Friday, June 06, 2008

OS 30


Mais uma vez, a chegada dos 30 anos atormentam-me. (Sei que não devo ser a única, pois encontrei a foto de um bolo!)

Não é pelos 30 em especial, talvez haja outras pessoas a passar por esta fase noutra idade.
Esta é a fase da GRANDE HESITAÇÃO.

A crise está instalada no país. Queremos agarrarmo-nos ao que temos, mas isso implicou colocar todos os sonhos e desejos em stand-by.
Depois, num dia em que nos lembramos quem éramos e o que queríamos, pensamos porque não fomos/vamos à conquistas desses sonhos?


A lógica e o raciocínio extremo tolhe-nos as emoções e acabamos por voltar ao terreno seguro e infeliz.
Há dias em que procuro encontrar a felicidade nesta vida que o universo preparou para mim, mas essa felicidade dura pouco.


Aos 30, temos talvez probabilidade de ter mais 20 anos de vida com plena qualidade, com força para fazer ainda muitas coisas, com clareza mental. Ou seja só temos menos de metade do tempo.
Depois dos 50, aí sim, precisamos do terreno confortável (claro que há excepções, há pessoas com esta idade que lutam e mudam o mundo e eu admiro-as, mas acho que eu própria nessa altura já não serei capaz).

Esta é a fase da hesitação, não queremos perder quem somos/fomos, mas o mundo quase que nos obriga a mudar, a parar, a aceitar.

A aceitação, e a auto-aceitação em particular, é outro dos princípios do yoga.
Relaciona-se também com a lei do menor esforço, ou a lei do mínimo atrito, já não sei como se diz, mas é um princípio da física ou da química, porém aplica-se perfeitamente à vida.
Não devemos bulir demais com as situações (gosto da palavra bulir!), e, se queremos mudar, devemos mudar primeiro o interior, e só depois o exterior mudará como consequência.
Lembrem-se sempre daquelas vezes que estão em baixo e decidem ir às compras. Compram algo novo e usam-no com orgulho. A auto-estima parece melhorar, sentimo-nos seguros e até felizes. Mas a força da mudança exterior dura pouco.


A peça começa a ficar gasta, já não tem “ar de nova”, fica coçada, e em breve precisaremos de mais uma dose para a ressaca. Para muita gente, há também a escalada na dependência. Já não chega uma coisita comprada nos saldos, tem de ser algo da marca XPTO, e depois da Massimo Duti, Armani, etc.

Tudo o que façamos que exija um grande esforço, não é natural, defende também a filosofia yóguica.


Se demasiados obstáculos aparecem, se nos sentimos tristes e deprimidos, se estamos infelizes, se os músculos faciais simplesmente começam a desaprender o sorriso, então algo não está certo. Algo não está a fluir naturalmente.

Já alguma vez pensaram naquela pessoa, que parecia fazer tudo mal (aos olhos estereotipados da sociedade), e ficaram furiosos porque no...final tudo lhe corre bem?

Aquela pessoa que, por exemplo, abandonou os estudos, mudou de emprego imensas vezes, tomou decisões completamente estúpidas (aos olhos da sociedade...) e depois acaba por estar mais feliz que vós? E muitas vezes tem uma situação de vida melhor que a vossa?
Aquela pessoa que era despreocupada, meia ingénua, que nunca corria atrás de nada?

E vós, que correstes, lutastes, fizestéis sacrifícios, continuais no mesmo sítio ...e provavelmente não muito felizes?

Todos nós temos uma pessoa dessas nas nossas vidas. Sorrimos, achamos-lhe piada, ou até agimos de forma maternal/paternal, tentando orientá-la e encaminhá-la pois achamos que está perdida. E, no final de tudo, será que não devíamos era aprender com ela?

Uma pessoa que considero o meu mentor, meu professor da faculdade, tomou um café comigo no outro dia.

Contei-lhe as minhas inquietações (nota: há uma música penso que do José Mário Branco, chamada “inquietações” que é fabulosa!) e ele recordou outros tempos em que me apelidou de aguerrida. Na altura, achei estranho o nome, mas até me enquadrei.


Agora afirma que “eu vou a todas” e tenho de parar de ir a todas. Simplesmente ficar, esperar. Mais uma vez, o yoga também diz isso, a questão da aceitação está sempre presente. Todavia, por outro lado disse também que uma pessoa deve agarrar, se é aquilo que realmente se quer, se não se está feliz.

Eu, que não me achava nada empreendedora, dou por mim a pensar que todo este esforço e dúvidas, todo o empenho do trabalho (por conta de outrem), podia ter sido no meu trabalho, no que eu queria, no meu próprio negócio...e a esta altura talvez já tivesse algo construído que me fizesse realmente feliz.

Nesta fase dos 30, da hesitação, como ter coragem para dar o salto? Para sair da zona de conforto? Para desligar todas as influências sociais que nos dizem para ficar quietinho e aceitar que a felicidade é só um minutinho por dia?

Mudo ou não mudo? Busco aquilo que quero ou fico quietinha?

Aceita-se conselhos.

O Desfile do Ego


Há semanas aconteceu algo que julgava impossível de acontecer nos dias de hoje.
Tive de contactar uma pessoa, a quem chamarei Eng.XPTO.


Falei o que precisava com esse Eng. XPTO e tudo parecia resolvido. Ele não me tratou por Dra.xpto, eu não disse nada, claro.


Passado uns dias, o seu secretario, envia um email, afirmando que eu não devia tratar pessoas com títulos superiores por Eng., uma vez que o tal eng.xpto possuía já doutoramento e dava aulas também numa faculdade e, logo, eu deveria tratá-lo por Prof. Doutor XPTO, e não ter feito isso era uma grande falta de respeito e educação da minha parte.


