3 gerações – 1 noite
– 6 horas
Há uns dias saí
à noite. Com este texto, não quero soar como um “velho do restelo” que vem –como
sempre ao longo da história – fazer as suas queixas e observações de como a
geração seguida está condenada, à rasca, ou outra qualquer reflexão que a geração
mais velha faz da mais jovem. Isto aconteceu ao longo de toda a história e há
registos de Aristóteles dizer algo do género.
Não é essa a intenção.
Ao longo de toda
a minha vida eu saí à noite. Desde os 15 aos 36, com mais ou menos frequência,
em várias cidades de Portugal. Se tivesse de fazer uma média, talvez umas 3 a 4
vezes por ano saí numa noitada entre amigos, com dança e disco até às tantas.
Umas foram ótimas,
outras satisfatórias outras péssimas, como é óbvio. Não sendo especialista no
ramo, sou especialista (dentro do que é possível e cognoscível!) em
comportamento humano (se 11 anos de carreira em Psicologia não o são, não sei o
que poderá sê-lo).
Ao longo da
minha vida saí à noite. No início, naqueles tempos em que, com 15 ou 16 anos,
saí com primos, tias, pais e era aceitável e saudável sair com os pais, e
aprender algumas coisas com eles. Passando a fase de sair com os namorados,
maridos até à fase de sair com amigos e amigas, bem ou mal conhecidos.
Há dias saí a uma daquelas discotecas
conhecidas, que já mudaram de nome (e talvez de gerência) pelo menos umas 7
vezes (que me lembro, assim de momento), em 10 ou 15 anos. É uma casa conhecida
e reconhecida e apesar de não ter gostado da noite, não revelarei o nome,
porque a intenção não é fazer queixa ou denegrir a imagem de um estabelecimento.
A Noite era fraca.
Num espaço onde poderiam caber talvez 300 pessoas em simultâneo ou até 1000 ou
mais ao longo das entradas e saídas da noite, estiveram presentes, na minha
visão, umas 50 ou 60 pessoas desde a uma e tal da manha até às cinco.
Enquadrado o
panorama, vamos ao que interessa.
A certa altura
encostei-me para trás, depois de já ter queimado por certo muitas calorias em
dança, e liguei o meu “reflexómetro”.
Os jovens,
presença assídua na noite, com idades algures desde os 14, 16 ou 18 (apesar de
ser ilegal, todos sabemos que eles estão lá) até aos 20 e picos.
Os trintões (onde
me insiro), desde os 30 até aos 45 anos, num tempo histórico em que, para mim,
é cada vez mais difícil adivinhar idades, graças a forte prevenção do envelhecimento.
E a geração após
45, até aos 50 e tais, os quais vemos, nitidamente, que se há uma década eram
pouco presentes na vida noturna, agora, em quase todas as saídas, esta geração
sai. Sai porque gosta da noite, sai porque quer prolongar um pouco a juventude
ou sai, claro, para o “engate” (que para mim é um termo de flert, engraçado e
não visa ser insultuoso).
Algures no meio
estava eu. Saída da geração jovem e a caminho da outra.
Penso que qualquer
pessoa reflexiva e madura, cai na tentação de ter aqueles pensamentos do
costume “esta geração está perdida, só quer borga…é indecente…etc.etc”. Claro
que nos passa pela cabeça. É inevitável, o nosso contexto foi outro e a educação
e cultura estão entranhados no nosso superego, de forma quase cravada. Ultrapassando
isso, passamos a uma análise quase antropológica.
Cada geração tem
o seu ritmo, os seus quês, as suas verdades, as suas resoluções, os seus
motivos de existir no desenvolvimento da espécie humana. É o que eu penso.
Encosto-me para
trás e fico a pensar nisso. Qual será a função desta geração? Têm 16 anos e afirmam
que o seu livro preferido são as “Sombras de grey” e o filme preferido é o “Nymphomanic”
(informação em primeira mão, numa formação que dei a jovens!). Falam de sexo e
fazem-nos sem grandes tabus.
Histórias (preocupantes)
relatam-me atos sexuais em casas de banho escolares. Paralelamente, são púdicos
e preconceituosos face aos trabalhadores do sexo. Insultam-nos facilmente, com os
insultos que já conhecemos.
Na sua opinião,
realizar sexo frequentemente e facilmente, sem tabus, sem sentimentos, em troca
de favores, melhoria do ego, umas bebidas, jantares ou prendas à borla, é aceitável, mas alguém
que o faz estruturadamente e faz disso profissão, não é aceitável.
