Tenho tido tendência a começar muitos dos meus textos por "neste mundo fast...".
Realmente, parece o começo ideal ultimamente.
Ando tudo muito FAST, todos a correr, sem tempo, sem paz, sem parar.
Parar parece uma coisa do outro mundo.
Até a forma de falar das pessoas, e a velocidade como falam parece ter aumentado.
Será de mim? Estarei eu a abrandar e os outros a acelerar?
Por acaso, tenho mesmo a impressão que sim. Eu já atingi velocidades enormes na vida e agora abrandei, faço por isso, abrando, respiro, paro, penso antes de falar. Dou espaço, dou tempo, para não dizer algo precipitado, que possa magoar os outros.
No entanto, sou humana e isso pode acontecer-me também...
Há um Provérbio Chinês que diz "O vaso que quebra, a água que passa, a flecha que parte e a palavra proferida... não tem mais retorno".
O que distingue os seres humanos dos outros animais é o nosso cortex cerebral. Usamo-lo para tantas coisas, incluindo para o fabuloso mundo da fala e da escrita.
Será que não o podemos usar para ter cuidado nas palavras que proferimos aos outros?
A violência verbal e psicológica parece estar a aumentar. O que fazer? Talvez, mais uma vez, seja de mim, mas parece que toda a gente é adepta da frontalidade, da diretividade, mas com grosseria.
Como podemos conceber um mundo onde todos pensam antes de falar mas onde todos digam a verdade? Onde sejam autênticos consigo próprios e, em simultâneo, consigam transmitir tudo sem magoar o outro?
Dificil. É talvez um dos grandes desafios da especie humana.
Com as tecnologias parece que nos tornamos capazes de dizer tudo, parecemos corajosos. E, no entanto, escondemo-nos atrás de pedaços de plástico para não ver o outro, os seus olhos, o seu rosto, o seu comportamento não-verbal.
E quando o fazemos, cara a cara, ainda assim, parece ser difícil o controle, sentir que o outro está ali e que será magoado com a palavra proferida.
POr outro lado, outro provérbio diz "palavras leva-as o vento".
Pois... no nosso caso, humanos, a nossa capacidade de armazenamento de memória é tão enorme e tão passível de evolução, que as palavras ficam.
Muitos minorizam a importância das palavras. Mas, como já está mais do que abordado cientificamente, a relação pensamento -linguagem é profunda, e a narrativa que fazemos da vida representa-nos, expoe-nos, mesmo que não o queiramso (para saber mais, procurar terapias cognitivo-narrativas).
Cada palavra que escolhemos dizer (e escolhemos pode ser consciente ou inconsciente) a nós proprios ou a outros, representa o que pensamos, o momento em que a proferimos, a entoação ou o escudo do "foi na brincadeira", não tem qualquer valor. Ela representa-nos. Ela , a palavra, saiu de nós, da boca, do pensamento. É nossa. E foi em direção ao outro com uma flecha. Como uma pedra.
As palavras ficam gravadas. Depois, usamos o cérebro (emoções e razão à mistura) para decidir o que fazer em relação à palavra proferida por alguém.