Tuesday, January 25, 2011

As Algemas da Mente

Quando eu era pequena queria ser grande. Nunca fui daquelas pessoas que queriam desesperadamente chegar aos 18 anos, não, não é isso. É outra coisa. Queria ser livre. Queria que os adultos deixassem de tomar decisões por mim, deixassem de mandar em mim. E, aos meus olhos, ninguém mandava neles! Ser adulto ou ser grande era ser livre. Não ter de responder a ninguém, não ser influenciado, não ser ordenado.

Depois cresci. Não adiantou muito chegar aos 18 anos porque continuava a não ser livre. Não tinha o dinheiro que precisava ou a autonomia para o que queria fazer. Ser adulto não adiantou nada, mas , pensava eu, estava a chegar o dia.

Depois cresci ainda mais, aos 24 anos de idade comprei a minha casa e fui viver com uma pessoa. Aos 28 fui viver sozinha. Agora sim, era adulta. Realmente tomava as minhas decisões. E tornei-me perita a tomar decisões. Não sabia o que era “não saber decidir” ou não conseguir tomar um decisão. Ainda hoje não compreendo bem a indecisão nas pessoas …

Adiante. Tornei-me então adulta. Agora parecia que podia ser livre. Mas afinal, comecei a observar que os adultos não são nada livres, poucos tomam decisões que realmente querem. A maioria toma decisões em prol ou por causa dos outros ou coagido de alguma foram, seja por pressão dos pares, do cônjuge, da família ou pressão social no geral. Afinal os adultos não são livres. Ao crescerem, também cresceram os seus estereótipos, os seus preconceitos, ideias feitas que fazem com que eles não tomem as decisões que querem. 

E passam a vida inteira a correr…

Depois chega a altura de ter filhos, e os adultos querem que esses filhos sejam grandes rapidamente, exigem das crianças comportamentos de adultos e cada vez menos deixam as crianças brincar. Mas impõem as regras dos adultos, mandam nas crianças, e continuam a achar que eles é que são livres.

Afinal, no fundo, só a criança é livre. Porque apesar de ter normas externas rígidas impostas pelos adultas, a mente de uma criança e o seu estar natural é a liberdade. Os adultos libertam-se de algumas normas externas mas acorrentam-se a eles próprios em normas internas.

Por isso, tento a todo o custo me libertar dessas normas, a cada dia. E o Yoga ensinou-me a aceitar a vida como ela é, a evitar tomar tantas decisões, a evitar forçar o futuro, a tentar libertar-me das correntes da minha mente, mas principalmente das correntes sociais invisíveis que o adulto coloca a si próprio. Agora sei que me posso libertar das algemas da mente. E ser livre não tem qualquer relação com a idade ou estatuto, tem que ver com a mente. Para já, sou livre. Vou avançar na idade e chegar à velhice. Apesar de não querer chegar lá rapidamente, quero chegar lá livre. Mesmo que depois seja alvo de novo, das normas externas que me vão impor. Ser velho não permite muito liberdade. Mas se eu possuir a liberdade da mente, ninguém mais me acorrentará.

Gravidez…

Durante uma parte da nossa vida, os nossos pais andam sempre a trás de nós a tentar a todo o custo que não engravidemos (adolescência). Toda a preocupação da vida dos pais parece girar à volta disso, da sexualidade e da gravidez, quer para com rapazes quer para com raparigas.

A seguir, vem a parte da nossa vida que toda a gente à nossa volta acha que está na hora de engravidar? Como esperam que troquemos de ideia tão rapidamente? Dos 17/18 anos para os 25 temos de mudar o que internalizamos tão veementemente? Esta sociedade parece não compreender as pessoas que não querem ter filhos. Independentemente do motivo da pessoa, porque não compreendem? Porque não a deixaram simplesmente ter um “acidente de percurso” aos 18 anos? Agora pressionam que tem de ser rápido .

Depois, finalmente se toma a decisão de engravidar ou simplesmente acontece. Ou andamos anos a tentar engravidar. Andamos metade da nossa vida atrás dos filhos, a criá-los, a preocuparmos com eles. Esquecemo-nos de nós próprios.  

Mais tarde, ficamos 20 anos ou mais a evitar ter filhos de novo. Já chega. Já não queremos mais.