Do outro lado, na
geração com mais de 45 ou 50, observei dois pólos opostos. Casais, aparentemente
recentes, que parecem estar a começar de novo. AS taxas de separações e
divórcios trouxeram aberturas e liberdade para a qual todos havíamos lutado
durante muitas decádas. Por consequência, é claro, procura-se relações mais
tardias. No reinicio de relações após os 45, claro que, a muitos, apetece sair,
dançar, curtir.
Uma outra
vertente, e lamento aqui a minha expressão subjetiva, os “abutres”.
Essencialmente homens, à procura que no fim da noite, sobrem alguns restinhos. Nada
de mal, cada um tem o que pode, e só aceita quem quer, mas são fáceis de detetar.
Tudo bem. Falta
os trintões. Claro que estão também a recomeçar algo ou então, vão sair com os
respectivos namorados ou cônjuges. Vi poucos neste última caso. Não vi quase
nenhum casal. Deduzo que grande parte fossem solteiros.
Esta geração
situa-se num limbo curioso. Quer o aspecto jovem num parceiro/parceira, mas
quer a estabilidade e maturidade da geração acima dos 45!? Será possível? (Claro
que há também abutres, em todas as gerações!)
Os jovens
dançam, adoram agora a quizomba, as influencias africanas, algum house (pouco),
alguma coisita brasileira. São fases. Mas estão todos no engate. Um engate direcionado
para qualquer coisa que tenha pernas (homens e mulheres). A sedução existe, mas
a palavra sedução não se parece adequar. Não há …Charme. Charme não é uma
palavra que eu use regularmente, mas é uma palavra excelente. Não há charme. Há
flert, há invasão de barreiras, há tentativas toda a noite. Ao contrário de há
15 anos atrás (quando eu comecei a sair), os homens dançam. E muito. E bem.
O ritual de
acasalamento mudou, mas agora não é para a reprodução, claro, é só mesmo para o
acasalamento. Mas homens e mulheres assemelham-se bastante nos rituais físicos.
Existe hoje
alguma igualdade no processo. Dançam e abanam, olham intensamente, metem
conversa rápido, sabem tudo uns dos outros rapidamente, adicionam-se no facebook,
e têm a ilusão que isso é conhecimento. É fácil ter a sensação de que se
conhece alguém muito bem. E, por isso, sofrem também muitas desilusões
facilmente (experiência de formadora, psicóloga e pessoa!) mas não sabem lidar
com as desilusões. Não estão equipados.
Faço este
caminho reflexivo agora na escrita, mas na altura lá, tudo me atacou em 15
minutos…até chegar a uma pergunta, de repente, que me invade: Como é que eles vão encontrar o amor?
Será mais fácil?
Deste ponto de vista, externo e pessoal, não sei…parece mais difícil.
Fiquei a pensar. Senti compaixão. Acho que é dificil ser um jovem à procura de amor nos dias de hoje.
Se todos nós ao
longo da vida (e desde sempre, desde toda a história humana!) tivemos momentos
de confundir amizade com amor, atração física com amor, carinho profundo com
amor, sexo com amor …será que para eles não estará mais dificultado? O Sexo
perfeitamente disponível e o consumismo facilmente instalado?
Um estudo, nos EUA, diziam que as Mulheres tiveramuma média de seis parceiros durante toda a sua vida. Para os homens, o número éde sete. Qual será o valor para a geração actual? E para Portugal? Nem
consigo estimar…e não encontrei estatísticas recentes…
Alguém, um
amigo, há muito tempo atrás, disse-me que as mulheres jovens são todas interesseiras.
Há alguma verdade nisto. Oferecer um telemóvel, uma noite, uma jantar umas
prendas, sempre confundiu a mente humana, sejam mulheres ou homens. É compreensível,
vemos nisso um sinal de afeto, apesar de qualquer humano “equipado”, percebe
que nisto poderá haver intenções ulteriores.
Portanto, entre
os tabus sexuais que foram ultrapassados nas últimas décadas e uma geração
marcada para tecnologia…será fácil para eles diferenciar onde está o amor?
Adicionando a
isto a vontade de viver a vida, aproveitar ao máximo, o que acontecerá?
Este viver a
vida é extremamente positivo e pela primeira vez na história, em muitas partes
do mundo, tornou-se possível! Controlamos doenças, vivemos mais, construímos,
temos comida, dinheiro, todos os confortos que outros séculos não tiveram!
Todos devem cultivar este instinto de viver a vida, ao invés de sobreviver. A minha questão não é essa, e
nem ponho isso em questão!
Mas se nós,
trintões, depois de tanta reflexão e experiência de vida, ainda nos enganamos, se
os quarentões e os cinquentões ainda procuram amor, a busca dos mais jovens não
estará adicionalmente dificultada?