Quer vir até África?
Para quem possa não saber, no passado dia 25 de Maio comemorou-se o Dia de África. Um pouco por todo o mundo, cidadãos de origem africana celebraram as suas raízes.
Eu confesso que não sabia. Nunca tomei muita atenção a estas marcações de dias especiais para festejar algo em particular. Todos os dias são dias de festejar algo, quer alguém coloque cada coisa na lista ou não.
Pessoalmente, passei o dia de África, aqui … em África. Não participei em festejos especiais, mas reflicto especialmente hoje.
Para nós, europeus, África parece ter dois grandes significados ou duas grandes abordagens: a romântica e um desenvolvimental (para não dizer crescimental).
Há europeus que falam de África como se tivessem a filmar uma sequência do filme “Out of AFrica” (“África Minha”). Tudo é grande, tudo é espaço, tudo é respirar paz. A sensação de uma ligação autêntica com natureza renasce nessas pessoas, como se Portugal ou muitos outros países da Europa não tivessem também maravilhas da natureza, que muitas vezes ficam desertas todo o ano à espera de turistas. Dentro dos românticos, há também os exploradores, quer do todo-o-terreno quer das praias paradisíacas realmente desertas, sem pertencerem a nenhum dono, a nenhum Resort, sem reverterem para nenhum bolso.
Na Europa, muitos europeus esforçam-se por ter carros fantásticos, topo de gama e queixam-se de um mínimo buraco ou de algum risco no carro ou da má qualidade das estradas. África, parece ficar perdoada de tudo isto. Quando se entra num todo-o-terreno de um europeu em África, vê-se e sente-se o prazer que tem naqueles trambolhões da picada, no pó a voar por todo o lado, no desligar do carro pelas areias, no desviar da minas (se for o caso), na adrenalina constante de poder estar completamente isolado de tudo e a pisar uns centímetros de terreno que poderão não ser pisados há milhares de anos…
Destes românticos, alguns querem ficar em África. Outros querem ir e voltar, e matar saudades dessa abertura mental que este continente traz. Isto sem falar das pessoas, que nalguns sítios, principalmente tribais (KIMBO) ainda nos brindam com sorrisos tão abertos, tão sinceros que pensávamos que já não existiam. Outros ainda querem fazer safaris ou visitar parques naturais, ver leões e elefantes, estar com os amigos animais e sentir a sua própria calma e destressada animalidade.
Depois existem os desenvolvimentais ou crescimentais. Europeus que vêm África como um país em grande desenvolvimento e que querem fazer negócio a qualquer custo, pois as necessidades são tantas, que qualquer negócio parece conseguir florescer aqui. Não vale a pena grandes estudos nem complicações, tudo é necessário. Infelizmente, parece ser mais fácil implementar negócios nas áreas menos necessárias… A saúde continua a precisa de bastante investimento, quer em recursos materiais, mas principalmente humanos. A intervenção comunitária e social é urgente. A reciclagem não existe!!!
Mas cá vêm esses empreendedores explorar África. Não percam a ética. Não percam o foco. Sejam românticos e empreendedores. África, no geral, pode ser um continente muito rico (de facto até é, há imenso capital e imenso riqueza inexplorada), mas no final de contas, quem é afectado são os milhões de pobres, que vivem abaixo do limiar da pobreza (cerca de 1 dólar por dia…)
Há realmente alguma magia em África. Quando comecei a escrever este artigo, estava a pensar numa abordagem da Gestão, dos investimentos, da internacionalização das empresas…e olhem o que saiu!
A mensagem principal para os investidores é, invistam sem perder a ética. Sem perder de vista as consequências de determinado acto ou negócio. Ética e negócios não são incompatíveis. Comercializar coisas que geram necessidades para as quais as pessoas ainda não estão prontas, criará fossos de prioridades. É costume ver pessoas sem posses financeiras a tentar vencer na vida para ter “coisas”, para ter telemóveis, Jeep’s, internet. O sentimento de posse que os europeus românticos parecem conseguir atenuar quando vêm para África, acaba por ser importado para África por alguns europeus desenvolvimentais, que em busca do desenvolvimento das suas próprias empresas, não ponderam as consequências num nível global.
África, Europa, América são meras designações pragmáticas. Somos todos um. Já fomos a Pangeia e separamo-nos. Actualmente, estamos de novo juntos numa aldeia global ligadas por fios graças à magia da Electrónica e informática. Lembrem-se do famoso “efeito borboleta”. Um bater de asas de uma borboleta do outro lado do mundo, pode afectar todo o mundo. As relações internacionais entre todos os países afectam as economias, que afectam as políticas, que afectam as pessoas.
Se vem para África para descobrir quem é, pode vir. Vai-se descobrir, mas se não tiver atenção, vai-se perder de novo, porque as ideias vêm consigo, no arquivo da sua cabeça. África deixa-o guardar o arquivo durante umas semanas, mas depois você mais cedo ou mais tarde vai lá buscá-lo: só você o pode fazer e o mais provável é que vá fazê-lo.
Segundo alguns registos no passado dia 14 de Maio também se festejou o dia mundial das vocações. Se sente o apelo por passar algum tempo da sua vida em África, não resista mais. Venha. Pare de colocar um “mas” à frente de cada pensamento que surge na sua mente sobre este assunto. Simplesmente procure uma oportunidade, e venha. Não é magia que África tem, é paz, apesar de estar em guerra em tantos sítios. Tem a paz dos animais livres, das plantas das origens, do berço da humanidade, da natureza intacta, que nos transmite a energia que emana da terra e da qual já perdemos a noção sequer do que é, de tanto morar a metros e metros do chão...
Venha a África. Vemo-nos por aí.
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