Nem imagino com cara devo ter ficado. Pensava mesmo que isto eram atitudes do tempo da minha avó, em que poucos eram doutores ou engenheiros, e o título era mais importante do que tudo o resto.


Foi então que nessa semana fiquei mais atenta para o ego.
No yoga, o ego, a individualidade, é a primeira coisa que devemos perder.
Sabem aqueles dias que recebemos um enorme elogio, e parece que tudo dentro de nós sorri? Isso é o ego. E naqueles dias em que algo corre mal e somos insultados e queremos reagir e partir tudo? Isso também é o ego.
No senso comum, chamamos a alguém “grande ego” quando essa pessoa puxa de galões, acha-se o maior.


Mas esta situação ainda é mais estúpida porque ficamos sem saber se o eng xpto é um grande ego, ou se o secretario é um estúpido adorador de egos, ou se o eng. Expto é um grande ego que não se assume e usa marionetas para dourar o seu grande ego.

Passado uns dias assisti a uma perfeita cerimónia do ego. Num mundo com pessoas à fome, num país como Portugal com tantas problemáticas para resolver, e os egos lá desfilava sem contribuir em nada para um mundo melhor, só usando os seus títulos, desfilando em vestes simbólicas, como deuses num Olimpo inventado pelos homens (e talvez pelas mulheres também).

Quando é que passamos a barreira em que ser chamado por doutor ou engenheiro é mais importante do que ser chamado pelo nome próprio?
Será que ao receber esse titulo algumas pessoas sofrem um renascimento?
Renascem para o “dark sid of the force”?

Demorei dois anos a entrar para a faculdade.
Entretanto, trabalhei. Lembro-me de acontecer algo parecido com este epiosido. Corria o ano de 1996, há mais de 10 anos atrás.
Num atendimento, uma senhora com cerca de 60 anos dirigiu-se a mim. Atendi-a como sr. Fulana, e ela, em segundos de imediato me corrigiu “é Dra.fulana”.
Como uma jovem a querer entrar para a faculdade, fiquei confusa com a atitude. Alguém, culto, educado, como poderia fazer aquilo?


Logo conclui, como defesa da minha própria auto-estima, que se tratava de uma mulher que, no tempo dela, devia ser das poucas com um curso superior, e que aquilo teria então provocado o tal renascimento. Coitada.

Respeito e educação, conquistam-se. Não são adquiridos por um título qualquer. Seja esse título pai, mãe, irmã, marido, doutor ou engenheiro(a).

Hoje, possuo o título de "doutora"(licenciada). Quase o de mestre. E já frequentei o doutoramento. Não sou perfeita, por isso, peço ao universo para nunca me deixar cair nessas artimanhas do ego.

Monday, June 02, 2008

Mais uma vez...um jornal insulta psicólogos/as

Em resposta à recente crónica de Carla Hilário Quevedo, publicada no Jornal Meia Hora, hoje dia 02 de Junho de 2008, inseri um comentário no seguinte blog: http://jazza-memuito.blogs.sapo.pt, pertencente à cronista em causa (a noticia concreta tem como Headline "Astrólogos e Videntes" e está em http://jazza-memuito.blogs.sapo.pt/246668.html?view=298124#t298124.


Convido todos/as a visitarem. A polémica advém do facto da cronista denegrir a profissão de psicólogo, colocando-a no meio da polémica em volta do Prof. Bamboo...

Aproveito para deixar aqui meu comentário, para que nunca seja retirado ou esquecido.

Entristece-me ser tratada desta forma, e apelo a todos/as os/as colegas de profissão (e outros/as simpatizantes), que se manifestem. Nem que lentamente, ou ocasionalmente, não deixem de erguer as vossas vozes.

Eu sei que a nossa profissão é valorizada e querida por muitos serviços, pessoas e empresas. Eu sei que já ajudei muito a sociedade em geral, em vários sentidos. É muito mau, que me coloquem ao nível de oráculos, sem ofensa. Oráculos são oráculos. Eu estudei quase 20 anos para me tornar profissional de Psicologia.

Abraço a todos/as.

De Patricia Araujo a 02 de Junho de 2008 às 13:09
Exma. Sra.:


Muito me entristece que misture actividades de oráculo, altamente suspeitas, com actividades profissionais devidamente regulamentadas e com código deontológico (aliás, reformulado e assinado em cerimónia publica no passado 31 de Maio, com actualizações negociadas com diversas instituições europeias).

Talvez quando se referiu a psicólogos, quisesse referir os que se intitulam "parapsicólogos", ou ciências paranormais. Para ser psicólogo(a), uma pessoa tem de obter uma licenciatura, (actualmente até com Bolonha os novos/as alunos/as têm de ter o Mestrado Integrado em Psicologia.Somos profissionais, trabalhadores e emprenhados, reconhecidos pelo Ministério da Educação, pelo Ministério do Trabalho e pelo Ministério da Ciência e Ensino superior, e é muito triste que se misturem as coisas de ânimo leve.Por outro lado, dou-lhe algum benefício da dúvida, pois talvez saiba da existência de pessoas que se auto-apresentam como psicólogos e não têm qualquer habilitação para tal, e sendo assim, agradeço que faça a respectiva denúncia da situação ao SNP, mas que numa notícia pública apresente a situação claramente.

Para outros esclarecimentos, consulte a página do SNP- Sindicato Nacional dos Psicólogos.Só ficaria bem ao Meia-hora, pedir desculpa por esta miscelânea e insulto, e irei para às autoridades esse direito (direito de resposta, penso eu).Boa tarde.

Patrícia Araújo(licenciada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto)