Monday, April 21, 2014

Às vezes, fico cansada de um mundo assim...

Há dias que viver cansa muito.
Às vezes fico cansada de um mundo assim.
Fico cansada de um mundo que culpabiliza as pessoas pelo que lhes acontece.
Fico cansada de as mulheres continuarem a ser tratadas como estereótipos andantes.
Que ainda haja pessoas que acreditam piamente que terminar relações é pecado e que a culpa é da mulher que não tratou bem o seu marido, porque não lhe fazia o jantar e não dobrava as meias.

AAHHHH!!!!! Sim, isto é um grito. Nunca fui boa a escrever onomatopeias.

Fico cansada de um mundo regulado por normas e regras, e Rankings, e Fatores de IMPACTO, e índices e RATINGS.

Não sei o que teria sido do Sartre ou da Simone de Beauvoir num mundo assim.

Fico a explodir e preconceitos.

Fico estupefacta quando há pessoas que me dizem que ainda há pessoas em Portugal a casar por obrigação.

A casar porque viver junto é viver em pecado.

A casar porque os pais e outros elementos sociais os chantagiam para casar.

Fico triste que tantas pessoas achem que procurar a felicidade é errado, mas é correto continuar a viver nos standards definidos naquele meio (aldeia, cidade, bairro, país).

Fico revoltada que tantos seres humanos vivam condicionados. E reparem não fico revoltada por eles ou elas tomarem determinadas opções, fico revoltada por tomarem essas opções COM PRESSÃO de Outros, sob coação e que achem que esse é o ÚNICO caminho.

Se surgir um GRANDE pensador nos nossos tempos, ele dificilmente é ouvido.

Dificilmente é Livre.

Se for pela via científica, tem tantas normas e regras e rankings a cumprir que nunca chegará lá, porque a sua criatividade é tolhida.

Se for pela via da comunicação social, também não chega lá porque isso não vende.

Se for demasiado inovador e irreverente, provavelmente é diagnosticado como bipolar ou outra coisa qualquer e é internado.

Às vezes fico cansada deste mundo que se quer libertar, mas quanto mais quer crescer e evoluir mas se encaixota em caixinhas.

Fico com um buraco enorme no peito e na garganta quando as pessoas dizem que devo agir assim e assado para agradar um grande amor. Se se gosta mesmo de alguém temos de fazer o contrário do que pensamos.

Fico horrorizada com a quantidade de homens que se INTIMIDA perante uma mulher que pensa por ela própria. INTIMIDA. Sim, eu sou intimidante, deixem-me estar. Fujam de mim!!!

Fico cansada de viver num mundo que vive a acreditar que já há IGUALDADE DE GÉNERO e de OPORTUNIDADES em todos os campos e que no fundo, não quer ver o que está mesmo à nossa frente.

Um mundo que evolui a 300km/hora em tecnologia e regride a olhos vistos na arte, na criatividade, no pensamento, no humanismo.

Enoja-me. Revolta-me. E sei que amanha esta sensação toda tem de parar. Tenho de voltar a entrar nesse mundo e seleccionar as situações tóxicas para mim e afastar-me delas. E viver no "faz de conta" porque se não serei a MARGINAL. A que vive à margem.

Então ando aqui...entre a margem e o Mainstream. Porque sem o Mainstream é difícil viver. E depois volto para a margem.

Na minha margem do Mundo, todos os seres humanos são iguais. Quer tenha vagina ou pénis. Quer cumprar formatos ou rankings ou ratings ou não. Na minha MARGEM (que não é só minha pois há outros marginais), não há disso. Há pensamentos. Há ideologia. Há igualdade.

Felizmente essa margem existe. Felizmente a palavra MARGINAL já não é negativa. Orgulho-me de viver na margem.

De correr a sete pés de pessoas que vivem nos preconceitos, vivem dentro do quadrado, porque tem de ser. Porque se não viverem no quadrado a sociedade é má, é cruel.

Pois, eu prefiro continuar a lidar com a crueldade do que me vender e ir para dentro do quadrado.

Fico cansada quando as pessoas dizem "ah, coitadinho, teve de ir para fora". Saiam disso. As pessoas e os portugueses, querem viajar, querem ir para fora. Muito pouca gente vai na lógica do COITADINHO. Os portugueses descobriram o mundo! Correram o mundo todo. Não é agora que vamos ficar fechados nos nosso cantinho do céu.

Eu tenho orgulho em todos os portugueses que vão para fora e todos os portugueses que ficam cá dentro, nos que querem ir e não conseguiram...e nos que tiveram convites e disseram que não!!!

Eu adoro o meu país. Eu fui para fora. Eu voltei. E só me entristece que muitos não tenham evoluído de pensamento.

Só me revolta que continuem a julgar, a estereotipar a tentar obrigar as pessoas a pensar e fazer as coisas de determinada forma para encaixar no quadrado.

Bem, já chega. Estou a misturar muitas revoltas num texto só. Talvez ninguém me perceba bem. Talvez só assimilem partes subliminares deste texto ou se identifiquem apenas com pequenas referências.

Mas ao ver a Big picture...

Fico cansada. Apetece-me mesmo ir para o meio do campo e fundar a minha BEIRAIS.

