se a olhos vistos, não tem crescimento económico, tem taxas elevadas de depressão e suicídio, e parece estar muito infeliz, porque dos milhares de eventos que ocorrem todos os dias, a comunicação social escolhe conscientemente noticiar apenas os que são drásticos, dramáticos e negativos. Porque descobriu que isso vende bem…
Um outro exemplo curioso. Em Portugal, quase todas as pessoas têm microondas. Eu também tinha e usava apenas para aquecer um leite ou descongelar algo rapidamente. De repente, quando me encontrei sem fogão, sem banca, sem cozinha em geral…o meu microondas passou a ser um soldado universal, pronto a receber qualquer tarefa! Faço Pizzas, bolas de carne, bolças vegetarianas, gratinados vegetarianos, bacalhau gratinado, bolos de coco para sobremesa, bolos de iogurte, enfim…agora tudo parece possível. 
Agora tudo é possível. A mente está preparada para se adaptar. A mente já não diz que não é possível. Já não diz que não tem tempo, já não diz que não há condições, já não pensa que não há recursos. A mente simplesmente acredita que é possível e, logo, tudo será possível.

1 comment:

Anonymous said...

Ai o que me ri!

Realmente aqui temos que aprender a reinventar, sem desesperar!

Beijinhos

Ana