A
intimidade é uma palavra que eu aprecio imenso. Esta semana, todo o universo se
alinhou para que eu refletisse sobre ela.
Passei
na minha prateleira, na minha mini-biblioteca (de livros, reais, em Papel!) e
lá estava o livro do OSHO, chamado exatamente “Intimidade”. Reli-o.
Numas
leituras científicas fui parar (como inevitalvelmente lá vou para muitas
vezes), à teoria do Desenvolvimento humano de Eric Erikson (para saber mais
visitar, por exemplo, o Blogue: http://psicod.blogspot.pt/2011/05/teoria-do-desenvolvimento-psicossocial.html).
E lá
estava a 6ª crise Do Erikson “Intimidade versus isolamento”. Na adultez, depois
da resolução do estádio 5 (por volta da adolescência) cuja crise a resolver é
“Identidade versus difusão da identidade”, passa a ser possível ao adulto com a
identidade bem definida, estar pronto a unir-se à identidade de outra pessoa,
sem que essa união o ameace como indivíduo.
Por entre diversas
leituras, dei por mim a querer escrever sobre a Intimidade.
A intimidade é mais
do que amor, é mais do que paixão, para mim, é o fim máximo da existência
humana.
Intimidade é
entregar-se, sem medo de nos perdermos a nós próprios. Como diz o OSHO, só é
possível haver intimidade quando estamos dispostos a abrirmo-nos ao risco. A
arriscarmos que o outro nao goste mais de nós, a arriscarmo-nos partilhar tudo
mesmo que o outro nos deixe, porque não pode haver APEGO na intimidade.
Por isso, na opinião
do OSHO (polémica para muitos, por certo!) o maior inimigo da intimidade é
o Casamento.
Na maioria das
sociedades inventou-se o casamento para tentar CONTRATUALIZAR o
incontratualizável. Tentamos contratualizar a intimidade. Mais do que o amor.
Não há mais nenhuma tentativa (que me lembre) que tentar contratualizar
sentimentos.
Um papel que nos
força a amar, auto-anula-se. O casamento veio forçar as pessoas a decidir sobre
o futuro, quando este não existe.
A intimidade
verdadeira só pode existir no presente. O passado e o futuro não existem. A
intimidade é querer partilhar todo o nosso eu com outra pessoa. Querer. Não
sentir medo, nao assinar contrato, QUERER. Todos os dias querer.
E quando não temos as
crises de Erikson bem resolvidas, isso torna-se difícil. Como diz o OSHO, em
primeiro lugar, logo à partida porque muitos seres humanos não se amam a si
próprios. Então, nunca poderão entrar em Intimidade, porque receiam que o
OUTRO, quando os conhecer verdadeiramente ...descubra quem ele/ela realmente
é... e se não nos amamos, obivamente, receamos que o outro também não nos ame.
Por muito que a
sociedade nos queira seres humanos estáveis e iguais todos os dias (o que é um
contrasenso, pois isso é um robot), nós mudamos todos os dias. A pessoa de
ontem não é a pessoa de hoje e não será a de manhã.
Intimidade é arriscar
amar hoje. E Hoje, arriscar partilhar quem somos e o QUE Mudamos e o que
vivemos HOJE...mesmo arriscando que a pessoa deixe de nos amar por causa disso.
E a pessoa pode continuar a amar a pessoa que fomos ontem, e deixar de amar a pessoa
que somos hoje. E isso acontece todos os dias e, claro, faz-nos sofrer.
Intimidade
é mais do que corpo, mente e espírito. Porque o Todo é mais do que a soma das
partes (Gestal Theory!).
Quando
usamos o corpo, duas pessoas têm atração física, é químico, são feromonas. É
Paixão pura.
Quando
nos ligamos a outro pela mente, temos um diálogo filosófico, intelectual (uma
amizade, por exemplo).
Quando
nos unimos pelos sentimentos, temos emoções platónicas, relações com amigos,
pais, filhos, etc. Gostamos, usando as emoções.
Quando
nos enamoramos (e vale a pena ler a respeito o fatástico “Enamoramento e Amor”,
do sociólogo Francesco Alberoni), o fenómeno do enamoramento pode ou não
conduzir ao amor.
E o amor,
para que realmente o seja, só chegará ao seu pico quando é atingida a
intimidade.
O ser
humano é o único ser que tem essa opção à sua disposição. Escolher a
imtimidade, a ligação total a outro ser pelo corpo, mente, espírito e
sentimentos.
O ser
humano desenvolveu cortex cerebral, ainda não sabemos bem como nem para quê
...mas eu tenho uma teoria!
Tudo o
que nós fizemos com o cortex cerebral foi para unir pessoas. Pontes, estradas,
edificios, telemoveis, pc’s, e agora as redes sociais.
Tudo para
UNIR o mundo, para que as pessoas estejam mais próximas. Porque o humano é um
animal gregário, e não eremita, e por isso, necessita de intimidade.
No
entanto, é fácil cair na atual ilusão de intimidade: tennho muitos amigos,
tenho 500 amigos no facebook, frequento muitos grupos, e todos gostam (?) de
mim!
A
intimidade nunca fará sentido ser atingida com 500 amigos. Só com um outro ser
humano. E eu acho que o grande desafio da espécie humana é esse: seremos
capazes de arriscar deixarmo-nos de parte (o EGO) e unirmo-nos a outro
incondicionalmente, HOJE, sem passado nem futuro?
Há uma
lenda antiga que diz que inicialmente havia um ser, hermafrodita, e que Deus
dividiu em dois: Homem e mulher. E espalhou-os pelo mundo. A grande tarefa
desses seres era reencontrar-se...e daí vem a noção de almas gémeas.
Demasiado
romântico? Talvez. Mas limando as arestas da teoria, o grande desafio é
encontrar o testo para a nossa panela, a porca para o nosso parafuso....e...
(wait for it...) mantê-la!
Mantê-la,
correndo o risco, todos os dias. Abrindo o nosso ser ao outro porque sim,
porque sabe bem que o outro nos conheça por dentro e por fora. E depois,
amanha, se a pessoa que ontem se abriu à outra pessoa se transformou na pessoa
de HOJE...veremos se conseguimos fazer com que a outra pessoa do HOJE continua
a enamorar-se de nós. Todos os dias. Todos os dias mudámos, e se a mudança
mudar a intimidade...mudou. Termina.
Correr o
risco é dificil, é duro, é exigente, dói, dói muito, acho que quase todos os
seres humanos sabem disso.
Mas se
nos deixarmos ficar na pessoa que fomos ontem, nunca atingiremos de novo a
intimidade. E poderemos então SOBREviver, uma vida segura, recatada, sem riscos
nem emoções, sem grande sofrimento ...
Agora, é
só escolher.
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