Saturday, January 09, 2016

Os auto centrados - uma nova sub-espécie humana

Um novo tipo de pessoas apareceu. Um novo perfil psicológico.

Os Auto-centrados.

Talvez seja uma forma elegante de os chamar egoístas, pensam os leitores. Mas não, não é a mesma coisa.

Há umas décadas, alguém egoísta, era até, de certa forma, elegantemente estratégico. Pensava apenas em si, não queria saber dos sentimentos ou pensamentos dos outros, mas socialmente comportava-se de uma forma controlada, disfarçando -digamos- o seu egoísmo, já que este era mal visto pelos outros (ou pela maioria pelo menos).

Os auto-centrados não são necessariamente egoístas e, muitas vezes, nem estratégicos e definitivamente não são elegantes nem preocupados com o que os outros pensam.

Só pensam em si, só falam de si próprios e conseguem manter (será, que consegue?) a longo prazo, amizades que conseguem aturar esta atitude.

E são muitos, acreditem.

Basta fazer um pequeno teste.

Conviva com alguém cerca de UMA HORA. Deve chegar. Ouça a pessoa e faça perguntas, interessadamente claro (como eu pensei que toda a gente fazia!).

No final de uma hora, contabilize quantas vezes a outra pessoa (amigo ou potencial amigo) perguntou algo sobre si. Exemplos Básicos "E tu, o que achas?", "E tu, o que tens feito?", como anda a tua vida, achas que sim, conta-me lá a tua visão, etc etc.... qualquer coisa que se assemelhe a REAL INTERESSE pelo outro!!!!!!!!!!!

Parecia-me impossível existirem pessoas assim, Que não conseguem ver a vida pelos olhos dos outros. Que vivem os seus problemas tão profundamente como se não existissem outros seres humanos por aqui. Que não sabem o que está a acontecer à sua volta com os seus amigos, os seus irmãos, ou outros seres significativos.

Ser auto-centrado e cego para os outros dá origem, numa grande parte das vezes, a uma ira estranha. Uma certa agressividade negativa que advém, obviamente, da falta da abertura ao outro, da falta de afecto, e até da falta de afecto negativo da parte do outro, porque os auto-centrados combatem tudo e todos. Todos os outros estão errados. Todos são "más pessoas". Eles são os sofredores. Incapazes de viver o outro, sentir na pele a história de vida do outro, incapazes de um processo profundo a que Carl Rogers chamou de EMPATIA. 

Em+Pathos.

Colocar-se plenamente no lugar do outro. Ser capaz de viver o sofrimento (Pathos) do outro.

Selfless. 

Sair de si próprio. 

Ter o prazer e a oportunidade e ver o outro, estar nos olhos dele. Sair da nossa vida, única e insignificante, ainda que seja apenas por uns breves instantes. Ser capaz de deixar o nosso eu quietinho por um bocadinho e ir para o outro.

Os auto-centrados. Os ego-centrados. Vocês sabem quem eles são. Eles estão a crescer a toda a velocidade.

Um novo tipo de egoísmo, socialmente aceite, por alguns. 

E não pensem que tem que ver com a tecnologia, a globalizaçao. Talvez tudo relação mas não direta. A tecnologização não é panaceia para explicar todos os males. Os valores, a consciência e a vida coletiva em sociedade estão cá na mesma. Diferentes.

Só colocando umas lentes diferentes conseguiremos identificar esta nova sub-espécie humana.

Tenho alguns amigos (bem, "conhecidos") que ficaram assim.

Fecharam-se ao outro. OU já era assim e eu é que não via. 

Capazes de falar horas e horas sobre os seus problemas, as pessoas que lhe fizeram muito mal, os negócio que correram mal. Pessoas que começam muitas vezes frases por "Porque eu....", "Porque eu sou assim e....", "Porque comigo....o que acontece é isto e isto". 

Talvez seja funcional e altamente bem sucedido no mundo do trabalho e no mundo do "Gerar dinheiro" porque já não têm grande consciência social. CONSCIÊNCIA. Noção clara dos impactos que as nossas ações podem causar aos outros. Perderam-na. 

E o outro, o "Contigo", não surge. Não aparece na conversa. Nem uma pontinha ínfima de interesse sobre como o outro está. Que problemas estará a viver? Em que é que eu poderia ajudá-lo? 

Porque eles não possuem espaço mental para isso. Ocuparam-se com todo o seu eu. E, logo, nunca caberá um outro eu nas suas vidas.