Saturday, April 05, 2014

Liberdade - Independência - Solidão

A vida levou-me num turbilhão de trabalho no último mês. É a vida dos Freelancers ou dos inempregados (para saber mais, ver o blog do meu Doutoramento!)!

Já começava a sentir saudade de escrever sem prazos, sentar-me em frente à tela branca do blogger e escrever as minhas conclusões humanas...ou quando não há conclusões, reflexões...

E nas passadas semanas um tema tem surgido bastante à minha volta: a SOLIDÃO.

Infelizmente para a língua portuguesa (extremamente rica quando comparada a outras!) parece não haver uma palavra que designe o estar só de uma forma positiva.

No inglês, a distinção entre ALONE e LONELY parece adequada. Alone é estar só. Talvez Lonely seja sentir-se só.

Para efeito desta breve dissertação, vou criar uma barreira entre duas palavras.


e
SÓZINHO.

Partamos do princípio que Só é uma palavra mais neutra, mais limpa. Constata um facto. Estamos sós.
E partamos do outro principio que Sózinho é uma palavra com um cariz , um pendor mais negativo, atribuído pelos seres humanos...claro.

Agora sim, posso avançar.

Parece que a sociedade actual foge da SOLIDÃO. Todos parecem achar que estar sem ninguém, é negativo.

A Solidão é já tratada como uma doença social, e apesar de em muitos casos poder ser uma realidade, existe uma vertente da solidão incontornável, positiva, inevitável para quem deseja evoluir...e agora introduzo os outros dois grandes substantivos do meu título: LIBERDADE e INDENPENDÊNCIA.

Só quem sabe estar só, pode ser livre.

Só quem sabe estar só, pode ser independente.

Até a palavra LIBERDADE, uma das mais belas inventadas pela espécie humana, parece ter absorvido teor negativo. "Deste-lhe liberdade a mais..."...

A liberdade e a independência não podem ser dadas. São conquistadas. Não conquistadas AOS outros, como um império à força. Conquistadas por nós a nós próprios...complexo? Sim.

Estar só. A paz de estar só é dos sentimentos mais belos do mundo. Não é estar só por NÃO ter com quem estar, é estar só porque estamos com quem queremos estar.

Se uma pessoa não é capaz de estar consigo própria...será a sua companhia tão desagradável? tão insuportável?

Num filme qualquer uma personagem disse algo do género: tenho sorte de estar só, porque posso estudar calmamente o assunto a matéria mais interessante! : EU próprio!

Como psicóloga, claro que a minha vida roda à volta dos dilemas humanos, das crises das pessoas, da análise, de fazer os outros verem padrões nas suas vidas que eles próprios não conseguem ver. 

Mas, no final das contas, o ser HUMANO que eu tenho sempre comigo para analisar...sempre à mão: SOU EU.

Infelizmente também, quando nos colocamos em primeiro lugar acima de tudo, a sociedade parece nos ter incutido que somos EGOÍSTAS, egocentrados, egocêntricos...todas estas palavras têm um pesar negativo.

Há palavra positiva que designe o eu gostar de mim e de estar comigo? A SÓS? De passar tempo comigo? De me reflectir, de me analisar? De testar os meus limites? de integrar as minhas experiências? 

Não me lembro de nenhuma...sugestões?

Depois, acerca de todos os outros assuntos, opiniões, temas de debate à nossa volta...como podemos formar uma opinião, sem estar só?

Como podemos pensar pela nossa cabeça? pela nossa própria cabeça? Sem vozes à volta, sem tv, sem rádio, sem internet, sem ser manipulado por alguém (mesmo que parece ser para nosso bem),sem NINGUÉM?

Sem solidão, nunca poderá haver liberdade.

Ser livre, é pensar por si.

A SÓS.

Há pessoas que não suportam o silêncio. Por vezes vejo desconforto nas aulas de Yoga ou de meditação quando as pessoas mergulham no silêncio, coisa que não faziam há anos...talvez desde o ventre materno!

O silêncio ensurdece...diz um ditado. Pois, felizmente, o silêncio ensurdece, pois faz-nos ficar surdos para as vozes dos outros e faz-nos ouvir a voz que temos lá dentro. A nossa voz. Que andamos tão atrapalhados no corre corre contra o tempo, antes que chegue a morte (tema sobre o qual também não se pode falar, é melhor fugir!) que não paramos para nos ouvir a nós próprios...

Será que a nossa voz interior não diz nada de jeito?

Será que nos temos a nós em tão fraca conta que nem nos ouvimos?

Será que as pessoas têm MEDO de ouvir o seu silêncio? De ouvir verdadeiramente o que o nosso eu interior lá no fundo pensa, acha, sente?

A nível macro-social como podemos ter pensadores LIVRES, se não sabem estar sós?

Se é tão terrível assim estar comigo, se eu nem se quer quero estar comigo, quem quererá? (faz lembrar uma publicidade qualquer ...eu sei.)

O ser humano é um ser gregário. Vive em grupo, partilha, entreajuda.

Mas desde sempre soube estar só em determinados momentos.

Será que a perda desta competência não explica grandes males atuais do mundo?

Ir a correr para a net ou para o telemóvel porque se PRECISA de estar, de falar, de ver alguém...de ter muitos amigos...é o primeiro sinal de que estamos a fugir de nós próprios.

Se fugirmos de estar connosco, quem somos?