Mais vale só do que mal acompanhado
Existem quatros tipos de formas de obtenção de conhecimento
humano: o Conhecimento do senso comum, o conhecimento filosófico, o
conhecimento religioso e mais recentemente o conhecimento científico.
Esta é uma das minhas primeiras aulas de Metodologia de
Investigação Científica.
Quando o método científico surge, não tem como objetivo
anular os outros.
O método científico é talvez o único que exige formação mais
avançada, apesar de todos os outros exigirem alguma.
O conhecimento filosófico baseia-se em racicionios lógicos,
silogismos etc.
O conhecimento religioso é dogmático, é o mais antigo, e
baseia-se em dogmas que as religões criaram.
O conhecimento do senso comum, baseia-se em observações e
experiências dos seres humanos ao longo de milhares de anos.
O Conhecimento científico, baseia-se em provas, obtidas
segundo um conjunto de técnicas e normas que os seres humanos desenvolveram.
Os provérbios populares são um dos grandes exemplos de
conhecimento científico.
Resumidos, exatos, sem grandes filosofias, deixam ao nosso
critério individual a vivência da vida, para que depois confirmemos se estão
adequados a nós ou não.
Este proverbio, “Mais vale só do que mal acompanhado” é
forte. É duro. Parece quase agressivo ao dizer.
Vamos suavizá-lo e enquadrá-lo nas nossas vidas.
O ser humano é um ser gregário, naturalmente, gosta e obtem
prazer de conviver com outros animais (racionais ou não-racionais).
É um ser afetivo (exceptuando casos patológicos que não
possuem afetos, como é o caso dos psicopatas), é um ser que gosta de partilhar
ideias e experiências com os outros seres (humanos ou não) e, ainda para mais
com o desenvolvimento do cortex cerebral, miraculoso e único no planeta, o ser
humano começou a ter prazer em trocar mentes, tocar outras mentes, estabelecer
relações mentais com outros seres humanos. Dsad
Tudo isto faz sentido. Porém, a sociedade atual
impulsiona-nos a manter contato com alguém continuamente.
Estar só por prazer de estar só é quase roçar a patologia.
E mesmo quando estamos só, temos telemóvel. A Nomofobia, a
nova patologia de dependência do telemóvel, acabou por vir piorar bastante esta
situação.
Podemos até estar sós fisicamente, mas estamos sempre em
contacto com outros.
Ao nível dos afetos, há situações onde isto se tem tornado
cada vez mais grave.
As pessoas sempre precisaram dos afetos dos outros,
principalmente dos outros humanos.
Mas, de alguma forma, a globalização, a tecnologia, a
abertura do mundo, gerou seres humanos que precisam de sentir o afeto dos
outros. Ou outros seres humanos já eram mesmo assim, no núcleo da sua
personalidade, e ainda não conseguiram ultrapassar isso.
Precisam de estar ligados, precisam de alimentar o ego,
precisam de sentir que está ali alguém, algures, à distância ou presencial, que
o admira, que flerta, que o faz sentir desejado, admirado, ouvido. Precisam de
alimentar uma rede de contactos.
E o foco desta análise é entre o “Precisar” e o “Querer”.
Façamos um exercicio. Estamos sós. Na nossa agradável
companhia. E de repente, dentro de nós, nasce uma necessidade, em segundos, de
ligar para alguém. Parem um segundo. Querem ligar porque querem conversar com a
pessoa, gostam dela ou PRECISAM de ligar-se com alguém? Se este ou esta não
atender, pode ser o próximo...é igual, qualuqer um/a serve? O que têm nao
chega, precisam de mais. Precisam de sentir que está ali alguém. E, por vezes,
precisamos de alguém, e isso é natural.
Ao refletir sobre esse provérbio, Mais vale só do que mal
acompanhado, é essa a minha reflexão.
Isto aplica-se a qualquer relacionamento, seja de amizade,
de amor ou de outro tipo.
No caso do amor, esse relacionamento deve preencher-nos. O
que não invalida que mantenhamos outros relacionamentos de amizade, pois são
necessários. Mas uns não se podem anular aos outros. No seu cariz, para ser
inteiros, integrais, completos, os relacionamentos devem estar cheios de
verdade e, por isso, sejam de que tipo forem, os relacionamentos devem se
entrecruzar, ter conhecimento uns dos outros.
Estar acompanhado com alguém que só está por estar, que não
faz questão absoluta de estar connosco, que não pensa “não há mais ninguém
neste momento com quem gostaria de estar”...será que vale a pena? O Povo diz
que não. E então, mais vale só.