Chega o momento em que ficamos “sem filhos” de novo. O “ninho fica vazio”, e ficamos sozinhos. Como já há muitos anos nos esquecemos de nós próprios, não conseguimos lidar com isso porque já não sabemos quem somos.
Chega a velhice e voltamos a precisar dos filhos, para cuidar de nós, para nos ajudar a acabar a tarefa de viver. Voltamos a querer ter filhos. Desta vez, grandes, que cuidem de nós.
O maravilhoso ciclo da gravidez.

Thursday, January 13, 2011

Fão...um pequeno paraíso a morrer (ou quem sabe...a renascer)

Perfaz em 2011 cerca de 9 anos que escolhi a vila de Fão para viver (concelho de Esposende e distrito de Braga, para que não se recorda!)

Hoje passei numa rua na qual nunca havia passado, em tantas caminhadas pela Vila, e fiquei estupefacta, claro. Pensei que já conhecia tudo como a palma da minha mão…
Fão é uma terra linda. Entre o mar e o rio, por entre pequenas ruas onde mal cabemos se abrirmos bem os braços, encontramos uma paz e um ar tão puro que nos sentimos unos.
As minhas caminhadas usualmente ficam por Fão, porém de vez em quando vou até Ofir. Ofir é um lugar de Fão muito conhecido por ter a grande (no sentido de ser mesmo grande!) discoteca Pacha, e ter também o Bib Ofir (Bar Fiesta Cubana) e o actual Hotel Axis Ofir. É uma zona protegida, com passadiço que acompanha o rio. Vemos dezenas de famílias, casais e solitários a passear, a correr, a caminhar ou apenas a tomar um café em frente ao mar.
Principalmente ao fim de semana, a praia de Ofir enche-se gente. Há dias fui la na esperança de observar o mar, sozinha, a tomar um café. Acabei por observar casais de namorados, pessoas de fato de treino a jogar a bola na praia, famílias a correr pela areia…
Fão tem tudo o que é preciso. Por vezes, paro o carro e fico dias sem pegar nele. Vou as compras, vou ao instituto de estética, eventualmente ao cabeleireiro, quando preciso vou ao hospital, ao multibanco, à loja “dos chineses”, à papelaria comprar uma revista, tomar café ao café enquanto vou à internet graças ao wireless grátis, etc.
As pessoas de Fão são “fangueiras” ou faozenses. Têm uma melodia muito carcaracteristica no falar, e não sei se elas próprias se apercebem disso. São agradáveis e simpáticas. Encontro as pessoas que não conheço na rua e muitas ainda cumprimentam com “Bom dia”. Pessoas juntam-se em recantos da vila a conversar sobre a vida e suas dificuldades…
Junto ao rio, temos um circuito de manutenção física ao lado de um parque infantil. As crianças divertem-se e os pais aproveitam para fazer uma exerciciozito…
Quando vou caminhar junto ao rio, fico a olhar para os patos. Os de colarinho verde, os brancos, os laranjas. As gaivotas estão por lá como se elas é que estivessem a observar esses humanos estranhos. Hoje, um fotografo estava concentrado a fotografar toda azona do rio que é protegida.

Ocasionalmente, não vou caminhar na praia, mas sim no Pinhal de Ofir. Recolho as bolotas do pinheiro para trazer para casa e esmagar no almofariz e ficar com o cheiro de eucalipto dias a fio em casa. No pinhal de Ofir há vários condomínios onde eu gostava de morar. Sem abater arvores contruiram moradias fantásticas.
Existem mais planos de recuperação da zona marítima ou do rio, vejo placas sobre programas diversos. E desde que aqui moro, algumas coisas têm melhorado.
Vivo numa rua que há pouco mais de 5 anos era toda habitada. Agora só vejo casas a gritar por recuperação e placas de imobiliárias…
A minha mãe costuma chamar à minha casa, uma casinha de bonecas. Habituei-me à ideia. Tenho 3 pisos pequenos e um sótão delicioso com terraço, onde no verão apanho sol e faço Yoga.
No verão, Fão enche-se de pessoas que vêm passar férias. Mas durante todo o ano, o fim de semana está cheio de vida, cheio de carros que vêm de todo o lado buscar as deleitáveis clarinhas de fão! Esses doces de Chila viciantes. Ou então as outras imitações, os folhadinhos, almofadinhas, enfim, qualquer coisa de deleitável…
A anual Feira do marisco e da cerveja é um sucesso e recebe milhares de pessoas!
No inverno, é frio claro, mas os corredores do centro histórico protejem-nos de ventos indesejados. Às vezes saio a noite, as 23h ou mais, e dou uma caminhada rápida. Respiro fundo e vejo as estrelas.
Pois, mas Fão tem um pequeno problema. Parece estar a morrer. Parece que ninguém quer recuperar as casas. Casas simpáticas, com janelas românticas, escadarias interiores, azulejos lindos…
As ruas estão vazias e muitas das casas habitadas são já casas de ferias, apenas ocupadas 2 ou3 meses por ano…
Alguém quer viver para Fão? Fica mesmo ao lado de Viana, Povoa de Varzim, Via do Conde, Esposende, Barcelos, a 30 minutos de Braga e do Porto?
Bem…também se vier muita gente, Fão pode perder a sua magia.
Enfim, sinto-me bem em Fão. Como se tivesse tudo à mão, o melhor das tecnologias, excelentes lojas, etc. e ainda mais o bónus de uma paz que me deixa sossegada, um ar puro, e um certo estar “à moda antiga”, que nos leva às raízes da vida em comunidade…


