Friday, September 05, 2008

Psicanálise dos três porquinhos


“Era uma vez ...” – começava a minha mãe a contar novamente a história dos três porquinhos.
Milhares de vezes lhe pedi, e milhares de vezes contou.
Era como se não conseguisse dormir em paz sem a sensação de certeza que uma casa de cimento é que nos protegia. Hoje que analiso, faz sentido.
Em todas as histórias havia lobos maus ou bruxas, fadas ou princesas, venenos ou feitiços. Mas nesta não havia nada disso.
Agora que me psicanaliso devidamente, gostava da história porque a solução era bastante fácil, acessível e concreta. Não era necessária uma chave mágica, uma reversão de feitiço ou determinada postura mental: a resposta era bastante básica. Tijolo em cima de tijolo, com cimento ou betão, não sei o que usavam na altura. No fundo, era uma obra da humanidade que salvava a humanidade (ou, este caso, os porcos).
Talvez devido à sua simplicidade eu gostasse da história.
Por outro lado, o lobo mau não queria um trono, um reinado ou conquistar o mundo: queria algo muito lógico, simples e básico: comida.
No entanto, hoje já nada faz muito sentido.
Inventamos casas cada vez mais sofisticadas, de cimento e betão armado, agora com alarmes e outros automatismos fabulosos.
Continuamos a fugir e a refugiarmo-nos nelas, em vez de enfrentar o lobo mau de uma vez.
Ou por outro lado, tornamo-nos no lobo mau porque comemos porcos sem a mínima piedade (se calhar por isso, sou vegetariana).
Não albergamos os nossos irmãos (porcos) quando eles precisam, quando as casas deles se mostraram demasiado fracas (veja-se todas as tragédias por todo o mundo e muitas vezes na nossa própria terra), agora, simplesmente viramos a cara não querendo ver os nossos irmãos porcos a serem trucidados por lobos maus.
Fechamo-nos então nos nossos palácios grandiosos e materialistas, hiper-protegidos de todos os lobos-maus exteriores, e começamos a fazer criação de lobos-maus interiores.
Porque o maior lobo mau que existe, existe em nós e chama-se medo.
(Voltemos ao básico, ao simples. Viver sem medo…porque o porco e o lobo eram animais e, pela ausência de córtex cerebral não podiam se compreender mutuamente e reconciliar-se. Nos podemos.)

2 comments:

Anonymous said...

Escrita palpitante neste sítio, post deste modo demonstram valor a quem quer que observar neste sítio .....
Dá maior quantidade do teu espaço, aos teus cybernautas.

Anonymous said...

Então bonita esta página parece muito organizado.........bom trabalho :)
Adorei faz mais posts assim !!