E no fundo, vive-se tão bem quando estamos infelizes.
Alimentamo-nos da energia dos outros, da pena, de nos sentirmos vítimas. Quando
estamos realmente felizes, nao conseguimos ficar lá. OU será que nao queremos?
Chego à conclusão que há pessoas que nao querem. A nossa
sociedade atual dá muita atenção a tudo o que é negativo, tudo o que é
“coitadinho” e as pessoas inteoriozaram que para obter atenção, têm de se
demonstrar negativas, deprimidas, dificeis, infelizes.
Quando aparece alguém na nossa vida que é aberto, feliz,
verdadeiro, autentico...muitas vezes dizemos ou pensamos que aquela pessoa não
está bem. É anormal.
Ser feliz é ser anormal, atualmente.
Ter alegria, ter contentamento, ajudar os outros sem
intenções...é sinal de que qualuer coisa é estranho. Pensamos logo que existem
segundas intenções.
As pessoas desenvolvem muralhas, defesas para se proteger da
excessiva felicidade. É perigoso ser feliz demais.
Como dizia uma parábola zen “Se escrevermos com marcador
branco num quadro branco, nao se distingue. Escrevemos a preto num quadro
branco...”
Para saber abraçar a felicidade, é preciso ter abraçado
muito a tristeza profunda, ter chorado e sofrido “até ao fundo do poço”, para
depois DECIDIR subir até cá acima e viver a felicidade.
Quem nunca viveu profundamente o sofrimento, nao poderá
viver profundamente a alegria.
E quem viveu muito profundamente o sofrimento e,
ironicamente, sentiu algum conforto lá (por mais estranho que parece isto
acontece inconscientemente) pode não DECIDIR subir o poço.
Pode decidir lá ficar. Porque é bom. Porque é confortável.
Porque é estável. É certo. É o mais ou menos. É o “deixa estar não
mexe...porque pior nao pode ficar”.
E depois não se arrisca. Porque DECIDIR subir o polo e ser
feliz, é ter de arriscar. Sabendo que se subirmos até cá acima, podemos descer
até lá baixo de novo, já amanhã.
E às vezes, ficar lá em baixo é mais acolhedor.
É preciso muita coragem para ser e ficar feliz. É preciso
decidir. DECIDIR.
E com isto nao quero dizer que é uma vida menos válida.
Querem ficar lá em baixo, segurinhos, fiquem. É simplesmente sinal que não
estão prontos. Quere ser feliz é arriscar tudo. É colocar as estranhas todas de
fora. É expor-se aos outros. É por-se a nu. Tudo a nu. É realmente “dar a outra
face” se for preciso. E ser feliz não quer dizer não ter momentos de dúvida,
incerteza, medo, defesa, tristeza. É integrar esses momentos todos no eu. É
perceber que eles fazem tanto parte da felicidade como quando estamos em pleno
sofrimento e, por vezes, temos lampejos de felicidade...
Ter coragem para ser feliz, é ter coragem para aceitar tudo
isso, integrado no nosso eu, e mesmo assim arriscar. É fazer uma gestão do
risco emocional, e decidir ir em frente.
Não saímos à rua só com calças. Nao temos de escolher entre
vestir calças ou camisola ou casaco. Não há “Ous”. Há “Es”. Vestimos as calças
(tristeza), o casaco (a alegria), a camisola (dúvida), calçamos os sapatos
(insegurança), o cinto (certezas) e todas as mais metáforas que quisermos. Faz
tudo parte de nós. E Depois...temos um conjunto...que é o nosso EU. Quando
tivermos coragem de integrar o conjunto, e aceitá-lo como um todo inseparável e
com harmonia, aprenderemos a ser felizes. Se recusarmos o “conjunto”...
escolhemos ser infelizes, pois estaremos a negligenciar parte de nós.
É preciso muita coragem para ser feliz. Parabéns a todos
aqueles que são “demasiado” felizes.
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