Espero que seja essa a nova noção de cidade. É nessa que eu quero viver. Onde as pessoas se conhecem e se cumprimentam, mas têm internet, grátis, circuitos para actividade física, paisagens lindíssimos, zonas protegidas, enfim...venham ver por vocês próprios. Aqui, só faltam pessoas que valorizem isso e que decidam vir para cá viver...

Nota: Para ver fotos óptimas de Fão, visitem o Blog do Fotografo Alberto Ferreira
Vejam alguns exemplos abaixo...


Parabéns pelo excelente trabalho!






Thursday, January 06, 2011

Apreciem este Portugal

Esse Portugal fantástico...


Eu sei que todos estão concentrados nos grandes defeitos deste grande país que é Portugal.


Mas é sempre óptimo relembrar os pontos fortes...e são tantos!


Ao viajar na TAP, li na revista de bordo um artigo que adorei. Vou tentar colocá-lo aqui. No final de ler, tinha lágrimas nos olhos de tanto orgulho do meu país...acreditem...


Para já, deixo-vos com algumas fotos fantásticas, algumas tiradas na Povoa de Varzim, a minha terra. Uma foi tirada no Algarve. A catarata de água lindíssima é de Almeida, na Guarda.


As fotos são de Rui Araújo


Apreciem...






Saturday, January 01, 2011

Gosto do ir e do voltar...

Cá estou de volta à minha terra. Depois de 7 meses a milhares de kilómetros de distância. Depois de quase e dias em viagem, ou melhor, em trânsito. A TAP fez-me perder o voo de ligação então, tive3 de atravessar o país de autocarro. Há anos que não andava num Autopullman...
Foi a fazer esse percurso que me apercebi que adoro o ir e o voltar. Adoro chegar a Portugal com os olhos de quem esteve fora tanto tempo. E entristece-me profundamente o pessimismo em que Portugal se afundou. Quando chego, reconheço ainda mais, o fantástco país que temos, independentemente de passarmos por dificuldades.


Quando se fala da crise actual, lembro-me regularmente das palavras da minha avó, quando eu era pequena e fazia birras para não comer determinado jantar. "Quando eu tinha a tua idade, passavamos fome! Era só agua com batatas e couve". Eu ficava com um ar bem estranho, como se na minha cabeça, auqilo fosse impossivel.

Hoje sei que é possivel, mas ja toda a gente se esqueceu. Agora ficam frustrados por não ter um plasma. E as pessoas sentem uma enorme necessidade de trocar de telemóvel regularmente! E tudo tem de ser mais pequeno ainda (portateis, telemoveis, etc) ou o maior possivel (plasmas, caqsas, carros)  ou o mais potente possivel!!! O que é que aconteceu a aceitar o que temos? Toda a geração dos meus avós, e pais e até meus conterrâneos estao a fazer exactamente o contrário do que lhe foi ensinado! Porquê? A explicação é simples. O liberalismoe e capitalismo actual criou muito facilmente novos Desejos! Não necessidades, DESEJOS. Necessidade é muito diferente de desejo.

Por isso, gosto do ir e do voltar. Quando voltar a Angola, vou olhar para as gentes simples e apreciá-las. Vou olhar os ricos a esbanjar e vou ficar triste de novo. Quando voltar a Portugal, apreciarei a simpatia dos portugueses, a resiliência, e ficarei triste por ja não saberem o que é a necessidade ou o desejo...